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O OBSERVADOR GLOBAL
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

O que acontece com a política?

Poucos acreditam na honestidade dos políticos, e os partidos já não são o lar dos idealistas

Moisés Naím

“Toda a política é local”. Essa afirmação do congressista norte-americano Tip O´Neill sintetiza o fato de que, com frequência, o que mais interessa aos eleitores é que os políticos aliviem seus problemas mais imediatos. De acordo com isso, os governantes que se concentram em grandes assuntos nacionais ou internacionais competem em desvantagem contra rivais que se ocupam dos problemas mais concretos dos eleitores.

Já faz um certo tempo, entretanto, que a política local se globalizou. Não que os eleitores não se interessem com o conserto dos buracos das ruas de seu bairro, que o lixo seja recolhido, as escolas melhoradas ou o crime combatido. Agora, essas expectativas muito locais combinam-se com inquietudes, desencantos e enfados que transcendem os problemas imediatos. A corrupção, a desigualdade econômica ou a incapacidade dos políticos para entrarem em acordo são somente três exemplos das preocupações que se tornaram mais comuns e mais globais.

É surpreendente ver como em países tão diferentes como a Índia, Reino Unido, Indonésia, África do Sul, Brasil ou a Hungria, o diálogo nacional é muito parecido. Além do mais, em todos eles, propostas e personalidades políticas que antes eram marginais hoje são centrais. E como as grandes máquinas políticas de sempre estão na defensiva diante de eleitores indignados e novas organizações que os desafiam. O exemplo mais recente é Hong Kong.

» A antipolítica. “Que todos saiam!” é um desejo veementemente expressado nas manifestações que periodicamente brotam nas ruas de Buenos Aires, Roma, Lagos ou Washington. Poucos acreditam na honestidade ou no altruísmo dos políticos, e os partidos já não são o lar natural dos idealistas. Entretanto, existem países – por exemplo os EUA, Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, México, Japão – nos quais as máquinas políticas tradicionais têm ainda muito poder. Mas o caso da Itália ou da Venezuela, onde poderosos partidos históricos foram apagados do mapa, é instrutivo: sem chegar a esses extremos, em muitos países os partidos estão enfrentando novos e surpreendentes rivais. A ascensão do Tea Party nos Estados Unidos, o Partido do Homem Comum (AAP) na Índia, UKIP no Reino Unido ou a Frente Nacional na França são bons exemplos do que virá pela frente, ou já está aqui.

» O populismo. Esse é um dos antídotos que partidos e líderes políticos utilizam para se proteger da antipolítica. Motivar os eleitores enaltecendo as virtudes do povo e denunciando as elites corruptas e depredadores que causam as adversidades da sofrida nação é uma estratégia bem antiga. E funciona. Rendeu grandes dividendos políticos aos coronéis Perón, Chávez e Putin, por exemplo. Suas práticas são conhecidas: prometer ao povo o que ele gosta de ouvir, mesmo que seja impossível ou irresponsável cumprir essas promessas. E os resultados do populismo também são conhecidos: alta popularidade temporal do caudilho e danos permanentes na economia do país. E o surgimento de uma nova elite tão ou mais corrupta que a anterior.

» O nacionalismo. Atiçar as paixões nacionalistas que sempre estão à flor da pele também dá resultados. Os 87% de popularidade de Vladimir Putin entre os russos se devem por ele não ter se limitado a discursar sobre a necessidade de recuperar a grandeza da Rússia, mas ter invadido a Criméia e ameaçar tomar o leste da Ucrânia. Acusar o inimigo externo dos males do país é também um truque comum. Além disso, para os virtuosos do nacionalismo os inimigos externos não são somente outros países e seus Exércitos. Também o são os imigrantes irregulares ou os trabalhadores asiáticos cujos baixos salários, dizem, “destroem bons empregos” na Europa ou nos EUA. Ou as invasões culturais que, asseguram, “corroem os valores da nação” e “contagiam o povo com consumismo, libertinagem e secularismo”. Essa narrativa política também se globalizou e, de Uganda a Turquia, a vemos com diferenças em muitos países.

» Por quê? O desemprego, a queda dos rendimentos e a interrupção da mobilidade social das maiorias são fonte de grandes frustrações populares nos países mais ricos. A incapacidade do Estado para satisfazer as crescentes demandas de serviços públicos agita os ânimos das novas classes médias nos países emergentes. A globalização é percebida como uma ameaça. A corrupção, artimanhas e hipocrisia dos poderosos são agora mais difíceis de ocultar graças às novas tecnologias de comunicação e informação. As injustiças e a crescente desigualdade são agora mais visíveis. A concorrência política não se baseia em comparar ideias, mas em destruir a reputação do adversário. A polarização do debate, o acirramento e a dificuldade dos líderes políticos para conseguirem acordos nutre a alienação política da população.

Governos paralisados e partidos políticos estancados seguem sem dar respostas críveis para as novas demandas de sociedades em efervescência, que estão mudando a uma velocidade inalcançável para aqueles que trabalham com ideias do passado.

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