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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

A Alemanha e os demais

A política de austeridade europeia reflete amplas diferenças no crescimento e no bem-estar social

A recuperação econômica europeia é frágil, descontinuada e fragmentada. Enquanto a Alemanha mantém taxas de crescimento moderadas, mas sustentadas, França, Espanha e Itália parecem condenadas a uma situação de crescimento quase estéril. O PIB aumenta pouco, e a criação de emprego é mínima ou inexistente: esse é o cenário descrito pelas previsões da Comissão Europeia.

Definitivamente, o bloco monetário europeu tem se fragmentado em duas grandes áreas. Por um lado, a Alemanha; do outro, quase todos os demais. A fratura —que na realidade é norte-sul— se dá em uma atmosfera de inflação extremamente baixa, que prejudica notavelmente os países mais endividados e os seus cidadãos, embora o risco de deflação seja baixo.

A causa principal dessa recuperação frágil e com muito pouco emprego se encontra em uma política de austeridade imposta na contramão das políticas econômicas que ativam os gastos, o investimento e a flexibilidade monetária em períodos de recessão ou de baixo crescimento, como o atual. O balanço da austeridade imposta oferece dados para uma reflexão: foi aberta uma fenda ampla de bem-estar entre os países centrais e os periféricos, como demonstra o fato de que a Alemanha acumula um acréscimo do PIB superior em 13,8 pontos ao da economia espanhola entre 2009 e 2015, abrindo 11,8 pontos sobre a França nesse mesmo período. Também não conseguiu normalizar as condições de estabilidade na zona do euro (dívida, déficit público); favoreceu um meio de baixa inflação e segue sem resolver o problema crônico da supervalorização do euro.

Se esse é o cenário europeu que pode ser interpretado pelas previsões, o panorama para a Espanha também não resulta muito alentador. E não pelos décimos acima ou abaixo dos prognósticos econômicos ou pela confirmação de que o desemprego se reduzirá de forma tão lenta que, para fins sociais, tal redução não será muito notada nos próximos dois anos. É que, além disso, em alguns aspectos a Comissão reflete conquistas medíocres na política de estabilidade financeira. Não se entende o motivo pelo qual o Governo estime um déficit público de 4,2% do PIB em 2015 enquanto Bruxelas aponta para 6,2%. Caso se impusesse a tese da Comissão, esses dois pontos percentuais de diferença equivaleriam a um ajuste orçamentário superior a 20 bilhões.

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