_
_
_
_
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

A década aproveitada

América Latina aumenta a despesa social ‘per capita’, ao mesmo tempo em que mantém os equilíbrios

Joaquín Estefanía

O Brasil, que votou neste domingo, distorce por seu gigantismo as estatísticas e as tendências do conjunto da América Latina. As médias ocultam, muitas vezes, as realidades que se dão nos píncaros das sociedades e na parte mais baixa delas. Apesar da possibilidade dessa “armadilha das rendas médias”, é muito significativo o que está ocorrendo na última década no subcontinente. A percepção externa acerca da região não se move tanto como a própria realidade.

Na esteira dos excelentes estudos sobre a qualidade da democracia na AL iniciados há uma década, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) acaba de publicar o último deles, sobre cidadania política, cujas conclusões são muito chamativas. A principal delas é a de que região e cada um de seus países mostram um importante progresso em matéria de cidadania social durante a primeira década do século XXI, o que permite qualificá-la de “década aproveitada”, em contraposição à década perdida dos anos oitenta do século passado. A cidadania social se mede pelo exercício efetivo dos direitos econômicos e sociais (direito de ganhar a vida, de ter proteção, de gozar do mais alto nível possível de saúde física e mental e de um meio ambiente saudável, de receber educação e de desfrutar dos benefícios do progresso científico).

Diminuiu a disparidade que separava a AL das nações mais desenvolvidas

Tal progresso na cidadania social (o que não significa um nível ótimo) é particularmente destacável no contexto do cenário mundial: a AL melhorou seus níveis de gasto social e de distribuição de renda em um momento no qual a maioria dos países do mundo está experimentando o fenômeno contrário: incremento espetacular em seus níveis de desigualdade e queda – ou estancamento – no gasto social per capita. Diminuiu a disparidade que separava a região das nações mais desenvolvidas.

Esse progresso está associado ao crescimento da renda per capita, mas, sobretudo, à importante elevação do gasto social. Em média, esse indicador cresceu a um ritmo duas vezes superior ao do PIB, e de forma compatível com os equilíbrios macroeconômicos. Essa é a grande lição da América Latina para os tempos atuais. Entretanto, não se pode afirmar que isso seja um acontecimento irreversível, porque a composição da arrecadação pública que permitiu a alta do gasto social não está consolidada: o altíssimo crescimento da pressão fiscal está diretamente relacionado aos aumentos de preços dos recursos naturais que a região exporta. Calcula-se que aproximadamente metade do aumento arrecadatório esteja vinculada a esses preços, e não aos impostos pagos por pessoas e empresas, e por isso a situação pode reverter-se, como já ocorreu várias vezes na história recente da região.

Por isso, o PNUD insiste em algo que tem feito de modo permanente: a importância de chegar a pactos (reformas) fiscais, que deem força a essas mudanças e a essas tendências que significam um rompimento com a história da desigualdade.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_