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Coluna
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O que pensa o mundo?

Tanto os homens como os Governos superestimam sua própria importância

Moisés Naím

“A maioria das pessoas acha melhor uma economia de livre mercado, ainda que alguns sejam ricos e outros sejam pobres”. Você concorda ou discorda com esta afirmação? Outra pergunta: em qual país esta ideia teve maior apoio? Vietnã. A grande ironia é que, junto com China, Cuba e Laos, o Vietnã é um dos quatro Estados ainda governados por um partido único cuja doutrina oficial é o comunismo. E em qual país a população mostrou maior rejeição à economia de mercado? Espanha, seguida por Japão.

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Esta foi uma das perguntas que o Centro de Estudos Pew fez a uma amostra de quase 50.000 pessoas com mais de 18 anos, em 44 países. O Pew estabeleceu três categorias: os países com economias avançadas (os da Europa, mais EUA, Japão, Coreia do Sul), economias emergentes (como Argentina, Brasil, China, Colômbia, Índia, México, Nigéria, Rússia, Paquistão e África do Sul) e economias em desenvolvimento (Bangladesh, Nicarágua, Quênia, Gana). Coreia do Sul, Alemanha e EUA são os países avançados com o maior percentual de apoio à economia de mercado. Entre os emergentes, Jordânia e Argentina têm os maiores percentuais de rejeição. Entre as economias em desenvolvimento, que são as mais pobres, a maior rejeição ao mercado está em Uganda e El Salvador, enquanto o maior índice de apoio se encontra em Bangladesh (uma das porcentagens mais altas de apoio no mundo), Gana e Nicarágua (outro país com um Governo socialista).

No geral, o mundo se inclina a favorecer o mercado (66% dos entrevistados), mas o maior apoio está nos países mais pobres (80% em Bangladesh, 75% em Gana e 74% no Quênia). Entre as economias emergentes, na China 76% dos entrevistados consideram que a população vive melhor em uma economia de mercado. Na Índia, o percentual é de 72%, na Venezuela de 67% e, no Brasil, de 60%.

A pesquisa mundial do Centro Pew apresenta outros resultados interessantes. A Ásia, por exemplo, é a região mais otimista a respeito do futuro econômico das crianças de hoje e sobre a perspectiva de que terão uma situação melhor que a de seus pais. Os mais pessimistas estão na Europa e nos EUA. O país com as expectativas mais negativas é a França (86% dos entrevistados acreditam que seus filhos terão uma vida pior que a de seus pais), seguida de Japão (79%) e Itália (67%). Por outro lado, 94% dos vietnamitas, 85% dos chineses, 77% dos chilenos e 71% dos cidadãos de Bangladesh acreditam que as novas gerações terão uma vida melhor.

Mas, de acordo com esse estudo, o que determina o sucesso econômico de uma pessoa? Uma lista foi apresentada aos entrevistados com possíveis fatores de sucesso e pediu-se a eles que classificassem em uma escala que vai de zero (“nada importante”) a 10 (“muito importante”). Para 60% das pessoas, “obter uma boa educação” é muito importante. Entre as economias avançadas, os espanhóis são os que mais valorizam a educação como fator de êxito: 71% a consideram muito importante. Por sua vez, somente 24% dos franceses pensam assim, o que coloca a França como o país que menos dá importância aos estudos. É interessante notar outra ironia: a qualidade da educação na França é muito superior a de países onde grande parte dos entrevistados dá importância máxima ao tema (87% dos venezuelanos, por exemplo).

Metade de todos os entrevistadores considera que “trabalhar duro” é muito importante para se ter sucesso. “Conhecer as pessoas certas” é muito importante para 37%, “ter sorte” para 33%, “vir de uma família endinheirada” para 20%; ser homem é determinante para 17% e subornar outras pessoas, para 5%. Os países que têm o maior o percentual de pessoas que acreditam que vir de uma família de dinheiro é muito importante são Tunísia (46%) e Nigéria (45%). Curiosamente, esses também são os países onde é mais alto o percentual de entrevistados que acreditam que o suborno é necessário para se ter sucesso.

Há um dado muito interessante sobre a vantagem de ser homem: em 32 dos 44 países onde o estudo foi realizado, os homens opinam de forma significativamente maior que as mulheres que ser homem é um fator muito importante para o sucesso. A proporção de mulheres que pensam dessa forma é muito menor. A diferença entre homens e mulheres nessa questão é tão surpreendente quanto a que há entre as políticas adotadas pelos Governos e o tipo de economia que sua população prefere. Está claro que tanto os homens como os Governos superestimam sua própria importância.

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