LeBron James volta ao Cleveland
O astro da NBA retorna ao time que deixou em 2010 após jogar quatro finais e ganhar dois anéis com o Miami Heat
LeBron James quer ser profeta em sua terra. Quatro anos após a sua polêmica contratação pelo Miami, anunciada ao vivo por uma rede de televisão de alcance nacional nos Estados Unidos, ele decide tomar o caminho de volta para Cleveland. Volta para o Cavaliers, para o time no qual jogou as sete primeiras temporadas de sua carreira, desde que foi escolhido com o número do draft em 2003, até que optou por se reunir, no verão de 2010, com Dwyane Wade e Chris Bosh em Miami.
Eu me vejo como um mentor e estou emocionado por estar junto a alguns garotos jovens e com talento"
A frustração das sete primeiras temporadas nas quais não pôde levar o título para Cleveland – só conseguiu colocar seu time em uma final, a da temporada 2006-2007, na qual foram derrotados pelo San Antonio (4-0) –, deixou uma conta pendente em seu ânimo. Agora, depois de ter participado das últimas quatro finais e ganhado dois anéis com o Miami, LeBron enfrenta o desafio de triunfar em casa. Nascido em Akron (Ohio), estudou na escola de Saint Vincent-Saint Mary daquela cidade, onde mantém a sua casa. Ali ele passou de herói a um dos personagens mais odiados quando decidiu deixar o Cavaliers. Essa rejeição se generalizou entre os torcedores dos EUA e LeBron se tornou uma das figuras mais mal avaliadas pelo público.
A avaliação foi melhorando com seus êxitos e seu comportamento nas quadras. Em uma longa carta publicada na Sports Illustrated, LeBron explica: "Não vou dar uma coletiva de imprensa ou uma festa. É hora de começar a trabalhar. Quando saí de Cleveland, tinha uma missão. Queria ganhar campeonatos, e ganhamos dois. Já conheço essa sensação em Miami. Nossa cidade (Cleveland) não vive essa sensação há muito, muito tempo. Meu objetivo continua sendo ganhar o máximo de títulos possíveis, não resta dúvida. Mas o mais importante para mim é trazer um título para Ohio. Sempre pensei que gostaria de voltar para Cleveland e terminar minha carreira aqui".
LeBron aponta sua família como uma das causas que o levaram a decidir deixar Miami e voltar para Cleveland. "Tenho dois filhos e minha esposa, Savannah, está grávida de uma menina. Comecei a pensar sobre como seria criar minha família na minha cidade natal. Olhei para os outros times, mas não ia deixar Miami para ir a qualquer lugar exceto Cleveland. Quanto mais tempo passava, mais feliz me sentia. É isso que me deixa feliz".
Não vou dar uma coletiva de imprensa ou uma festa. É o momento de trabalhar"
O Rei ou O Escolhido, como é apelidado, admite que não será fácil ganhar o título no próximo ano. "Sou realista. Será um longo processo. Vou entrar em uma situação com um time jovem e um novo treinador. Vejo-me como um mentor e estou animado por estar ao lado de alguns jovens talentosos. Acho que posso ajudar Kyrie Irving a se tornar um dos melhores armadores da nossa Liga. Acredito que posso ajudar Tristan Thompson e Dion Waiters a melhorar o seu nível. E estou ansioso para encontrar novamente com Anderson Varejão, um dos meus melhores companheiros".
LeBron, aos 29 anos, assinará o contrato mais alto que o Cleveland pode lhe oferecer: quatro anos e 94,5 milhões de dólares, 210 milhões de reais. Os Cavaliers conseguiram de novo o privilégio de escolher o número um do draft em junho passado e optaram por recrutar o canadense Andrew Wiggins, da Universidade de Kansas. O time de Ohio, que na última temporada contou 33 vitórias e 49 derrotas, também contratou como treinador David Blatt, o técnico que levou o Maccabi de Tel Aviv à conquista do último título da Euroliga.
A carta de Lebron
A íntegra da carta de James publicada na Sports Illustrated
Antes de ninguém se importar onde eu jogaria basquete, era um garoto do nordeste do Ohio. É onde caminhei. É onde corri. É onde chorei. É onde sangrei. Tem um lugar muito especial no meu coração. Suas pessoas me fizeram acreditar. Às vezes sinto que sou filho deles. Sua paixão pode ser opressora. Mas me motiva. Quero dar-lhes esperança agora que posso. Quero inspirar porque posso. Minha relação com o nordeste de Ohio é maior que o basquete. Não me dei conta disso quatro anos atrás. O faço agora.
