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Gregos sacam dinheiro dos bancos por medo de bloqueio das contas

A Bolsa do país afunda 9,24% e a dívida do país é atingida após formação do novo Governo

Amanda Mars
Imagem da Bolsa de Atenas.
Imagem da Bolsa de Atenas.EFE/Arxiu

Antes mesmo de se sentar para renegociar as condições de seu resgate, como é sua intenção, o Executivo de Alexis Tsipras provavelmente terá que enfrentar uma crise ainda mais grave. Os bancos gregos estão sofrendo uma fuga de depósito maior inclusive que as vividas pelas entidades no pior da crise da dívida europeia em 2012, o que coloca em risco a liquidez do sistema.

Os dados não deixam lugar a dúvidas. Em dezembro passado, os cidadãos gregos retiraram 3 bilhões de euros (8,7 bilhões de reais) em depósitos, uma cifra que disparou até os 11 bilhões (32 bilhões de reais) este ano, dado ainda provisório. Segundo a Bloomberg, a retirada de fundos dos bancos entre os dias 19 e 23 de janeiro “foi inclusive maior que a sofrida no país em maio de 2012”, quando se especulava com a saída da Grécia do euro. Frente a situações similares, os Governos de outros países optaram por implementar restrições de movimentos de capital, o que é conhecido como “corralito” financeiro.

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Em novembro passado, o sistema financeiro tinha 164 bilhões de euros em depósitos. Isso significa que entre dezembro e janeiro, os bancos gregos perderam 8,5% do total de seus fundos, abaixo dos piores níveis registrados em 2012, de 151 bilhões.

Os especialistas acreditam que 70% do dinheiro retirado fica guardado debaixo do colchão.

“A fuga de depósitos reflete o temor a um imposto sobre os depósitos e controles de capital como os implantados em Chipre”, afirmam os analistas do Citigroup, que esta semana mandou uma equipe ao país, enviando um relatório diário da situação a seus clientes. Segundo estes especialistas, no entanto, não parece existir temor entre os clientes de uma saída da Grécia do euro.

A tese do medo de um “corralito” financeiro, mas sem abandonar a união monetária seria confirmada pelo destino que os gregos dão ao dinheiro que tiram dos bancos. Segundo o JP Morgan, a maioria guarda debaixo do colchão, já que as notas em circulação no país aumentaram “significativamente” em dezembro, chegando a 2,2 bilhões de euros. “Isso sugere que 70% dos depósitos retirados vão parar debaixo do colchão”, afirma o banco em uma nota. Tampouco falta quem esteja tirando seu dinheiro do país. Por exemplo as compras de fundos monetários com sede em Luxemburgo se aceleraram esta semana, um indicador de referência segundo o JP Morgan, chegando a 206 milhões de euros, contra os 91 milhões da semana anterior ou os 107 milhões registrados em todo o mês de dezembro.

Bolsa despenca

O castigo dos mercados à Grécia piorou na quarta-feira, depois de formado o novo Executivo do país e depois do discurso de seu líder, Alexis Tsipras, na primeira reunião do Conselho do Governo. A Bolsa de Atenas desabou – fechou com perdas de 9,24% – e a dívida queima nas mãos dos investidores. Os quatro principais bancos gregos perderam, na quarta-feira, 25% do valor na Bolsa, enquanto o prêmio de risco sofreu um ascenso meteórico e, na hora do fechamento do mercado grego, disparava até os 1.026 pontos básicos.

No final de um dia turbulento, o Piraeus Bank perdeu quase 29%, o Alpha, 26%, enquanto que o National Bank e o Eurobank ao redor de 25% cada um. Também sofreram forte perdas as empresas elétricas, pois a privatização destas companhias será parada, como anunciou o ministro de Reconstrução Produtiva, Meio-Ambiente e Energia, Panayiotis Lafazanis.

Tsipras fixou como prioridade a crise humanitária que a Grécia sofre depois de cinco anos de austeridade e cortes, a reativação e a criação do emprego, a reestruturação da dívida “com os sócios para uma solução que beneficie todo mundo”.

Os mercados não gostaram nem da música nem da letra desse discurso. Os investidores já estavam desanimados desde a segunda-feira – primeiro dia da atividade depois das eleições – na Grécia, apesar de que o resto dos ativos da zona do euro também passou por problemas mais moderado entre terça e quarta-feira.

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