_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Cartão postal do futuro

Imagine um país em declínio, envelhecido, onde os preços não sobem, nem ninguém consome. O Japão viveu o futuro da Espanha

Imaginemos um país que não só cresce, mas no qual há muitas pessoas que não se lembram de quando foi a última vez que cresceu. Imaginemos que este país está cheio de dívidas, como resultado de uma década de excessos empresariais e governamentais. Neste país, os preços não sobem, as pessoas não consomem e os empresários não investem, portanto a economia não gera riqueza. Os jovens não conseguem comprar uma casa, ou ter carro próprio, tampouco ter um emprego para toda a vida. Ter filhos torna-se um projeto vital impossível: se o casal trabalha, quem cuida dos filhos? Se a mulher (ou o homem) fica em casa, como pagar uma educação de qualidade para as crianças? Trazer imigrantes seria bom, pois rejuvenesceria a população e facilitaria o cuidado com filhos e idosos, mas pesa o medo de que as diferenças culturais tornem a integração impossível.

Menos crianças e mais idosos significa, inevitavelmente, o aumento dos impostos e encargos sobre aqueles que trabalham, que são cada vez menos, tornando a vida ainda mais difícil. Mudar as coisas seria bom, mas a inércia de duas décadas sem crescimento pesa muito: os partidos políticos, tomados pela corrupção, carecem de líderes com coragem, resultando governos apagados e, sobretudo, instáveis. Além disso, o peso eleitoral dos pensionistas é tão grande que qualquer política de estímulo seria vista como uma agressão às suas poupanças e pensões, que perderiam o poder aquisitivo por culpa da inflação. Tantos anos massacrando a população com o discurso de austeridade se voltaram agora contra o país: o projeto coletivo é administrar o declínio, que é dado como inevitável. Em outras palavras: o projeto de futuro é que não há futuro. Tal como o famoso “que inventem eles”, a sociedade se resigna ao fatalismo do “que cresçam outros”.

Poderia a Espanha ter o mesmo destino dentro de uma década? Sem dúvida. Por isso faz sentido ler com atenção o deprimente cartão postal que o Japão nos envia do futuro. Eles já estiveram lá, e estiveram a ponto de não voltar. Mas uma concatenação de duas circunstâncias está fazendo aquele país despertar. A primeira, mais conjuntural, foi o desastre triplo de Fukushima (terremoto, tsunami e acidente nuclear), que não só prejudicou a autoestima coletiva, mas questionou a suposição principal sob a qual se apoiava o conformismo com o declínio: a autossuficiência energética e financeira. Com os reatores nucleares parados até que seja garantida sua confiabilidade, as importações de energia estão gerando um déficit em conta corrente que obrigaria o país a apelar aos mercados internacionais para se financiar, com as consequências que todos nós já experimentamos em relação a uma perda de soberania. Mas tão importante quanto Fukushima é o desafio que a China está apresentando, com um forte aumento nos gastos militares, o que o Japão tem limitado por lei, e uma disputa importante, tanto no espaço aéreo como marítimo do Mar do Sul da China. Os dois elementos, combinados, tornam inviável o plano do doce declínio. O Japão, seja o que diga a geografia, não é uma ilha. Ninguém é.

Segue-me em @jitorreblanca e no blog Café Steiner em elpais.com

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_