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O Santander elege a filha de Botín como presidenta do grupo

O conselho de administração da empresa aprovou o nome de Ana Patricia Botín por unanimidade

O carro funerário sai de Madri para Santander.Foto: reuters_live | Vídeo: ATLAS
Íñigo de Barrón

O conselho de administração do Banco Santander elegeu por unanimidade Ana Botín como nova presidenta após o falecimento de seu pai, Emilio Botín, segundo confirmação da entidade em uma nota emitida esta tarde à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV). "É a pessoa mais idônea dadas as suas qualidades pessoais e profissionais, sua experiência, sua trajetória no grupo e seu unânime reconhecimento nacional e internacional", assegura a entidade no comunicado. Ana Botín, conselheira nomeada do Santander UK desde 2010, também era a preferida de seu pai para sucedê-lo.

"Nesse momento tão difícil para mim e minha família, agradeço a confiança do conselho de administração e assumo com total compromisso minhas novas responsabilidades. Durante anos trabalhei no grupo Santander em diferentes países e responsabilidades e pude comprovar a enorme qualidade e dedicação de todas as nossas equipes. Seguiremos trabalhando com total determinação para continuar construindo um Banco Santander cada dia melhor para nossos clientes, empregados e acionistas", afirmou a nova presidenta, que se converte na primeira mulher à frente de um dos grandes empórios financeiros mundiais.

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Um dos temas mais difíceis para tratar com Botín era sua sucessão no banco. Apesar de estar com 79 anos (estava há três semanas de completar oitenta), o presidente do Santander se esquivava sempre desse assunto tanto diante dos meios de comunicação como dentro do banco. A resposta de Botín era que se encontrava com perfeita saúde e com o apoio de todo o conselho, pelo que não era necessário falar desse assunto.

Os estatutos do Santander só indicam que em caso de ausência do presidente a comissão de nomeação deve se reunir para eleger o sucessor, o que ocorreu nesta mesma quarta-feira na Cidade Financeira do Santander, em Boadilla (Madri). O primeiro vice-presidente, segundo na teórica cadeia de poder, é Fernando Asúa (Madri, 1932), uma pessoa de confiança de Emilio Botín. Ele presidiu a comissão, junto com Guillermo de la Dehesa, Rodrigo Echenique e Isabel Tocino Biscarolasaga. Os dois primeiros são também executivos muito próximos ao falecido presidente (e da família Botín) há muitos anos, o que dá a entender que conheciam seus planos para essas situações.

Fontes do setor, assim como outras próximas da entidade, já davam como certo que Ana Patricia Botín tomaria o lugar de seu pai. Vinda com urgência de Londres algumas horas atrás ao conhecer a notícia, já se encontrava em Madri desde a primeira hora do dia, encarregando-se dos principais assuntos. Apesar de ser uma multinacional com presença em mais de 15 países, (e o maior banco da Zona do euro) a entidade da Cantábria sempre foi gerida com um estilo que lembra as empresas familiares, ainda que os Botín tenham uma participação minoritária no capital.

O Santander se caracteriza por uma forma rápida e executiva em sua gestão, o que encaixa na rápida sucessão e na nomeação de Ana Botín. O falecido presidente emitiu um sinal claro sobre sua sucessão ao nomear Javier Marín como conselheiro em abril de 2013 substituindo Alfredo Sáenz. Marín, além de ser pessoa de confiança de Emilio Botín por ocupar o posto de secretário pessoal durante anos, também trabalhou estreitamente com Ana Patricia e se considera uma pessoa de seu grupo de confiança. Essa nomeação foi o primeiro gesto do patriarca banqueiro sobre para onde iria o grupo no futuro.

Sobre quem será o substituto da nova presidenta do Santander na filial britânica, seu conselho se reunirá na semana que vem para tomar uma decisão. Por enquanto, o Santander UK informou ao regulador britânico que o atual vice-presidente da entidade, Nathan Bostock, será o responsável por garantir a continuidade de todas as operações e a estratégia do banco.

Longa trajetória

A trajetória de Ana Botín é longa no Santander. Foi nomeada pela primeira vez conselheira do banco em 4 de fevereiro de 1989. Desde 1992 é diretora geral e agora é conselheira nomeada da filial do Santander no Reino Unido, que se converteu hoje na principal divisão do grupo por benefícios. Essa é, sem dúvida, uma boa carta de apresentação da nova presidenta para a comunidade financeira internacional. A executiva sabe o que é debater com os principais investidores do mundo, localizados na City londrina, assim como os supervisores britânicos, considerados entre os mais exigentes após a crise financeira internacional. Também trabalhou nos Estados Unidos, já que a filha de Emilio Botín incorporou-se à entidade após um período no JP Morgan (1981-1988).

Contudo, seu principal trabalho no mundo financeiro foi a presidência executiva do Banesto, cargo que ocupou entre 2002 e 2010, antes de ir para Londres. Além disso, é conselheira não-executiva da The Coca-Cola Company.

Banqueiros que conhecem bem o Santander comentam que com o fim da etapa de Botín se abre uma renovação de parte do conselho, já que boa parte deles têm idade avançada. Também se espera uma mudança no comitê executivo, com um fortalecimento das pessoas de confiança de Ana Botín. Entretanto, todos os movimentos deverão esperar os resultados dos testes de estresse, que serão conhecidos no final de outubro e que implicarão a chegada do novo supervisor, o Banco Central Europeu (BCE). A morte de Botín coincidiu com o fim do Banco de España como supervisor, o que fará com que a pessoa que ocupe a presidência do Santander se torne mais dependente da direção de Frankfurt do que de Madri. Todo um novo símbolo da nova etapa do Santander e de todos os bancos europeus.

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