Uma questão de Estado
Deter a corrupção é tão importante quanto garantir o bem-estar dos cidadãos
Ainda que não seja habitual explicar com clareza, a corrupção representa um fardo pesado para as empresas. Em primeiro lugar, porque deteriora a confiança do consumidor no serviço empresarial; ele não está disposto (nem recebe informação suficiente) para separar as condutas empresariais corretas das que são paracriminais e tende a supor que as altas de preços ou as perdas de qualidade resultam de atos ilícitos. Essa desconfiança não é medida nem direta nem indiretamente, mas causa irritação e desvios significativos de consumo. Além disso, o fato da corrupção em si distorce gravemente o equilíbrio interno das empresas. É evidente que o dinheiro que se desvia para comprar favores (contratos, informação privilegiada) se perde para investir em pesquisa ou melhorar as condições de trabalho dos assalariados; prejudica, em suma, a produtividade. As práticas corruptas, ao evitar a concorrência, elevam o preço para os consumidores e consomem a renda pública que o contribuinte paga.
A corrupção (e suas perversas consequências) é, por tudo isso, um problema de Estado. Detê-la, evitar seu avanço, é tão importante quanto garantir o bem-estar dos cidadãos, escolarizar as crianças ou manter a rede de transporte em boas condições. Não se trata de incorrer no fundamentalismo de que se pode erradicar todo ato corrupto, mas de que as instituições do Estado devem combatê-la e as empresas, denunciá-las como se fosse possível eliminar 100% do problema. É preciso transmitir aos cidadãos a confiança de que as regras do jogo político são cumpridas, de que os responsáveis políticos defendem os interesses dos cidadãos e de que esses não são prejudicados por condutas contrárias à lei ou às regras do mercado. Nesses momentos, essa confiança não existe e é um fracasso que deve ser atribuído não só a quem se corrompe, mas também a um Governo que não age com firmeza; a economia submersa equivale a 24% do PIB, as pesquisas refletem uma certa tolerância em relação às práticas corruptas e a percepção geral é a de que, por parte dos poderes legislativo e executivo (o judicial age, mas sua maturação é lenta), a corrupção é combatida apenas com confusões gratuitas.
Não há tratamentos rápidos. A iniciativa mais segura é comprometer as instituições, as empresas e os cidadãos em uma atitude contra o mercado negro, o suborno e o favor. Mas esse compromisso é difícil de obter. Implicaria, entre outras coisas, que as instituições encarregadas de vigiar o cumprimento das regras de mercado fossem independentes de verdade (e não, como agora, apêndices melhor ou pior dissimulados do Governo) e dirigidas por pessoas de competência comprovada; que contassem com recursos suficientes para investigar e autonomia para analisar os casos; que as prefeituras e órgãos públicos e associados (agências de contratação) fossem submetidos a controle independente; e que os consumidores pagassem com nota fiscal. Essas são aspirações elevadas; mas seria possível começar por algo mais simples. Por exemplo, que as leis, ordens e decretos incluam um registro no qual se explique quanto custam as decisões propostas, quem vai pagar, a quem beneficia e a quem prejudica. A partir desse ato simples é possível desenvolver-se um esforço orquestrado contra a corrupção que se proponha a ser eficaz em médio prazo.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.