_
_
_
_
_

México enfrenta um ‘dia negro’ com a queda da Bolsa, do peso e do petróleo

Bolsa registra sua pior queda do ano e o óleo cru atinge o preço mais baixo desde 2009

O presidente Peña Nieto na cúpula climática no Peru.
O presidente Peña Nieto na cúpula climática no Peru.Juan Karita (AP)

A economia mexicana passa por uma fase negra. Além da situação de insegurança, a situação econômica veio somar-se às preocupações dos mexicanos nos últimos dias. Na quarta-feira a Bolsa Mexicana de Valores somou três dias de perdas e registrou a pior queda desde 2009. O preço do óleo cru mexicano também caiu 4,8%, acumulando queda de 46% desde o pico registrado este ano. A tudo isso soma-se o fato de o peso continuar a perder terreno diante do dólar. A moeda mexicana perdeu 6% de seu valor desde meados de novembro.

O peso caiu 12 centavos na quarta-feira, ficando o dólar em 14,55 pesos. A cotação se aproxima dos pontos altos registrados na primavera de 2009, quando a moeda norte-americana passou dos 15 pesos mexicanos, afetada pela ressaca da crise financeira de 2008. O Governo mexicano já tomou uma série de decisões para frear a escalada.

Mais informações
A fragilidade do Estado no México, por Claudio Lomnitz-Adler
Parcerias público-privadas, solução para as turbulências econômicas?
América Latina busca um novo modelo de crescimento econômico
Desaceleração empurra a América Latina para um ciclo de reformas

O Banco Central decidiu esta semana intervir no mercado cambiário cada vez que o peso sofrer desvalorização de 1,5% ou mais. Quando isso acontecer, serão injetados 200 milhões de dólares (523 milhões de reais) através de leilões com um tipo de câmbio mais baixo reservado para as grandes operações financeiras. O leilão poderá ser ativado nesta quinta se o dólar chegar a 14,73 pesos.

“O objetivo principal é garantir a liquidez do mercado, caso seja necessário”, informou na segunda-feira a Comissão de Câmbio, criada pelo Ministério da Fazenda e o Banco do México (BdeM). Os analistas reagiram bem ao anúncio da medida. “A decisão do BdeM não conseguiu deter a queda do peso, mas ajudou o mercado, porque a queda poderia ter sido ainda maior”, disse Abraham Vergara, professor da Universidade Ibero-americana.

A ferramenta empregada pelo banco central já tinha sido usada em 2011 e 2012. Foi suspensa em abril de 2013 porque o peso mexicano começou a mostrar estabilidade diante do dólar, conservando-se a relação em torno de 13 pesos por dólar.

Estamos bem preparados para enfrentar esta tormenta que vem do exterior Agustín Carstens, presidente do Banco do México

“Estamos bem preparados para enfrentar esta tempestade que vem de fora”, disse na quarta-feira o presidente do Banco do México, Agustín Carstens, em entrevista. O funcionário, que teve grande atividade na mídia nos últimos dias, disse que a moeda mexicana está desvalorizada, mas que vai se fortalecer no futuro próximo. Sua confiança se deve às reservas internacionais do México, 192 bilhões de dólares (502 bilhões de reais), e a uma linha de crédito flexível que o FMI acaba de renovar, de 70 bilhões de dólares (183 bilhões de reais).

Mas o mau momento não se deve unicamente às condições econômicas externas. “Existe um período de incerteza provocado pela pouca confiança. Não se sabe muito bem para onde vai o país nos próximos meses, em termos de segurança e aplicação. Existe certo receio por parte dos investidores”, assinala Vergara. Isso coincide com uma análise feita no início de dezembro pelo próprio Banco do México, dizendo que a atividade econômica se deteriorou devido aos recentes “fatos sociais” ligados ao massacre de Iguala, na qual 43 estudantes foram mortos por um cartel de narcotráfico, e aos maciços protestos sociais que esse fato desencadeou.

Mesmo assim, Carstens assegurou que vai ficar atento para a situação externa. Mas o futuro promete encerrar desafios. Os investidores preveem para 2015 que a Reserva Federal dos Estados Unidos eleve as taxas de juros para evitar um aumento da inflação. Esse fato pode aumentar a volatilidade do mercado cambial e afetar a cotação do peso diante do dólar. Se isso acontecer, o país lançará mão de outros instrumentos. “Se a depreciação começar a afetar o desempenho da inflação, teremos que ajustar as taxas de juros”, disse Carstens.

Queda da Bolsa e do preço do petróleo

O enfraquecimento do peso se dá em meio a um contexto econômico mundial difícil que está afetando o México fortemente. Um desses indicadores é a queda do preço do óleo cru. O preço da mescla mexicana chegou nesta quarta-feira a 54,4 dólares por barril, uma queda de 4,8%. A Petróleos Mexicanos (PEMEX) informou que esse é o preço mais baixo desde maio de 2009.

Em 2014 o óleo cru mexicano caiu 46% em relação a seu preço máximo, que chegou a passar dos 90 dólares o barril. Nesta terça-feira o preço rompeu com uma tendência negativa de nove sessões de perdas. O secretário da Fazenda, Luis Videgaray, deixou claro que o preço do petróleo não vai impactar as finanças mexicanas para o próximo ano, porque o país conta com uma cobertura total da receita petrolífera para 2015. Isso significa que o México vai receber 79 dólares por barril, não estando exposto às reduções no preço do cru.

O preço do cru mexicano caiu 46% em 2014 em relação a seu valor máximo, que chegou a superar os 90 dólares

Nesta quarta-feira a OPEP divulgou suas previsões quanto à demanda de petróleo em 2015, estimando uma contração de 6% nos volumes de compra. Esse dado puxou as Bolsas de todo o mundo para baixo. No México, a Bolsa de Valores fechou seu terceiro dia consecutivo de perdas com uma queda de 2,28%, a pior registrada desde junho de 2013, quando a queda foi de 3,91%. O Dow Jones e a Nasdaq também registraram quedas, respectivamente de 1,51% e 1,73%.

Embora o panorama pela frente seja de um futuro difícil, os analistas conservam certo otimismo. “O mau momento não será permanente, mas passageiro. Os juros vão se estabilizar, assim com as perdas da Bolsa”, diz Vergara. O crescimento lento mas constante dos Estados Unidos vai beneficiar o México, país que depende da economia norte-americana devido à relação comercial com esse país. O Governo também aposta que no segundo semestre de 2015 começarão a ser notados os investimentos prometidos pela reforma energética, o programa de infraestrutura e a reforma das telecomunicações.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_