_
_
_
_
_

Empreiteiras do caso Petrobras demitem e tentam vender ativos

Construtoras suspeitas de pagar propina vivem pesadelo e algumas delas podem quebrar

Obra de fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas.
Obra de fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas.Divulgação / PAC

Foi por meio de uma mensagem de celular que o metalúrgico Marcos soube que tinha perdido seu emprego. Até novembro ele era um dos 1.000 trabalhadores em uma obra da Petrobras em Charqueadas, no Rio Grande do Sul. Em outra empreitada, em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, ocorreu algo semelhante com um grupo de 6.000 funcionários que atuavam em mais uma obra da estatal. Eles foram dispensados entre abril e novembro, mês em que houve a suspensão unilateral do contrato de trabalho quando restavam apenas 18% para o término da fábrica de fertilizantes que construíam. Nos dois casos, além de as obras terem sido contratadas pela mesma petroleira, as empresas responsáveis por tocá-las estão envolvidas em um dos maiores escândalos de corrupção dos últimos anos desbaratado pela Operação Lava Jato. A primeira construtora citada é a Iesa, a outra, a Galvão Engenharia, que fazia parte de um consórcio liderado por uma empresa chinesa.

Nos últimos meses, as empreiteiras brasileiras investigadas no esquema ilícito começaram a encontrar dificuldades financeiras e trabalhistas. Conforme as investigações, elas pagavam propinas a políticos e a dirigentes da estatal para conseguirem obras milionárias da Petrobras. Parte desses pagamentos era disfarçado como doação de campanha eleitoral. Neste ano, as empreiteiras despejaram cerca de 200 milhões de reais para partidos e candidatos que disputaram as eleições para o Legislativo e o Executivo.

Mais informações
Políticos dos principais partidos aparecem na ‘lista negra’ da Petrobras
Só 3% do dinheiro rastreado como fruto de corrupção retornou ao Brasil
Todos os 39 investigados por fraude na Petrobras se tornam réus
Construtoras investigadas despejaram 200 milhões de reais nas eleições 2014

A crise na Iesa, que já decorria de um pedido de recuperação judicial, agravou-se com a operação policial que acabou com a prisão de dois de seus executivos. Internamente há quem diga que ela está perto de falir. Na Galvão Engenharia (com um diretor preso), o problema foi a suspensão de uma obra quando ela estava próximo de ser concluída e a consequente demissão dos funcionários, que chegaram a bloquear uma rodovia como forma de protesto contra as demissões.

Na OAS, que viu cinco de seus funcionários serem detidos, a crise rendeu 60 demissões de funcionários administrativos e no desligamento de ao menos 1.000 operários. Além disso, ela já botou a venda dois jatinhos que eram usados pelos seus executivos e estuda comercializar parte de seus ativos, como a participação em empresas que administram uma linha de metrô do Rio de Janeiro e o aeroporto internacional de Guarulhos (SP).

A mesma linha é seguida pela Engevix, com três detidos. Seus dirigentes estudam vender a participação no controle dos aeroportos de São Gonçalo do Amarante (RN) e de Brasília (DF). Com dificuldades em obter empréstimos para novas obras (a maioria dos bancos já duvida da capacidade de pagamento dos débitos), as empreiteiras começam a se articular em consórcios com vários parceiros para minimizar possíveis prejuízos.

Os números não são divulgados oficialmente pelas empreiteiras, que temem mais problemas financeiros caso confirmem os dados. Porém, a investidores e em reuniões internas o assunto tem sido constantemente discutido. Nesta semana, nenhuma das dez empresas investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público respondeu aos questionamentos feitos pelo EL PAÍS a respeito de suas dívidas e de seus projetos para os próximos meses.

Há movimentação judicial e política para lidar com o problema. No começo do mês, a presidente Dilma Rousseff recebeu os presidentes das centrais sindicais, que pediram a ela atenção com o caso dos trabalhadores demitidos. A proposta era que a Petrobras se comprometa a ressarcir os prejudicados. Trabalhadores da Iesa também foram à Justiça pedir o pagamento das multas rescisórias.

Clube

Enquanto algumas das empresas lamentam as perdas, outras já tentam se livrar de uma dura punição que pode ocorrer caso seja comprovada a formação de um cartel para vencer as licitações da Petrobras. Quem puxou a fila dos delatores foi o grupo Setal, dirigido por Augusto Ribeiro de Mendonça Neto. Conforme o jornal O Globo revelou nesta sexta-feira, as seis empresas do grupo assinaram um acordo de leniência para minimizar suas penas.

Foi por meio das informações repassadas por Neto, que os investigadores descobriram a existência de um suposto clube formado pelas construtoras para ganhar os processos licitatórios da estatal. As empresas do grupo Setal pagarão 15 milhões de reais em multas para não serem incluídas no esquema de cartel. Metade dos recursos voltarão para o caixa da Petrobras e a outra metade seguirá para o Fundo Penitenciário Nacional. Esse fundo é administrado pelo Ministério da Justiça e seus recursos são usados na construção de novas cadeias ou na promoção da política prisional brasileira.

O executivo também assinou uma delação premiada para ter sua pena pessoal reduzida. Ao lado do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, o empreiteiro Neto é considerado peça fundamental para montar o quebra-cabeça desse megaesquema ilegal.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_