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América Latina leva o seu melhor ao Primavera Sound

Caetano Veloso estará ao lado de grupos pop chilenos e de duas estrelas do indie argentino

A América Latina volta a marcar presença no Primavera Sound 2014, em Barcelona. Se no ano passado a Argentina foi o país convidado especial do evento, nesta edição o Brasil comanda as opções artísticas do outro lado do Atlântico com Caetano Veloso – que confessou que gostaria de ter composto Come As You Are, do Nirvana – como principal atração. Será uma ocasião histórica e apropriada para que o lendário cantor e compositor baiano apresente sua trilogia transrock, que estreou em 2010 com o disco e foi arrematada com Abraçaço, editado em 2012, e que ele ainda vem apresentando ao vivo. “Quando fiz Zii e Zie (segundo álbum da trilogia), surgiu o conceito de transambas, porque a banda, com a formação de um trio de rock, tocava comigo algumas composições com um tratamento diferente”, explicou o artista de 71 anos que se apresentará no sábado, no palco Ray-Ban. “Então me veio a ideia de que o que o próprio grupo fazia deveria se chamar ‘transrock’, porque minhas relações amorosas com o rock são oblíquas”.

Ao mesmo tempo, Rodrigo Amarante, parceiro de Devendra Banhart, e também integrante da banda Little Joy e ex-componente de Los Hermanos, apresentará hoje, no palco Ray-Ban, seu primeiro álbum solo, o tropicalista Cavalo (2013). A Construtora Música e Cultura, produtora criada em 2011 para dar vazão à agitada cena indie de Goiânia, em pouco tempo se abriu para todo o espectro nacional e global, e desembarcará com sua trupe, formada pela pegada stoner dos goianienses Black Drawing Chalk, a inclassificável proposta festiva dos brasileiros Móveis Coloniais de Acaju e a desenvoltura noise dos paulistas Single Parents. No entanto, dois shows brasileiros que certamente provocarão uma nuvem que fará sombra inclusive à iminente Copa do Mundo serão o de Boogarins, considerados os descendentes faça-você-mesmo de Os Mutantes, e o rock de garagem do Motormama. Ambos vão sacudir o Parc del Fòrum no sábado: os primeiros no espaço Vice (no dia seguinte haverá outro show gratuito no Parc de la Ciutadella, onde serão realizadas algumas atividades paralelas) e o outro no Adidas.

O Chile, que há vários anos é um dos países em que a Primavera Sound apostou suas fichas, nessa oportunidade, além de participar das atividades da Primavera Pro, com a associação agremiativa Indústria Musical Independiente e com outros grupos comprometidos com a autogestão, volta com uma série de expoentes que reflete fielmente o maravilhoso momento atravessado pela cena da música independente do país sul-americano. Dois anos depois de sua estreia no festival, a banda Astro volta a esse bacanal de tendências sonoras com o estandarte da atual geração de grupos chilenos, graças a suas canções oníricas que pedem espaço na pista de dança. O grupo de Santiago, que está acertando os detalhes de seu novo álbum, se apresenta na sexta, primeiro no palco Vice, e depois, em formato acústico, no Ray-Ban Unplugged. Outro show que promete impressionar é o do Dënver, no sábado, no palco Adidas. É que a dupla lançou no ano passado um dos melhores álbuns pop hispânicos da década: Fuera de campo.

Enquanto os labirínticos cosmic rockers de Santiago, Föllakzoid – que recentemente editaram seu disco II no qual reconhecem sua queda pela psicodelia – radicalizam na lisergia na quinta no ATP e depois no Ray-Ban Unplugged, Congelador e Matías Cena fazem o mesmo no sábado no Adidas Originals. Os primeiros são um dos grupos mais respeitados do rock independente do território austral, devido ao risco sonoro que correm. Diante da estranheza do público em relação à singularidade da proposta, surgiu o selo Quemasucabeza, que este ano completa 15 anos. O quarteto promove agora sua produção mais recente, Cajón, de 2013. Cena, por sua vez, ganhou fama em seu país por exorcizar sua paixão pelos filmes de western em suas canções. Mas não se trata de temas que fazem apologia à valentia de pistoleiros fugitivos e rudes, mas exatamente o contrário: são uma ode à poesia, à beleza e à emotividade. O cantor e compositor de 26 anos também é conhecido por sua prolificidade, pois apesar de sua breve carreira já lançou cinco álbuns e vários EPs.

A Argentina é outro dos países fixos do evento, ainda que nesta edição esteja representada pelos dois principais emissários do indie da nação rio-platense no circuito global: Él Mató a un Policía Motorizado e Juana Molina. Quando o quinteto subir ao palco ATP na quarta-feira, no Parc del Fòrum, se tornará o primeiro artista latino-americano a participar de três edições do Primavera Sound, o que representa sua entrada nessa elite do festival, da qual Pixies, Shellac, Sonic Youth e Los Planetas já fazem parte. No entanto, o grupo argentino, que continua acumulando milhas com seu último trabalho, o potente La Dinastía Escorpio, também fará parte das atividades paralelas do encontro musical (na quinta no La Seca Espai Bross e na sexta em La Botiga). Mas se a banda liderada por Santiago Motorizado protagonizará o show de abertura, a rainha argentina da folktrônica estará na festa de encerramento, na sala Apolo, tirando faíscas de seu título mais recente de estúdio, Wed 21, que foi incensado como um dos discos mais representativos da música independente latino-americana de 2013.

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