O diretor do banco e patriarca da família Espírito Santo é preso em Portugal
Os investigadores ligam Ricardo Salgado à maior rede de lavagem de dinheiro do país
O patriarca da família Espírito Santo e diretor executivo do Banco de mesmo nome durante 22 anos, Ricardo Salgado, foi detido em sua casa de Estoril na manhã desta quinta-feira.
A detenção está relacionada com a chamada operação Monte Branco, que investiga a maior rede de lavagem de dinheiro de Portugal. A operação foi efetuada pela Promotoria do Estado, sob a direção do juiz Carlos Alexandre. Salgado foi conduzido para dependências judiciais, nas quais prestará declarações de manhã e de tarde.
No meio da manhã, a Promotoria Geral da República oficializou a detenção: “No âmbito do Processo Monte Branco, o Ministério Público realizou várias diligências que culminaram com a detenção de Ricardo Salgado no dia de hoje. O detido foi colocado à disposição do juiz de instrução criminal”.
Segundo diversas fonte, Salgado se ofereceu para ir ao Tribunal por seus próprios meios, o que não foi permitido. Os inspetores também visitaram o hotel próximo no qual Salgado instalou seu escritório desde que foi tirado da direção do Banco Espírito Santo pelo governador do Banco de Portugal em 13 de julho.
A detenção de Salgado ocorre um dia depois dos inspetores fiscais entrarem no Conselho Superior, a sede do holding da família em busca de documentos sobre empresas do grupo. Neste órgão, com sede em Lisboa, os cinco ramos da família se reúnem várias vezes por ano para votar. O grupo de quem o banco depende teve sua delicada situação exposta por Ricardo Salgado.
O Conselho Superior ratificou em novembro a liderança de Salgado, apesar de seu primo José Maria Ricciardi disputar com ele a direção dos negócios da família pela primeira vez em 22 anos. Ricciardi foi derrotado por quatro votos a um. Nem sequer seu pai, o comandante Antonio, o mais velho da família, com 94 anos de idade, votou a seu favor para não provocar uma crise maior de liderança em meio a tormenta.
Também na terça-feira, em Miami, autoridades norte-americanas compareceram à sucursal do ES Bank Miami para recolher documentação; na intervenção, a polícia alertou um dos administradores do banco que, segundo algumas fontes era Jorge Espírito Santo, para abandonar o lugar. O ES Bank Panamá também está sob controle das autoridades judiciais.
As intervenções das autoridades norte-americanas em sucursais financeiras do Espírito Santo nada têm a ver com a operação Monte Branco, mas sim por problemas de insolvência. Conforme informaram as autoridades panamenhas, trata-se de “proteger e defender os interesses dos clientes e credores da instituição de uma potencial insolvência”. Estas sociedades fazem parte do Espírito Santo Financial Group que, no momento, não solicitou proteção contra credores, como já fizeram o ESI (ramo financeiro do grupo) e a Rio Forte (empresas não financeiras do grupo).
No caso da operação Monte Branco, a polícia investiga transferências de 27,3 milhões de euros (81 milhões de reais) efetuadas entre julho de 2009 e julho de 2011 através de diferentes contas não declaradas e paraísos fiscais. Não é a primeira vez que Salgado vai prestar declarações nos tribunais sobre este caso, ainda que seja a primeira vez em que vai preso.
Antecedentes em 2012
O caso dura desde dezembro de 2012, quando o Departamento Central de Investigação e Ação Penal investigava a origem de transações fiscais e no qual figurava o nome do banqueiro como cliente da Akoya Asset Manage, uma gestora de fortunas suíça que estava no epicentro da rede de fraude fiscal conhecida como operação Monte Branco, ramificação da operação Furacão, iniciada em 2005 e que se dedicava a colocar dinheiro de Portugal em paraísos fiscais.
Como resultado da operação Monte Branco, e para contestar as notícias, Salgado se ofereceu voluntariamente para prestar declaração. Antes disso, Salgado havia regularizado por três vezes sua situação fiscal.
O movimento lhe foi útil. Após ouvir sua declaração, o promotor Jorge Rosário Teixeira exonerou o banqueiro de qualquer suspeita. “Diante dos fatos agora conhecidos, não existe fundamento para que Ricardo Salgado seja considerado suspeito. Pelas declarações fiscais conhecidas, não existe fundamento para imputar ao interrogado a prática de qualquer delito de natureza fiscal”. Isso ocorreu em fevereiro.
Mas em setembro, a imprensa angolana revelou que o construtor José Guilherme havia dado 8,5 milhões de euros (25 milhões de reais) para Salgado como prêmio por seus bons conselhos sobre investimentos. Guilherme transferiu este dinheiro – cujo total foi de 14 milhões de euros (41 milhões de reais) segundo Maria João Babo e Maria João Gago, autoras do livro O Último banqueiro – para uma sociedadeoffshore (paraíso fiscal) da qual constava Salgado.
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