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O desaquecimento da economia volta a impedir o México de decolar

O banco central reduz em sete décimos a previsão média de crescimento O aumento dos impostos e a letargia dos EUA desaceleram a atividade no primeiro trimestre, segundo especialistas

Jan Martínez Ahrens
A plataforma Ku-M da Pemex no Golfo de México.
A plataforma Ku-M da Pemex no Golfo de México.SAÚL RUIZ

O México voltou a adiar sua tão aguardada recuperação. Nesta quarta-feira o banco central mexicano reduziu as previsões de crescimento do PIB para 2014. O prognóstico inicial previa um aumento de entre 3% e 4%. Mas o desaquecimento da economia no primeiro trimestre levou o Banco do México a reduzir suas expectativas em sete décimos, deixando-as em entre 2,3% e 3.,3%. Essa queda supera o previsto pelos analistas e praticamente inviabiliza o objetivo do Governo de alcançar crescimento de 3,9% até o final do ano. Em função desse desaquecimento, o banco também reduziu seus cálculos de geração de empregos.

Embora sejam estáveis no que diz respeito à inflação e às taxas de juros, os dados refletem a dificuldade quase crônica que tem esse gigante latino-americano de 118 milhões de habitantes para sair da estagnação. No ano passado as previsões de crescimento de 3,5% feitas pelo Governo acabaram sendo revistas sucessivamente para apenas 1,1%. Essa debilidade, que distancia o México do boom vivido por países como Colômbia e Peru, converteu-se num dos problemas mais difíceis enfrentados pela Presidência de Enrique Peña Nieto, além de ser o flanco pelo qual a oposição a ataca.

O Banco do México, dirigido por Agustín Carstens, atribui a queda no crescimento previsto ao fato de a debilidade de 2013 ter persistido nos primeiros meses de 2014, mas não especifica as causas dessa letargia prolongada. Os analistas apontam diretamente para a alta dos impostos no início deste ano. “A reforma fiscal prejudicou o consumo, ao reduzir a receita disponível das famílias, e introduziu modificações que frearam o investimento. Além disso, as taxas de juros subiram, e isso afeta a economia”, explicou Gerardo Esquivel, professor pesquisador do Colégio do México.

Seja como for, o marasmo será apenas passageiro, para o banco central. “Uma vez que se diluam os efeitos temporários que afetaram a atividade econômica, o crescimento do México será beneficiado por uma demanda externa maior e pelos impulsos fiscal e monetário em curso”, prevê o informe.

Parte desse otimismo se deve ao fato de a equipe de Carstens considerar praticamente encerrado o período de incerteza na política monetária dos EUA, embora não se descartem possíveis episódios de volatilidade financeira. Esse fortalecimento do grande vizinho do norte e sua mais que provável aceleração econômica permitem prever uma melhora.

“O México tem capacidade de crescer. No início do ano o ajuste fiscal afetou o consumo privado e o crescimento dos EUA estancou, provocando a queda das exportações. Mas o efeito restritivo da alta dos impostos já passou, enquanto os benefícios do aumento do gasto público resultante dessa arrecadação serão sentidos ao longo do ano”, diz Raúl Feliz, professor pesquisador do CIDE.

Os perigos que Carsten enxerga para 2014 e 2015 dizem respeito a uma piora sucessiva dos EUA, mas, sobretudo, à possibilidade de a confiança dos consumidores não melhorar, tendo sido muito prejudicada pela estagnação crônica e os novos aumentos de impostos. Isso pode levar os gastos dos consumidores a não refletirem o cenário de recuperação.

Além de descrever a conjuntura atual, o banco central aproveita a análise para arrolar os problemas que puxam a economia mexicana para baixo. O primeiro e mais importante, segundo o informe, é a baixa taxa de produtividade. O caminho para desfazer esse nó passa por um “amplo processo de transformação da vida nacional” que “requer uma mudança profunda nas instituições”. É assim que a análise oficial alude à ampla bateria de reformas deslanchada por Peña Nieto, uma agenda que recebe os parabéns do guardião da estabilidade monetária e da inflação. “É positivo o fato de estarem sendo realizadas reformas estruturais que visam elevar a produtividade. [...] As modificações à Constituição aprovadas nos últimos meses referentes às telecomunicações, concorrência econômica, energia e educação representam um passo fundamental no processo de mudanças estruturais que este país necessita”, indica o texto.

O apoio do Banco do México à política de Peña Nieto vem acompanhado de uma advertência: a possibilidade de que o impulso reformista se dilua nas minúcias da regulatórias: “É imperativo que estes avanços sejam respaldados por leis secundárias que preservem o espírito das modificações constitucionais. E, para que as reformas tenham o efeito máximo sobre o crescimento da produtividade e, portanto, sobre a atividade econômica e o bem-estar, também é preciso que sejam implementadas adequadamente nos próximos anos.”

O esfriamento das previsões de crescimento toca num ponto sensível do Governo. Sua aposta numa reforma legislativa ampla era acompanhada pela promessa de uma melhora da atividade econômica. As pesquisas indicam que o atraso da recuperação começou a gerar um sentimento generalizado de frustração. Nesse contexto, o secretário da Fazenda, Luis Videgaray, afirmou hoje que o crescimento gerado pelas reformas estruturais não chegará antes de 2016, data em que o PIB mexicano alcançará um crescimento anual sustentado de 5%. Contudo, o secretário da Fazenda ofereceu dados positivos do primeiro trimestre, com o aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2013 nos investimentos estrangeiros diretos.

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