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Cristiano Ronaldo evita uma reviravolta total no campeonato espanhol

Um gol de arte do português nos acréscimos salva um ponto para o Real Madrid contra um Valencia sério

José Sámano
Javi Fuego derruba Cristiano.
Javi Fuego derruba Cristiano.SERGIO PEREZ (REUTERS)

Uma rodada inesperada não produziu uma reviravolta total na Liga por uma genialidade de Cristiano que, à lá Di Stéfano, marcou de calcanhar quando o Madrid estava a ponto de sucumbir. O Valencia, tão encapotado toda a temporada, saiu-se tão respondão como foram Getafe e Levante contra Barça e Atlético, respectivamente. Não fosse pela pincelada maravilhosa de Ronaldo na última hora, até o Barça, que havia se despedido no sábado nas palavras de Xavi e Martino, dependeria agora apenas de si mesmo. A tarde teve a Liga numa roda gigante e, ainda que o Atlético mantenha o comando, nenhum dos três aspirantes está murcho, fora de combate, ainda que os barcelonistas precisem de antiderrapantes. Com o empate do Madrid, ao time de Simeone basta ganhar o Málaga e empatar na última rodada no Camp Nou.

REAL MADRID, 2 - VALENCIA, 2

Real Madrid: Diego López; Carvajal, Varane, Sergio Ramos, Marcelo; Illarramendi (Di María, min. 46), Xabi Alonso, Isco (Casemiro, min. 70); Bale, Benzema (Morata, min. 83) e Cristiano. Não utilizados: Casillas; Nacho, Coentrão e Khedira.

Valencia: Diego Alves; Joao Pererira, Ricardo Costa, Mathieu, Bernat; Javi Fuego, Keita; Feghouli, Parejo (Rubén Vezo, min. 88), Vargas (Barragán, min. 94); e Alcácer (Jonas, min. 66). Não utilizados: Guaita; Vinícius, Míchel e Fede.

Gols: 0-1, min. 43, Mathieu; 1-1, min. 59, Sergio Ramos; 1-2, min. 65, Parejo; 2-2, min. 92, Cristiano.

Árbitro: Clos Gómez. Mostrou cartão amarelo para Di María, Keita, Diego Alves e Feghouli.

Cerca de 75.000 espectadores no Bernabéu.

O futebol, tantas vezes imprevisível como uma roleta, deparou-se com um dia de sobressaltos. Em Chamartín não se vislumbrava outra coisa que a vitória local, de uma equipe que entrava em órbita após sua passagem por Munique frente a outra deprimida após sua eliminação na Europa. A partida foi um desmentido. O Madrid começou preso, sem cadência, e só despertou quando se viu na roda. O Valencia, que entrou na partida com a infelicidade nas costas, acabou vendo-se diante da possibilidade de encontrar consolo em um cenário de alta estirpe.

Foi um duelo de Diegos, López e Alves, os dois goleiros. O do Valencia saiu garboso de seu duelo de esgrima com Cristiano, de quem sofreu uma tormenta de disparos e que só foi vencido na tacada final, uma finalização genial do português nos descontos. O goleiro do Madrid também teve seus méritos e foi um colosso ante uma cabeçada à queima-roupa de Parejo, que López desviou para o travessão, e num foguete de Feghouli que ia direto para a rede. Em um corner posterior, Diego López e seu regimento defensivo ficaram como estalactites diante da cabeçada de Mathieu a um palmo da meta. Uma conclusão inesperada para um tempo agitado nas duas áreas e que teve um ritmo pesado na zona média.

A partida não tinha curvas, era plana. Pouco a pouco, o Valencia, que chegou a Chamartín desamparado após a dura derrota europeia, conseguiu anestesiar o Madrid, que passava a noite limitado a recorrer a Ronaldo, deixando em segundo plano Bale, crepitante no início da partida. Sem Modric e com Di María poupado, convinha examinar Illarramendi, destacado por Ancelotti como provável titular na final de Lisboa devido à suspensão de Xabi Alonso. O técnico italiano apostou num 4-4-2, com os dois meio-campistas espanhóis centralizados e Isco e Bale pelos flancos. Desta vez, Cristiano se liberou como nunca da esquerda. Encontrou espaço pela direita, onde Pizzi tentava fechar com Bernat e Parejo, que não é precisamente um jogador de futebol com caninos.

