Brasil teve o maior rombo nas contas externas dos últimos 13 anos em 2014

Gastos brasileiros superaram as receitas em moeda estrangeira em 90,9 bilhões de dólares Investimento Estrangeiro Direto recua em relação a 2013 e não cobre déficit externo

Gastos dos brasileiros em países estrangeiros, como os EUA, bateram recorde no ano passado.Kelsen Fernandes (Fotos Públicas)

O Brasil registrou um rombo recorde nas contas externas do país em 2014. A diferença entre as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo ficou em 90,9 bilhões de dólares, o equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo informações divulgadas pelo Banco Central nesta sexta-feira.

O saldo negativo das chamadas transações correntes ficou 12,1% acima do déficit de 2013 e foi o pior desempenho desde 2001.Também superou o valor estimado pelo BC, que esperava uma diferença de 86,2 bilhões de dólares. Para 2015, a estimativa da autoridade monetária é de déficit em 3,8% nas transações do país com o exterior.

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De acordo com o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, o resultado foi influenciado pela balança comercial, que ficou no vermelho no ano passado e registrou saldo negativos de 3,8 bilhões de dólares. "O déficit de 2015 deve diminuir devido à melhora da balança comercial", afirmou. Segundo o economista, a maior parte do baque na balança comercial foi motivada pela queda nos preços das commodities, sobretudo das agrícolas — açúcar de cana, milho e soja, por exemplo. A diminuição da quantidade exportada também teve impacto.

Para o professor de economia do Ibmec Felipe Leroy, enquanto o país não pensar em diversificar a pauta de exportação e diminuir a dependência das commodities, esse quadro não vai mudar, o que pode ser preocupante para a economia. "O Brasil historicamente sempre utilizou o superávit para amortizar os juros da dívida e agora nem isso estamos alcançando", afirma Leroy.

Investimento Estrangeiro Direto

O Investimento Estrangeiro Direto (IED), considerado de melhor qualidade por ampliar a capacidade produtiva do país, não foi suficiente outra vez para financiar o déficit. De acordo com o BC, no ano passado, o IED somou 62,5 bilhões de dólares, uma redução de 2,3% comparativamente ao resultado do ano interior. O BC esperava 63 bilhões de dólares. Para este ano, a expectativa é que ingressem 65 bilhões de dólares, que também será inferior ao déficit.

Na opinião do professor de economia da FGV Antônio Carlos Gonçalves, em um panorama de desaceleração econômico e com uma crise energética chegando ao país, o investidor não vê motivos para apostar no Brasil. "Quem irá investir em um país com problemas de energia? O primeiro semestre deste ano será o pior de todos. O investidor avalia o risco-país e essa incerteza acaba promovendo uma fuga de capital", explica. No entanto, Gonçalves acredita que com a mudança da equipe econômica do governo de Dilma Rousseff, liderada pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, há uma tendência de melhora no segundo semestre.

Viagens

Mesmo com o dólar em alta, os gastos de brasileiros no exterior passaram de 24,9 bilhões de dólares, em 2013, para 25,6 bilhões, em 2014, crescimento de 2,48%. A conta de viagens internacionais apresentou déficit de 18,6 bilhões de dólares no ano passado, cifra também recorde.

As despesas dos brasileiros em viagens ao exterior ultrapassaram o que os turistas estrangeiros deixaram no Brasil em US$ 18,7 bilhões no ano passado, segundo os dados do BV.

De acordo com a autoridade monetária, nem mesmo a Copa do Mundo incentivou as receitas do Brasil com o turismo internacional. No ano, os ganhos subiram apenas US$ 210 milhões em relação a 2013. O país recebeu US$ 6,9 bilhões. No ano anterior, ganhou US$ 6,7 bilhões

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