_
_
_
_
_

Super Bowl coroa Tom Brady como um dos melhores de todos os tempos

New England Patriots derrota Seattle Seahawks em final decidida no último minuto Brady se iguala a Joe Montana em títulos e supera seu recorde de passes de touchdown

Pablo Ximénez de Sandoval
Brady, quarterback dos Patriots, ergue o troféu Vince Lombardi.
Brady, quarterback dos Patriots, ergue o troféu Vince Lombardi.C. P. (AFP)

Numa das maiores viradas da história do Super Bowl, em partida de infartar, o New England Patriots conseguiu neste domingo seu quarto título na NFL, frente ao Seattle Seahawks (28-24). Foi também o quarto título de seu quarterback, Tom Brady, jogador que tem marcado época na última década e que com esta vitória se iguala a seu ídolo de criança, Joe Montana, o quarterback que dominou os anos oitenta. Brady, no final de sua carreira, aos 37 anos, entrou oficialmente no domingo no Olimpo dos maiores da história do futebol americano com uma atuação memorável, em jogo que será lembrado por um só passe, no último minuto de jogo e a apenas uma jarda (pouco mais de 90 cm) do gol. O passe que o Seattle errou.

Até domingo, Brady era reconhecido como quarterback versátil e a maior estrela da NFL. É admirado pela velocidade com que alonga a vista e arma o braço para disparar os passes mais precisos da liga, nos décimos de segundo que demoram a chegar para derrubá-lo os três sujeitos de mais de 100 quilos. Mas também tem a força para, com a bola embaixo do braço, enfrentar aos empurrões a defesa, quando necessário. Além disso, é bonito e simpático e é casado com Gisele Bündchen, a maior top model da atualidade. O tipo de jogador magnético que faz com que tudo gire ao seu redor. No domingo ganhou seu terceiro troféu de MVP (jogador mais valioso) e bateu, com 13, o recorde antes detido por Montana de passes diretos a gol (para touchdown) em partidas do Super Bowl.

Durante boa parte da final a história poderia ter sido diferente

Durante boa parte da final a história poderia ter sido diferente. A de uma equipe, o Seattle Seahawks, que depois de arrasar na final do ano passado, pretendia inaugurar sua própria era frente a 72.000 espectadores no gigantesco estádio coberto da Universidade do Arizona, em Glendale, Phoenix, e a uma audiência estimada em mais de 100 milhões de pessoas nos Estados Unidos.

Um primeiro quarto (tempo) de jogo de puro ensaio deu lugar ao melhor das duas equipes. No segundo tempo, Brady começou a encaixar um passe atrás do outro, e o Patriots avançava a grande velocidade pelo campo. A defesa do Seattle parecia ter sérias dificuldades para alcançá-lo a tempo ou interceptar os receptores. O primeiro touchdown veio para o Patriots, com passe de Brady. Seattle respondeu com outro touchdown completamente diferente, conseguido por Marshawn Lynch, um dos melhores running backs da liga, à base do puro empurrão.

Katy Perry, durante o espetáculo na final do Super Bowl.
Katy Perry, durante o espetáculo na final do Super Bowl.Christopher Polk (AFP)

No final do segundo tempo aconteceu um desses momentos que definem o esporte e tornam quase impossível tirar os olhos da TV. Outro ataque demolidor do Patriots. Um passe, outro passe, até percorrer 80% do campo em oito jogadas sem que o Seattle desse a impressão de pelo menos poder diminuir o ritmo de Brady e de seus receptores. O segundo touchdown do Patriots chegou com um passe final de Brady para Rob Gronkowski. 14-7, a 30 segundos do intervalo.

Mas nesse meio minuto o Seattle lutou de maneira que ninguém esperava. O quarterback Russell Wilson, de 26 anos, baixinho para o esporte (1,80 m de altura, contra 1,93 de Brady e 1,96 de Peyton Manning, quarterback do Broncos de Denver), com sua reconhecida habilidade para achar o momento e o espaço aberto para avançar com a bola, para resolver sozinho jogadas complicadas enquanto a poderosa defesa do Seahawks anula os adversários. Seu repertório de jogadas foi muito grande neste domingo. A 6 segundos do intervalo, com 10 jardas pela frente, Wilson lançou a bola para Chris Mattews depois da linha de touchdown. A calma se apagou do rosto de Brady no banco. Empate no intervalo, uma raridade no Super Bowl.

A entrada de Katy Perry no estádio, montada num leão dourado, um assombroso jogo visual com o solo sob seus pés, e o dueto com Lenny Kravitz de cara levaram entretenimento à audiência. Mas não a distraíram do que tinha acabado de acontecer no campo. Depois do intervalo começaria uma nova partida, e o clima já não estava para o Patriots. O terceiro tempo confirmou essa sensação, e o Seahawks, com um field goal e outro touchdown, fez 14-24. Nesse momento, os algoritmos de previsão desse esporte tão tecnológico davam ao time probabilidade de vitória de 90%.

Malcolm Butler foi o herói. Tom Brady, a lenda

Foi então que surgiu Brady em sua maior forma. O Patriots avançou em campo a toda velocidade, passe atrás de passe. Brady pôde até cometer dois erros incompreensíveis. A dois minutos do final, ele, que já é o melhor quarterback das duas últimas décadas, tinha conseguido uma virada de 14 pontos, até deixar o placar em 28 a 24, impensável pouco antes. Mesmo a dois minutos do final, a última palavra ainda não tinha sido dada.

O jogo chegou ao que no futebol americano pode haver de mais parecido com um photo finish no atletismo ou um sprint no ciclismo. Posse de bola do Seahawks, só uma jarda até o gol e menos de um minuto restante. Nesse momento, para espanto de muitos, o Seattle resolveu fazer o contrário do que tinha funcionado para o time durante toda a partida. Em vez de correr com a bola, ou de entregá-la a Lynch para atropelar todos que encontrasse pela frente, Wilson decidiu passar a bola. Esse passe converteu Malcolm Butler, jogador da segunda linha, no herói do New England ao interceptar a bola e impedir o touchdown, assegurando a vitória do Patriots. Em toda a liga nunca havia sido interceptado um passe a uma jarda do gol. Wilson ficará anos explicando essa jogada. Butler foi o herói. Brady, a lenda.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_