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Supercopa | Atlético 1 X 0 Madrid

O Atlético foi mais autêntico que o Real Madrid

O time alvirrubro impõe sua alta voltagem e vence com um gol de Mandzukic diante de um Real sem resposta

José Sámano
O Atlético comemora o título.
O Atlético comemora o título.Julián Rojas

Três meses depois da goleada na final da Champions, o Atlético obteve uma pequena revanche. Conseguiu por sua maior resistência, porque nem aquele tremendo açoite o fez se apresentar de outra forma. A equipe decidiu não driblar a si mesma e se mantém o autêntico Atlético, o que voltou ao topo nos últimos anos. O Real tem outra filosofia, e, até mesmo na principal reunião europeia, resiste a mudar de traje. Também gosta de reinar no mercado, e se lança em busca das excelências a cada temporada, sem se importar se encaixam ou não no sistema anterior. Isso é coisa para o técnico do momento. Por isso, um torneio como a Supercopa chegou sem todos os deveres feitos, cedo demais. A equipe de Simeone o fez pagar, mais definida, após outro clássico muito equilibrado, resolvido no primeiro minuto por um gol de Mandzukic. Não importava que fosse um torneio de menor importância, a torcida no Calderón festejou muito, de novo se vê em condições de disputar outra grande temporada. O Real tem peças, falta a montagem.

O Atlético é um conjunto com criador, Simeone, que se submete às táticas mercantis do clube, mas contrata e vende para ser o mesmo. O formato esportivo é dele, e é indiscutível. O Real tem uma equipe de jogadores onde prevalece a política presidencial, à qual o técnico da vez precisa se adaptar, goste ou não. Um modelo institucional em que os melhores de cada momento têm festa, enquanto outros perdem a vez, seja porque estão muito vistos (Di María) ou porque se deixaram ser muito pouco vistos (Isco, Illarramendi). O treinador acompanha o mercado como espectador, e então seu desafio é camaleônico, ajustar as peças que recebe. Duas formas que tiveram êxitos bem recentes, mas que favorecem aos alvirrubros nos inícios de campanha.

Com uns ou com outros, o Atlético joga com bolas longas, provoca que seus centroavantes, Diego Costa, Mandzukic ou qualquer que seja, pressionem os zagueiros adversários, não se interessa pela posse de bola, vai para os duelos selváticos e encontra pepitas de ouro nas jogadas de estratégia. O Real é obrigado a se encontrar a cada temporada. Na última, Ancelotti acertou quando investiu em Di María, em detrimento de Isco, que chegara, junto com Illarramendi, como duas boas e custosas promessas. Aconteceu que a equipe levantou a Copa do Rei e deixará de sonhar com a "décima" conquista da Champions. Florentino Pérez gosta de atuar no mercado com grandeza, seja necessário ou não. De forma que agora seu técnico ficou sem o impulso dos jovens espanhóis, especialmente Isco, ofuscado por James e Kroos, ainda mais caros, mas com maior vitrine internacional. E, sobretudo, o técnico italiano Ancelotti ficou sem o argentino Di María, com quem conseguiu ser campeão da Europa, nem levado ao Calderón por sua iminente saída.

Pela rota de costume com Simeone, o Atlético, que conhece o livreto de cor, não levou um minuto para acertar uma golpe. Griezmann e Mandzukic pareceram ter passado a vida toda com Cholo Simeone. Disputaram com bravura um chutão de seu novo goleiro, e o croata desbancou Casillas com seu chute rasteiro. O Atlético em estado puro. O Real, com seus zagueiros nas nuvens, chegou tarde a uma situação que deveria conhecer de cabeça. Costa não está, mas com Mandzukic também não haverá sossego para os que defendam contra os colchoneros. Outro guerrilheiro que não foge do corpo a corpo nem a tiros.

Para times como o alvirrubro, um gol é a Lua. É difícil abrir vantagens, tem maestria em administrá-las. No primeiro tempo, propôs uma partida gástrica para o Real, um jogo de embrulhos, sem ritmo, de falta em falta e de briga em briga. Simeone se envolveu e acabou expulso por discutir com o quarto árbitro e todo o séquito por conta da parcimônia em permitir a volta ao jogo de Juanfran após sofrer um encontrão com Coentrão. O treinador ficou ainda mais alterado porque, sem o lateral em campo, James, em posição duvidosa, despertou o Real com um chute desviado por Moyà. Uma ação significativa.

Sem Cristiano como titular, o colombiano jogou como o que não é, um ponta. É um jogador central, porque tem um amplo catálogo para dar assistências e para balançar a rede adversária. Como aconteceu com Isco há um ano, Ancelotti terá que usar sua poção. O italiano sabe que a equipe tem tendência a se descosturar pelo pouco apego dos três atacantes a voltar, e quer um dique de contenção com três meio-campistas. O jogo no Calderón permitiu ao treinador comprovar que o melhor de James está perto da área, por ali foi a grande ameaça do Real, com vários chutes perigosos e um passe para Bale que não foi gol por um dedo. Com James no lugar de James, o Real fez o seu melhor. A sua volta cresceram Benzema, com quem gosta de se associar, e Carvajal, insistente e preciso por seu lado.

O Atlético respondeu melhor ao crescimento do Real no segundo tempo, quando teve outra postura e não limitou-se apenas ao bloqueio defensivo. Com a equipe mais intrépida, Griezmann se animou e jogadores como Raúl García e Koke se movimentaram como sabem e colocaram Casillas em xeque. Ao Real, inferior neste momento, não ajudaram as mudanças de Ancelotti, que colocou CR e Isco nos lugares de duas grandes contratações, Kroos e James. Surpreendeu a saída do colombiano, o mais ativo e empolgante entre os seus jogadores. Com exceção de Di María, o Real jogou com o time da temporada passada. Sem ser um grupo de coral, desta vez não encontrou um solista para salvá-lo. O mês de maio vai sentenciar, mas, em agosto, o Atlético joga às cegas, tem a lição mil vezes repetida. O Real precisa ajustar outra superprodução artística. Dois desafios apaixonantes e, como ponto de partida, um primeiro grande campeão: um Atlético genuíno, que já ganhou duas das três finais que disputou com o Real. Perdeu na principal, mas segue com seu manual.

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