Na roupa e na arma de Alberto Nisman, só aparece seu próprio DNA

Últimos exames divulgados não mostram indícios de terceiros no corpo do promotor

Buenos Aires -
Promotora Viviana Fein saindo da casa de Nisman em 27 de janeiro.STR (AFP)

Apesar de todo o ruído provocado pela morte do promotor Alberto Nisman; apesar de todas as acusações sem provas feitas pela própria presidenta, Cristina Kirchner; apesar das irregularidades, negligências e fatos absurdos revelados pelo caso, os testes de laboratório realizados até agora levam silenciosamente à tese de suicídio. Se a autópsia indicou que terceiros não estariam envolvidos em sua morte, os testes divulgados na sexta-feira pela promotora Viviana Fein reforçam essa hipótese.

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A análise do DNA sobre a camiseta, a bermuda, a pistola, o carregador, os cartuchos e cápsulas recolhidos no lugar onde Nisman foi encontrado morto coincide com o do próprio promotor. E os testes não indicaram a presença de DNA de terceiros. Os exames foram realizados em 19 de janeiro e os resultados divulgados nesta sexta-feira pela promotora em seu quinto comunicado desde a morte de Nisman.

Embora os testes realizados em laboratório indiquem suicídio, a juíza e a promotora continuarão investigando todas as possibilidades, sem descartar a hipótese de que o promotor tenha se matado. E à medida que as investigações avançam vão sendo reveladas irregularidades e deficiências na proteção de Nisman. Em seu comunicado, por exemplo, a promotora disse que as escadas do edifício onde Nisman morava não têm câmeras e que as do elevador de serviço não estavam funcionando.

O relatório da promotora foi divulgado horas depois de um pronunciamento de Kirchner em rede nacional, isto é, com a obrigação de ser transmitido em todos os canais públicos e privados de rádio e televisão. A justificativa para o anúncio era de cunho econômico. Mas Kirchner aproveitou para criticar, mais uma vez, o profissional de informática Diego Lagomarsino, que emprestou a arma de onde saiu a bala que acabou com a vida do promotor. Desde seu primeiro texto, divulgado no Facebook em 19 de janeiro, Kirchner fez alusão a Lagomarsino sem citar seu nome, e estranhava o fato de que tivesse deixado uma arma com o promotor para sua defesa. No segundo texto, Kirchner mencionou o nome e sobrenome do profissional de tecnologia da informação, disse que era um “colaborador próximo” de Nisman, que seu caso era muito “estranho” e destacou que deveria receber proteção. Em seu primeiro pronunciamento na TV, a crítica se tornou uma espécie de linchamento. Mencionou seu sobrenome cinco vezes, disse que era “amigo íntimo” do promotor, falou da “profunda confiança” de Nisman, mencionou novamente sua “amizade íntima” e uma vez mais a “profunda confiança”.

Disse que seu irmão é “um importante executivo das empresas vinculadas ao Grupo Clarín”, fato que o Clarín desmentiu. Acrescentou que Lagomarsino começou a tirar seu passaporte em 14 de janeiro, dia em que Nisman apresentou sua denúncia. O advogado de Lagomarsino desmentiu a informação com facilidade: o passaporte começou a ser processado muito antes e sua visita foi agendada para aquele dia.

Em seu pronunciamento na sexta-feira, Kirchner fez referência a um tuíte escrito por Lagomarsino em 8 de setembro. A presidenta não reproduziu as palavras exatas do tuíte, que foram estas: “Devido a certos acontecimentos de hoje, tenho vontade de dizer: ‘Kretina, andate a la concha’ [vá cuidar da vagina] de tua putíssima mãe, filha da puta! Amém”.

Kirchner recebeu várias críticas desde que o cadáver de Nisman foi encontrado. Em muitas delas, a oposição a acusa de ter emitido opiniões sobre o caso sem provas nem fundamento. E de ter evitado mencionar qualquer responsabilidade sobre as supostas irregularidades cometidas pelo serviço secreto que ela mesma critica agora. No entanto, no discurso de sexta-feira se apoiou na liberdade de expressão para continuar emitindo opiniões sobre o caso.

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