Ivan Simonovis, preso do chavismo, é liberado por problemas de saúde

Justiça venezuelana decretou a prisão domiciliar do ex-chefe de polícia que a oposição considera um preso político

Simonovis, junto a sua mulher e sua filha, depois de sair de prisãoCarlos Garcia Rawlins (REUTERS)

A Venezuela amanheceu no sábado com a notícia de que o ex-chefe de polícia Iván Simonovis, considerado pela oposição um de seus presos políticos de maior peso, estava em casa com a família. Bonny Pertiñez, mulher de Simonovis, escreveu em sua conta do Twitter que uma juíza de execuções concedeu a prisão domiciliar para que ele receba tratamento médico, e acrescentou: “Quando você acredita muito em algo, não há outra saída senão acontecer. Obrigada a todos. Agora vamos focar na recuperação de Iván”.

Simonovis estava na prisão havia pouco mais de 9 anos e ainda tem que cumprir outros 20, pois não conseguiu a liberdade. O Supremo Tribunal de Justiça disse por meio de sua conta no Twitter que a medida é “temporária” e que assim que ele se recuperar deverá retornar a seu lugar de reclusão, a prisão militar de Ramo Verde, onde também permanece o líder político oposicionista Leopoldo López.

O ex-chefe de polícia da prefeitura metropolitana de Caracas, de 54 anos, sofreu até 14 doenças diferentes, certificadas pelos médicos do hospital militar para onde o transferiram com urgência em ocasiões anteriores. Sua saúde se deteriorou pelas condições do confinamento nas masmorras do Sebín, a tal ponto que desenvolveu uma osteoporose tão severa que os médicos recomendaram que ele se agachasse para colocar os sapatos, para evitar fraturas. É isso que ele conta na autobiografia El Prisionero Rojo (o prisioneiro vermelho), que foi escrevendo em pedaços de guardanapo e mensagens que entregava no horário de visitas à sua mulher e advogados.

Ele estava preso há pouco mais de 9 anos e ainda restam outros 20

O ex-chefe de polícia foi condenado, com Henry Vivas e Lázaro Forero, por ser o autor intelectual de várias das mortes por disparos na passeata de 11 de abril de 2002 em Caracas, horas antes de um golpe de Estado contra o ex-presidente Hugo Chávez. O julgamento durou três anos e se desdobrou em 231 audiências, nas quais prestaram depoimento 196 testemunhas e 45 peritos. A defesa de Simonovis sempre sustentou que seus argumentos e provas nunca foram levados em conta e que, embora não existissem provas contundentes para demonstrar sua culpabilidade, ele e os demais policiais foram condenados em uma sentença mais política do que jurídica. Nesse período, Simonovis era secretário de Segurança da prefeitura de Caracas, que na época tinha um prefeito da oposição.

Eles apelaram da decisão ao Tribunal Supremo de Justiça, mas o ex-magistrado Eladio Aponte, hoje no exílio e acusado de ter vínculos com o narcotraficante Walid Makled, confessou que desconsiderou o recurso “sem fundamento” e sem tê-lo lido, para “sair disso de imediato e sem mais demora”, por instruções de Chávez.

Ante as petições da oposição, grupos de defesa dos direitos humanos e sua família, que pediam medidas humanitárias para os policiais, o governo permitiu a Vivas e Forero concluir suas sentenças em prisão domiciliar em 2011 e transferiu Simonovis para Ramo Verde, onde as condições melhoraram um pouco. No entanto, ele não pôde recuperar-se do declínio de sua saúde.

O caso de Simonovis foi levado até ao papa Francisco no ano passado, que recebeu a mulher dele junto com o ex-candidato presidencial e líder oposicionista Henrique Capriles. A medida humanitária para o ex-policial foi um dos pontos centrais na agenda de conversações da Mesa da Unidade Democrática e o governo durante as sessões de diálogo realizadas para buscar uma saída pacífica à crise política que desembocou em protestos violentos durante os primeiros meses do ano e deixou um saldo de mais de 40 mortos.

A notícia de sua saída da prisão foi celebrada pela oposição e fortemente questionada por setores mais duros do chavismo. Alguns viram a medida como um sinal do governo para retomar o diálogo que está rompido, outros como um fator de distração. “Em meio de um terremoto sobre a dívida externa e com aspirações ao Conselho de Segurança (da ONU), Simonovis era uma carta vencedora”, disse o analista Luis Vicente León, presidente do instituto de pesquisa Datanálisis.

A popularidade do presidente Nicolás Maduro caiu nos últimos meses à medida que aumentava a crise econômica enfrentada pelo país. Em nível internacional há a preocupação de que a Venezuela não conte com os recursos suficientes e possa cair em um default. Em meio a essa situação, a Venezuela está lutando por ocupar um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas e na semana que vem deve iniciar a rodada de lobby em Nova York.

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