Wikileaks se transforma no empreendimento da moda
Assange cria linha de roupas, acessórios e utensílios domésticos para financiar sua causa América do Sul é um de seus potenciais mercados
De estrela hacker anarquista a marca registrada. Julian Assange está farto de ver camisetas com seu rosto estampado e merchandisings com a logo do Wikileaks e não tirar proveito econômico disso. Para formalizar sua invasão comercial como novo rosto do marketing rebelde, o fundador do Wikileaks deve lançar sua própria linha de roupa e utensílios domésticos e de papelaria. Foi o que o porta-voz da marca Wikileaks, Olafur Vignir Sigurvinsson, anunciou ao Times of India, publicação do país escolhido como local para os primeiros passos a serem dados para transformar Assange no próximo Che Guevara. A organização especializada em compartilhar segredos se associou a uma empresa local, a Franchise India, para abrir uma série de lojas físicas e expandir o comércio online a partir do país asiático. "A Índia é um dos países mais conscientizados em relação ao Wikileaks e Julian está encantado com esta aliança", afirmou Sigurvinsson.
Os planos da companhia não se limitam apenas à Índia. Assange contou há alguns meses, em entrevista exclusiva à revista Total Brand Licensing, que já tinha em mente há dois anos a ideia de transformar o Wikileaks em uma marca que representasse os valores da contracultura e do ativismo. "Está se fazendo merchandising com o emblema do Wikileaks... e nós não temos nada a ver com isso! Atualmente, é possível encontrar muitíssimos produtos com a nossa logo, meu rosto e todos os tipos de slogan, tudo sem licença e nenhum tipo de controle. Achamos que esta situação podia prejudicar a nossa organização e transmitir uma série de mensagens que não representam a visão do Wikileaks. Devemos tramitar nossa marca e por isso criamos uma licença". A WikilLicense é a marca que administrará toda a estratégia comercial do WikiLeaks no negócio da moda e acessórios. Apesar de já ser possível comprar, através do site do Wikileaks, camisetas de algodão com lemas como Inimigo do Estado e A coragem é contagiosa, a WikiLicense passará a desenvolver coleções completas com "desenhistas de moda franceses e de outros lugares que querem aliar sua marca a seus produtos", afirmou Sigurvinsson.
A Espanha é um dos potenciais mercados. Um estudo do Wikileaks realizado pelo Ipsos sobre 24 mercados mostrou que três em cada quatro pessoas apoiam a causa da organização. E as pessoas com nível de escolaridade mais alto foram as que demonstram o maior apoio. "É um grande negócio porque as pessoas com mais educação são as que têm maior poder aquisitivo e de despesa", disse o porta-voz do Wikileaks à Total Brand. Ele também destacou que a "Espanha, a América Latina, a África do Sul e a Índia são os primeiros mercados aos quais chegaremos".
O negócio da contracultura
Com esta estratégia comercial, Assange – que vive recluso na embaixada do Equador em Londres para evitar sua extradição para a Suécia, onde teria que encarar uma acusação por delito sexual – quer se transformar no rosto do hacktivismo do século XXI. Se Che é um filão comercial cujo rosto pode ser visto em xícaras de café e até mesmo em estampas da Urban Outfitters, o que impede o fundador do Wikileaks de aproveitar um inegável empurrão midiático? Apesar de documentários retratarem sua (pseudo) queda em desgraça frente à opinião pública, Assange encarna essa figura rebelde que tanto vende. Não seria estranha, então, a eclosão de sua marca e sua entrada para o mundo moda. Os leitores da revista Time demonstraram sua devoção e o elegeram homem do ano em 2010; Vivianne Westwood se solidarizou com o bloqueio ao Wikileaks e comercializou uma camiseta em seu favor; chegou-se a dizer que Assange seria o modelo estrela da semana da moda de Londres em setembro do ano passado (em teoria ia desfilar para Ben Westwood na embaixada, com George Clooney no front row) e Dr Martens batizou um novo modelo de bota com seu nome. Os sinais de que a moda tinha se rendido a ele estavam aí e ele aproveitou o impulso. O objetivo é poder continuar mantendo sua organização. A WikiLicense, marca do Wikileaks, se erige como "um novo caminho para que nossos seguidores financiem nosso trabalho".
Transformar Assange nesse "herói inconformista que tem esse algo necessário para libertar o indivíduo das garras da sociedade de massas", essa figura comercial tão bem desentranhada por Joseph Heath e Andrew Potter no ensaio Rebelar-se vende (Taurus, 2005) não é nenhuma novidade no mercado. Utilizar os rendimentos da contracultura em benefício próprio é uma estratégia da qual não escapam a Nike, nem as filiais da H&M, que vendem camisetas idolatrando o assalto aos supermercados de Sánchez Gordillo. Até mesmo Jay Z chegou a se apropriar do movimento Occupy Wall Street para vender camisetas apesar de ter dito não entender “para que servia” a luta dos indignados americanos e porque denunciavam o “livre mercado” e o “ser empreendedor”, as bases “que construíram a América”. Agora é Assange quem reivindica sua fatia do bolo... vendendo edredons com seu rosto para que as pessoas se cubram.
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