_
_
_
_
_
MEDICINA

Duas semanas a menos de radioterapia

Administrar doses mais altas permite encurtar o tempo de terapia O hipofracionamento se aplica a 30% de pacientes com câncer de mama

Paciente submetida a radioterapia no Instituto Valenciano de Oncologia.
Paciente submetida a radioterapia no Instituto Valenciano de Oncologia.MÒNICA TORRES

Vicenta tem mais de 50 anos e um tumor pequeno de mama de bom prognóstico, que não chegou a afetar os gânglios. Há cinco anos, depois de ser operada e ter as células neoplásicas extirpadas, ela deveria ter-se submetido a cinco semanas de tratamento de radioterapia, com sessões de segunda a sexta-feira. No entanto, agora somente se submeterá aos feixes de raios X do acelerador linear do Instituto Valenciano de Oncologia (IVO) durante três semanas.

A radioterapia contra o câncer de mama precoce está mudando. O objetivo consiste em encurtar o número de sessões em troca de aumentar a intensidade (a irradiação) em cada uma delas. Essa técnica, denominada hipofracionamento, já se aplica em 30% das pacientes, segundo estima Manel Algara, especialista em oncologia radioterápica do Grupo Espanhol de Pesquisa em Câncer de Mama (Geicam), embora a taxa ótima deveria aproximar-se de 40%.

Mais informações
O maior mapa do câncer revela diferenças enormes entre países
Identificado o processo pelo qual a pele elimina células pré-tumorais
Um modelo virtual permite predizer o efeito da radioterapia intraoperatoria
Oncologistas alertam para o ‘efeito Jolie’ sobre o câncer de mama
Um hormônio para ajudar as mulheres a ser mães depois do câncer
Descobertas ‘células escudo’ que protegem os tumores

A mudança de perspectiva se inicia com dois estudos (um britânico, de 2008, outro canadense, de 2010) que pretendiam responder à seguinte pergunta: é igualmente eficaz e seguro irradiar durante menos tempo, mas com doses um pouco mais altas, o tecido tumoral? A intenção era reduzir os incômodos deslocamentos diários das pacientes. Não é por acaso que um dos grupos incentivadores desses estudos esteja no Canadá, um país com enormes distâncias e onde os centros de tratamento podem ficar a centenas de quilômetros das doentes.

Os estudos concluíram que o tratamento é igualmente satisfatório. Em especial o dirigido pelo Instituto Nacional do Câncer do Canadá, que avaliou um grupo de 622 mulheres durante dez anos. Em lugar de 2 grays (unidade de doses de radiação absorvida) por sessão durante 25 dias, foram administrados a essas mulheres 2,65 grays em 16 dias. Ao comparar os resultados, a taxa de recorrência do tumor foi semelhante à do grupo de controle, submetido ao tratamento convencional. Não se registraram tampouco problemas de enrijecimento do tecido, apesar do risco existente por excesso de radiação, nem resultados estéticos indesejados, como uma maior pigmentação.

A partir daí, a técnica passou a ser incorporada aos serviços de diferentes hospitais. Em 2010, o grupo de mama da Sociedade Espanhola de Oncologia Radioterápica fez uma pesquisa e constatou que essa técnica só era empregada em 5% dos casos. Atualmente, beneficiada pelo diagnóstico precoce e a detecção de tumores nos estágios iniciais, há lugares que já a oferecem a 40% e até mesmo 50% dos pacientes, como o IVO, segundo informa Leoncio Arribas, chefe do serviço de oncologia radioterápica do centro. Mas entre a população-alvo há taxas muito mais elevadas. Algara dá como exemplo seu centro, o hospital do Mar de Barcelona, onde todas as pacientes que se ajustam aos critérios de inclusão da terapia recebem tratamentos intensivos. Embora admita que o mesmo não vem ocorrendo em todas as clínicas, já que ainda há especialistas que resistem a abandonar a terapia clássica.

As vantagens não se limitam a reduzir viagens e evitar o incômodo que significa passar por mais duas semanas de tratamento. Os médicos podem empregar em outras doentes as sessões liberadas pelo hipofracionamento e, assim, aumentar o número de mulheres atendidas.

Por ora existem limitações, como as mulheres com menos de 50 anos ou aquelas com os gânglios afetados. Não porque essa estratégia terapêutica seja menos eficaz, mas pelo fato de que nos estudos de longo prazo realizados até agora praticamente não foram incluídas pacientes com essas características– e os especialistas preferem ser prudentes e oferecer nesses casos a irradiação clássica. No entanto, é provável que o hipofracioanamento se amplie, já que há diferentes estudos em andamento com esses e outros grupos de pacientes, cujos primeiros resultados são esperançosos. E o mesmo ocorre com outros tumores. Por exemplo, o de próstata, onde também se aplica. Ou em tratamentos intensivos de processos cerebrais.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_