Dunga reassume o comando da seleção brasileira
O ex-campeão do mundo em 1994, que já treinou a seleção entre 2006 e 2010, substitui Scolari "Um corte do zagueiro também é arte", diz em sua apresentação
A capacidade de surpreender do futebol brasileiro é inesgotável. Depois de duas semanas de declarações e reflexões generalizadas a respeito da necessidade de uma modernização integral que evite outro desastre como o Mineirazo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou oficialmente hoje o nome de Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, como treinador da seleção principal do Brasil. Dunga, ex-campeão do mundo em 1994 como jogador, já foi técnico da seleção Canarinho entre 2006 e 2010. “É uma decisão unânime, uma demonstração de unidade”, disse o presidente da CBF, José Maria Marin. Ele ignora os apelos pela contratação de um treinador estrangeiro (falou-se em Mauricio Pellegrini e José Mourinho) que tenha amplo conhecimento do futebol mundial e capacidade de renovar uma organização esportiva considerada necrosada, depois do desastre do 7 x 1 contra a Alemanha, e que enfrenta também graves problemas de rentabilidade e público nos campeonatos domésticos, além de acusações de corrupção.
As críticas à nomeação agora confirmada começaram há alguns dias na imprensa brasileira: “Eu não aprovo”, disse Antônio Lopes, coordenador técnico da seleção na Copa de 2002. O sucessor de Luiz Felipe Scolari “deveria ser alguém com uma mentalidade nova, capaz de impulsionar mudanças estruturais no futebol brasileiro”, declarou Lopes. A chegada do Dunga, de 50 anos, é a primeira medida tomada pelo novo coordenador das seleções brasileiras, o ex-goleiro e ex-agente de jogadores Gilmar Rinaldi, nomeado para o cargo na semana passada e amigo do novo treinador desde a época em que foram colegas no Internacional de Porto Alegre, na década de 1980. Uma das primeiras declarações de Dunga foi citar a Alemanha como exemplo de planejamento futebolístico.
É muito bonito falar de futebol-arte. Mas que o goleiro faça uma defesa também é arte. E um corte do zagueiro também é arte"
Na imprensa brasileira, a escolha de Dunga foi atribuída ao terror que a CBF supostamente sente diante da possibilidade de a seleção não se classificar para a Copa de 2018, já que o crescimento de outras seleções sul-americanas (especialmente Colômbia, Chile, Argentina e Uruguai, mas também Paraguai e Equador) impõe uma fase de eliminatórias muito desgastante, a partir de 2015, ano também da próxima Copa América. A seleção de Dunga dominou a classificação para a África do Sul-2010 com notável autoridade. Entram na conta dele também o título da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009. Algumas pesquisas divulgadas nos últimos dias pela imprensa brasileira, sem detalhes sobre sua realização, apontam 80% de rejeição popular à indicação de Dunga. O gaúcho disse em sua primeira entrevista coletiva que se inspirará na paciência e perseverança “de Nelson Mandela” para modificar a sensação de seus críticos.
Seus resultados à frente da seleção são bons: 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas em 60 jogos. Foi destituído após a derrota de 2 x 1 para a Holanda nas quartas de final da Copa de 2010. Despediu-se do cargo em meio a duras críticas de ex-jogadores e jornalistas por seu estilo de jogo conservador e físico, não muito afastado da proposta de Luiz Felipe Scolari na recente Copa no Brasil. A grande estrela da seleção, Neymar, afirmou no domingo que “o futebol brasileiro está atrás do alemão e do espanhol. Precisamos ser homens e admitir isso”, concluiu.
Os primeiros compromissos da segunda era Dunga serão jogos amistosos contra Equador e Colômbia, nos Estados Unidos, no próximo mês de setembro. O outro grande objetivo da CBF é a seleção sub-20, dirigida por Alexandre Gallo, com vistas à Olimpíada de 2016 no Rio. Dunga, que supostamente tinha uma proposta milionária para dirigir a seleção da Venezuela, treinou só uma equipe nos últimos quatro anos, o Inter-RS, com o qual conquistou o Campeonato Gaúcho, mas sem convencer. Homem de forte personalidade e com reputação de sinceridade, Dunga reconheceu hoje que “dificilmente uma pessoa muda em seus princípios, de ética e trabalho. Tenho que melhorar muito no contato com os jornalistas”. Afirmou ainda que “não precisamos fazer dessa Copa do Mundo terra arrasada”, pois “houve coisas boas e coisas que precisamos mudar”. Uma de suas afirmações retrata com precisão sua visão do futebol: “É muito bonito falar de futebol-arte. Mas que o goleiro faça uma defesa também é arte. E um corte do zagueiro também é arte”.
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