A partida deixou mal Illarra, que não consegue decolar e a quem Keita, que tem horas de voo e não afrouxa, fez descarrilar em várias jogadas. Foi advertido por Ancelotti, que recorreu a Di María no intervalo e o retirou. Mau sintoma a 20 dias da final da Liga dos Campeões da Europa. Tampouco teve peso Isco, o que levou o treinador a lançar outro possível substituto de Alonso, o brasileiro Casemiro. Para então, com um 1 x 2, o Madrid vivia angustiado e o Valencia encontrou o ânimo em sua coluna fundamental: Alves, Keita, Parejo e Feghouli. Contra a depressão, nada melhor que uma vitória importante no Bernabéu. Assim é este Valencia em desamparo institucional, tão capaz de ganhar no Camp Nou e dar nós em gargantas em Chamartín como de claudicar diante de qualquer um.

Em desvantagem e, de forma inesperada, com a Liga em estouro, o Madrid quis mudar de marcha. Com Di María no tambor, o quadro de Madri aumentou a pressão. Diante das sacudidas, uma e outra e outra de Cristiano, Diego Alves se mantinha inexpugnável. Diego López também teve foco, sendo estupendo em uma cabeçada de Alcácer, mas a maré era branca. Até que aconteceu o gol de Sergio Ramos, abençoado esta semana, com quatro gols de cabeça nas três últimas partidas. Parecia o princípio da recuperação, mas a resposta visitante foi imediata. Parejo colocou outra vez em vantagem sua equipe e o Madrid afundou e deu sinais de cansaço. Bem equilibrado, o Valencia resistiu até o assalto final, quando os brancos cerraram os dentes e terminaram invadindo a área de Diego Alves. Cristiano por fim conseguiu superar o goleiro brasileiro, para tanto precisando de uma jogada de arte, e Morata quase completou uma reviravolta total na partida no último segundo. Um jogo de causar infarto para uma Liga que está muito viva.

Uma Liga de ‘foto-finish’

A derrota do Atlético e os empates de Barcelona e Madrid apertam um ponto mais a Liga e levam o campeonato a uma definição em cima do fio. Restam duas rodadas, além da partida adiada que será disputada na quarta-feira entre Real Madrid e Valladolid, e os três aspirantes se encaminham para um foto-finish.

O Atlético é agora o único que depende de si mesmo e precisa de quatro pontos para conquistar matematicamente o título. O empate no extremo de Cristiano contra o Valencia tirou do Barça a possibilidade de depender de si mesmo para conquistar a Liga somando os seis pontos que restam. Se Atlético, Barça e Madrid ganharem seus compromissos da próxima rodada ante Málaga, Elche e Celta, respectivamente, (e os jogadores de Ancelotti somarem mais três pontos em Zorrilla na quarta), chegariam ao último dia na seguinte situação:

Atlético (91), Madrid (89) e Barça (88). Os azul-grenás recebem a equipe de Simeone no Campo Nou e o Madrid fecha a Liga no Bernabéu contra o Espanyol.

Em caso de empate a igualdade se resolve nos confrontos diretos entre as equipes. Nessa circunstância, o Madrid perde suas contas contra o Atlético (contra quem perdeu no Bernabéu e empatou no Calderón) e Barça (contra quem caiu na ida e na volta). A disputa entre alvirrubros e azul-grenás será resolvida no Camp Nou.

Em caso de empate triplo a igualdade seria resolvida contabilizando os pontos totais que cada equipe conquistou nos enfrentamentos diretos; neste momento, Barça (7), Atlético (5) e Madrid (1). A última circunstância a se avaliar para resolver o empate triplo seria o saldo de gols total; neste momento: Barça (+67), Madrid (+66) e Atlético (+51).

Ramos marca de cabeça o primeiro gol do Real Madrid.
Ramos marca de cabeça o primeiro gol do Real Madrid.JESUS AGUILERA (DIARIO AS)

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