Mercosul reconhece o impacto da queda do preço do petróleo
Cristina, Maduro e Morales apontam interesses políticos por trás do barateamento do petróleo; críticas às possíveis sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela
A alegria pela normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos depois de 53 anos de embargo norte-americano contra o país caribenho dominou a cúpula do Mercosul, realizada nesta quarta-feira no Paraná, na Argentina. Mas nessa cidade a 372 km ao norte de Buenos Aires, outros assuntos graves também tiveram lugar nos discursos dos presidentes dos países, em reunião em que foram tomadas poucas decisões de transcendência política ou econômica. Por um lado, quase todos externaram sua preocupação com o impacto na região da queda do preço do petróleo e de outras matérias-primas. Por outro, alguns deles criticaram o Congresso dos EUA pelo projeto de sanções contra funcionários da Venezuela em razão de sua suposta responsabilidade na repressão a dirigentes opositores.
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, disse que em plena cúpula via como caía a 54 dólares o preço do petróleo WTI. Rousseff, que recebeu de Cristina Fernández de Kirchner, a presidência semestral do Mercosul, alertou sobre o baixo crescimento do comércio mundial, uma recuperação dos EUA que não alcança ainda os níveis anteriores à crise de 2008/2009 e uma China desacelerada que "tem provocado uma redução dos preços das 'commodities' (produtos básicos), e isso afeta a região". As principais exportações do Brasil são minério de ferro (13% do total), petróleo (8,3%) e soja (7%). "Em especial, o petróleo vai afetar toda a região, de formas diferentes", afirmou Rousseff.
Nesse contexto, a líder da principal economia latino-americana defendeu "reforçar a integração regional", mas também as "alternativas". O Mercosul, integrado também por Paraguai, Uruguai e Venezuela, e ao qual a Bolívia espera aderir, conseguiu terminar neste semestre a redação de uma oferta de abertura comercial à União Europeia, embora Rousseff tenha esclarecido que será preciso esperar pela proposta de Bruxelas. A chefe de Estado argentina também se referiu à UE, ainda que sem mencioná-la, pelas altas tarifas sobre a importação de produtos agrícolas, que atingem 140%, contra a taxa máxima de 35%, vigente no Mercosul. "Isso revela o protecionismo que todos criticam nos encontros multilaterais, mas depois o exercem", criticou Fernández.
Brasil pede menos obstáculos ao comércio no Mercosul e anuncia uma oferta de abertura à União Europeia
Só que vários parceiros da Argentina no Mercosul se queixam do protecionismo de Buenos Aires em relação a eles. "Temos que recuperar a fluidez comercial intrabloco, buscar soluções conjuntas para retomar trajetória ascendente do comércio em um ambiente de regras claras", pediu uma vez mais Rousseff, sem culpar explicitamente a Argentina. A presidenta brasileira não deixou de destacar que o Mercosul aumentou mais de 12 vezes o comércio desde sua fundação, em 1991, mais que o crescimento do intercâmbio no mundo, no que pareceu uma resposta às críticas ao bloco, reforçadas a partir do nascimento, em 2012, da Aliança do Pacífico. De qualquer modo Rousseff defendeu incrementar também o comércio com esse bloco, integrado por México, Colômbia, Peru e Chile.
"É impossível se integrar ao mundo se previamente não nos integramos na região", disse Fernández. Também afirmou que o colapso do preço do petróleo "exemplifica que o mercado é um maravilhoso eufemismo" e que por trás dele há "razões políticas, geopolíticas e interesses dos países". Acrescentou que tampouco o mercado atua quando são feitas sanções contra países, em alusão implícita à Venezuela e à Rússia, cuja crise também pode prejudicar a compra de alimentos sul-americanos e o financiamento de projetos de infraestrutura de empresas russas na região. A Argentina economizaria 2,7 bilhões de dólares (cerca de 7,3 bilhões de reais) por ano na importação de gás e combustíveis, mas o petróleo barato também pode desacelerar a chegada de investimentos na rica jazida de hidrocarbonetos de xisto de Vaca Muerta.
Na última cúpula do Mercosul com José Mujica como presidente do Uruguai e na qual se decidiu que todos os automóveis do bloco usem o mesmo padrão de placa a partir de 2016, o chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro, lamentou que os EUA, enquanto reatam relações com Cuba, pretendam aplicar "armas de sabotagem econômica" contra a Venezuela. Frente ao colapso do preço do petróleo, pediu apoio ao Mercosul para que seu país passe de um modelo de "rentismo petrolífero" para uma "economia produtiva".
O presidente da Bolívia, Evo Morales, opinou que "esta baixa do petróleo não é por acaso, é outra agressão econômica, em especial contra a Venezuela". Também considerou que o projeto de lei de sanções de Washington contra Caracas constitui "outra agressão". Enquanto isso, continua esperando que o Parlamento paraguaio, que atrasou o ingresso da Venezuela no Mercosul, acabe aprovando a entrada da Bolívia.
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