‘Tarifaço’ e Natal fraco prenunciam 2015 de ajustes
Prefeitura e governo de São Paulo anunciam aumento das passagens. Táxi também sobe

A mais recente tentativa de aumentar as tarifas de transporte em São Paulo, em 2013, foi o estopim da maior mobilização popular no país em 20 anos. Por isso não causa surpresa que os governos federal, do Estado de São Paulo e a prefeitura da maior cidade do país tenham escolhido esta sexta-feira de calor, ressaca do Natal e preparativos do Ano Novo para anunciar aumentos nos serviços de ônibus, trens, metrô e energia elétrica. O táxi na capital paulista também vai subir.
Em mensagem à Câmara Municipal, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), comunicou o aumento das tarifas de ônibus de 3 reais para 3,50 reais a partir de 6 de janeiro. O bilhete integrado de trem e metrô vai para 5,45 reais. Não haverá reajuste para quem usa Bilhete Único mensal, diário ou semanal.
Também reflexo dos protestos do ano passado, o anúncio foi embalado com medidas pró-estudantes. Um quadrinho publicado na página do Facebook na prefeitura avisa que o aumento é abaixo da inflação do período e que meio milhão de estudantes da rede pública (do ensino fundamental e médio) terão “passe livre”. Os universitários recebedores dos programas ProUni e Fies (financiamento do ensino superior) ou parte de cotas sociais e raciais também não pagarão.
Mais cedo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), confirmou que as tarifas do metrô e do trem, sob responsabilidade estadual, também aumentarão, mas não precisou valores. No mesmo comunicado sobre os ônibus, a prefeitura aproveitou para dizer que a bandeirada do táxi subirá de 4,10 reais para 4,50 reais.
O Movimento Passe Livre, que prega a extinção da tarifa de transporte e ator central nas manifestações de 2013, usou um documento divulgado por eles em 19 de dezembro para anunciar que vão se mobilizar – resta ver que força terão, em janeiro:
“Talvez a Prefeitura imagine que o passe livre para estudantes de baixa renda sirva para desmobilizar a luta. Então se engana. A luta por transporte não se restringe a uma ou outra categoria”, escreveu o movimento, para quem a tarifa zero para estudante de baixa renda é positiva, mas insuficiente. "Não aceitaremos nenhum centavo a mais; agora é de R$ 3 para baixo, até zerar!"
Luz e Natal
A sexta também foi de aumento na conta luz. A agência reguladora do setor, Aneel, anunciou que começará a valer o sistema de bandeiras tarifárias, verde, amarela e vermelha. Quando a geração de energia se tornar mais cara, esse custo será repassado ao consumidor.
No quadro atual, a seca provoca a menor produtividade das hidrelétricas e o sistema é obrigado a acionar termelétricas, de operação mais cara. Daí que todos os Estados do país, com exceção do Amazonas, Amapá e Roraima, que não participam do sistema interligado, entrarão na bandeira vermelha em janeiro. Por cada 100 kWh utilizado, o consumidor pagará 3 reais a mais. Se fosse a bandeira amarela, o aumento seria de 1,50 reais. No caso de bandeira verde, de custos de geração normais, não haveria acréscimo.
O aumento nas tarifas sob o controle do governo federal confirmam os prognósticos de analistas que descreviam ano com ajustes de preços represados. A pesquisa Focus do Banco Central, que ouve analistas do mercado, previu pela primeira vez nesta semana que a inflação no ano que vem será maior que o teto da meta fixada pelo governo: 6,54% anuais contra 6,50%.
Para completar a sexta de maus prenúncios, o serviço de crédito Serasa Experian anunciou que as vendas de Natal foram as piores desde 2003. Caíram 1,7% em todo o país entre 18 a 24 de dezembro se comparado ao mesmo de 2013. Inflação e baixo grau de confiança dos consumidores na economia afetaram a performance.