O sindicato patronal e os trabalhistas advertem Cameron contra a saída da UE

Juncker, o futuro presidente da Comissão Europeia, se compromete com os interesses do Reino Unido

Cameron, em uma entrevista coletiva depois da cúpula da UE.EFE

O revés sofrido por Cameron na sexta-feira em Bruxelas rendeu-lhe críticas em casa e de quase todos os lados, mas diante disso se impõe o veredicto de que a debilitada posição negociadora do primeiro ministro britânico deixa o Reino Unido um passo mais próximo da saída da União Europeia. Assim o interpretaram o sindicato patronal britânico —que neste domingo alertou sobre os enormes riscos para a economia nacional de uma renúncia à União e o setor mais recalcitrante dos conservadores euroecéticos. O principal adversário de Cameron não está na Europa, mas no seio do seu próprio partido.

O peso dos defensores, entre os tories, de fechar a porta à UE forçou seu discutido líder a prometer a convocação de um referendo sobre a questão em 2017. Isto é, somente se conseguir revalidar o apoio ao seu Governo nas eleições gerais do próximo ano. A “humilhação” que, segundo o consenso da imprensa britânica, o levou a ficar praticamente sozinho em seu veto ao luxemburguês Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão Europeia questiona, aos olhos dos britânicos, a capacidade de Cameron para arrancar de Bruxelas uma devolução de competências a Londres, a única forma de evitar uma ruptura. Esse é o encaixe na Europa pelo qual apostaria o primeiro ministro em um futuro plebiscito, mas antes deveria garantir aos seus deputados a liberdade de fazer campanha pela saída da União. Nos meios políticos, se avalia que ao menos a metade dos 305 parlamentares conservadores seguiram essa última via.

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Entretanto, Cameron manteve neste domingo uma conversa telefônica com Juncker na qual o luxemburguês, segundo uma nota difundida por Downing Street, se mostrou “totalmente comprometido a encontrar soluções às preocupações do Reino Unido”.

Dar as costas à UE acarretaria uma diminuição no nível de emprego, de crescimento e de competitividade de suas empresas, adverte o diretor geral do sindicato patronal CBI (Confederação Britânica da Indústria), John Cridland, em um artigo publicado neste domingo no The Observer como reação ao desenlace da cúpula da sexta-feira em Bruxelas. “A União Europeia é o nosso principal mercado exportador e uma peça fundamental para nosso futuro econômico”, ressalta ante o auge dos euroecéticos que, como o deputado tory Daniel Hannan, já entraram em cena para propor “uma relação ao estilo da Suíça, na que só estaremos no mercado europeu e fora de tudo o mais”. A fórmula não funcionaria, rebate Cridland, “porque nos obrigaria a cumprir suas regras [da UE] sem a possibilidade de influir nelas”.

Os argumentos do sindicato patronal são compartilhados pelo líder da oposição David Milliband, convencido de que o Reino Unido “está más próximo da porta de saída da UE”. Desde que o Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP) conseguiu romper a hegemonia das grandes formações britânicas nas eleições municipais de maio, para se tornar também a força mais votada nas eleições europeias, seu discurso antieuropeu e anti-imigração foi integrado com maior ou menor sutileza por trabalhistas e conservadores.

O primeiro a cair nessa armadilha foi Cameron. Um de seus conselheiros políticos, Dominic Cummings, admitia neste domingo ao Sunday Times que “se uma renegociação [dos termos da adesão do Reino Unido] deixa o controle da política de imigração nas mãos da UE, será percebido como uma grande derrota”.

A designação de Juncker desagrada inclusive a muitos britânicos que querem continuar sendo cidadãos da UE, e que veem o ex-primeiro ministro luxemburguês como a encarnação de um eurocrata pouco aberto aos reclamos de excepcionalidade com o Reino Unido. Essa é a cartada que jogará nesta segunda-feira o primeiro ministro diante do Parlamento, na hora de justificar como “se perdem algumas batalhas para ganhar a guerra”. O problema de Cameron é que ele não está fazendo a mesma guerra que seus correligionários, sobre os quais perdeu o controle da gestão da agenda europeia britânica.

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