Lembram-se de quando estava sentado ali em ‘Boys & Girls Club’ em 2010? Estava pensando, ‘isto é realmente difícil’. Pude senti-lo. Estava abandonado algo que havia passado muito tempo criando. Se tivesse de fazer tudo de novo, obviamente faria as coisas de modo diferente, mas igualmente teria partido. Miami, para mim, foi praticamente como a escola para o resto das crianças. Estes últimos quatro anos me ajudaram a criar a pessoa que sou hoje. Me transformei em melhor jogador e melhor pessoa. Aprendi com uma franquia que viajou para onde eu queria ir. Sempre considerarei Miami minha segunda casa. Sem as experiências que lá vivi, não poderia fazer o que estou fazendo hoje.
Fui para Miami por D-Wade e CB (Bosh). Fizemos sacrifícios para manter UD (Haslem). Fiquei encantado em me transformar em um irmão maior para Rio. Acreditei que poderíamos fazer algo mágico se nos juntássemos. E foi exatamente o que fizemos! O mais difícil é deixar o que construí com estes rapazes. Falei com alguns deles e vou falar com o resto. Nada mudará nunca o que conseguimos. Somos irmãos para toda a vida. Também quero agradecer Micky Arison e Pat Riley por me darem quatro anos incríveis.
Estou fazendo esta dissertação porque quero a oportunidade de me explicar sem interrupções. Não quero que ninguém pense: Ele e Erik Spoelstra não se davam bem... Ele e Riley não se davam bem... Os Heat não conseguiram montar a equipe adequada. Isso de forma nenhuma é a verdade.
Não darei nenhuma entrevista coletiva ou festa. Depois disto, é hora de ir trabalhar.
Quando saí do Cleveland, tinha uma missão. Eu buscava títulos, e ganhamos dois. Mas Miami já conhecia este sentimento. Nossa cidade não tem esta sensação há muito, muito, muito tempo. Meu objetivo segue sendo ganhar tantos títulos quanto possível, não tenho dúvidas. Mas o que é mais importante para mim é trazer um troféu para o nordeste de Ohio.
Eu sempre acreditei que voltaria para Cleveland para encerrar minha carreira. O que não sabia era quando. Depois da temporada, o período de agente livre nem sequer estava na minha cabeça. Mas tenho dois filhos e minha esposa, Sabana, está grávida de uma menina. Comecei a pensar sobre como seria criar minha família em minha cidade natal. Olhei as opções que as outras equipes me davam, mas não sairia de Miami para ir para qualquer lugar, exceto Cleveland. Quando mais o tempo passava, mais correto parecia. Isto é o que me faz feliz.
Para dar o passo adiante precisava do apoio de minha esposa e de minha mãe, que podem ser complicadas. A carta de Dan Gilbert, as vaias dos torcedores de Cleveland, as camisetas queimadas... ver tudo isso foi difícil para elas. Tinha emoções opostas. Era fácil dizer: “Bom, não quero lidar com esta gente nunca mais”. Mas então pensava de outra perspectiva: O que aconteceria se eu fosse um garoto que admirasse um atleta, e este atleta me fizesse querer melhorar minha própria vida, e logo fosse embora? Como eu reagiria? Me reuni com Dan, cara a cara, homem para homem. Já nos soltamos. Todo cometemos erros. Eu cometi erros também. Quem sou eu para guardar rancor?
Não estou prometendo um título. Sei o quão difícil é cumprir esta promessa. Agora não estamos prontos. De nenhuma maneira. É claro, quero ganhar ano que vem, mas sou realista. Será um longo processo, mais do que 2010. Minha paciência será posta à prova. Eu já sei. Vou para uma situação que me coloca em uma equipe jovem e com um novo treinador. Eu serei o líder veterano. Mas me arrepia pensar que posso me juntar a um grupo e ajudar-lhes a chegar em um lugar que desconhecem poder chegar. Agora me vejo como um mentor e estou emocionado em ajudar alguns destes jovens talentosos. Creio que posso ajudar Kyrie Irving e transformá-lo em um dos melhores armadores de nossa liga. Creio que posso ajudar a elevar o jogo de Tristan Thompson e Dion Waiters. E mal posso esperar para estar com Anderson Varejão, um de meus companheiros de equipe mais queridos.
Mas isto não tem nada a ver com o plantel ou a organização. Sinto que minha vocação com este lugar está acima do basquete. Tenho a responsabilidade de liderar, em mais de uma maneira, e a levo muito a sério. Minha presença pode fazer a diferença em Miami, mas creio que pode significar muito mais no meu lar. Quero que os garotos de nordeste de Ohio vejam – como as centenas de jovens da Akron que ajudo através de minha fundação – que não há lugar melhor para crescer do que aqui. Talvez alguns deles cheguem em casa depois do instituto e ajudem a levantar uma família ou abrir um negócio. Isto me faria sorrir. Nossa comunidade, que batalhou tanto, necessita de todo o talento que puder conseguir.
No nordeste de Ohio, nada é dado. Tudo se ganha. Trabalhe para conseguir o que você tem.
Estou pronto para aceitar o desafio. Volto para casa.
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