_
_
_
_
_

Messi se nega a claudicar

O Barça se aferra à disputa pela Liga e adia uma possível mudança de ciclo, vencendo um Real Madrid superado no meio campo, numa grande partida comandada pela ‘Pulga’ e por Iniesta

José Sámano
Messi comemora um dos seus gols.
Messi comemora um dos seus gols.GERARD JULIEN (AFP)

Este Barça, uma equipe que marcou época, se nega à encruzilhada que o último clássico prenunciava. Em Chamartín, a equipe azul-grená se negou a claudicar e ganhou uma partida gigantesca, um confronto inesquecível, desses que com o tempo valerá a pena rebobinar de vez em quando. Faltou-lhe Cristiano Ronaldo, mas foi um duelo à altura de um Messi majestoso e de um Iniesta sublime. Com eles à frente, o Barcelona armou o bote, após chegar a Madri cercado por suspeitas de que estaria murchando. Mas a fera despertou, Lionel Messi se sublevou e, com todo o aroma de Iniesta, o conjunto culé maquiou suas disfunções defensivas e deixou atordoado um adversário que chegava feito um foguete, com uma vitalidade extraordinária. Isso não bastou ao Real, que terminou vencido em uma partidaça que transcorreu numa montanha-russa, e na qual afinal o gênio de Messi se impôs ao vigor de Cristiano. Como se espera de uma partida em tão alto nível, o clássico foi um motor de emoções, lá e cá, cheia de alternativas. E, por sorte, exceto por um destempero de Pepe, nenhum deles abandonou o futebol em favor da briga. Haverá debate, mas sem excessos piromaníacos. Em uma partida com três pênaltis e uma expulsão, a de Ramos aos 15 do segundo tempo, dentro de campo a jornada terminou em paz. Depois é que surgiram os ataques verbais à arbitragem.

REAL MADRID 3 X 4 BARCELONA

Real Madrid: Diego López; Carvajal, Pepe, Ramos, Marcelo; Modric (Morata, min. 90), Alonso, Di María (Isco, min. 84); Bale, Benzema (Varane, min. 66) e Cristiano. Não utilizados: Casillas; Nacho, Coentrão e Illarramendi.

Barcelona: Valdés; Alves, Piqué, Mascherano, Jordi Alba; Xavi, Busquets, Fábregas (Alexis, min. 78); Neymar (Pedro, min. 69), Messi e Iniesta. Não utilizados: Pinto; Adriano, Bartra, Song e Sergi Roberto.

Gols: 0 x 1, min. 7, Iniesta; 1 x 1, min. 20, Benzema; 2 x 1, min. 24, Benzema; 2 x 2, min. 42, Messi; 3 x 2, min. 55, Cristiano, de pênalti; 3 x 3, min. 65, Messi, de pênalti; 3 x 4, min. 84, Messi, de pênalti.

Árbitro: Undiano Mallenco. Expulsou Sergio Ramos com cartão vermelho direto (min. 64) e advertiu Di María, Pepe, Fábregas, Busquets, Xabi Alonso, Cristiano e Modric.

80.000 espectadores no Bernabéu.

À beira do abismo, o Barça se engalanou no Bernabéu com a ladainha que lhe caracteriza, com a bola como fio condutor, apesar dos problemas para dar trela ao jogo a partir da sua linha defensiva. Quando o Real lhe apertava forte, a equipe visitante se amarrava; se os mandantes afrouxavam, e os azuis-grenás chegavam ao meio campo, aí eles impunham sua notável coluna de meio-campistas. Para atrofiar Cesc, Xavi, Iniesta e Busquets – com Messi no radar central –, o Real precisava dos esforços continuados de CR e Bale, contrariados quando precisam se desdobrar. O Barça queria crescer a partir do jogo; o Real, pela via rápida. Sem novidades. O primeiro duelo estilístico foi vencido por Messi, que, após atuar sem sucesso como farol para Neymar, encontrou um melhor sócio. Seu segundo passe infiltrado aterrissou nos pés de Iniesta. Carvajal, atemorizado pela “Pulga”, fechou mal o ângulo, e o manchego fuzilou Diego López. Tudo a favor para o Barça, com a bola dominada e um gol precoce na mochila. Mas essa equipe não é totalmente confiável.

Pelo fio do Chamartín passaram dois Barças, o encapotado na defesa e o que atemoriza no campo contrário com o fluxo de Messi e Iniesta, os dois jogadores sobre os quais o time deveria se reconstituir. Já faz tempo que é assim, mas Martino se aferrou às hierarquias e tanto esperou Puyol que agora não há quem abrigue uma equipe sem defesa. No Bernabéu foi uma peneira enquanto o Real esteve inteiro. Martino tampouco atendeu à realidade, que impõe Pedro acima do cartaz de Neymar, e o Barcelona quase paga isso com juros. Nenhum barcelonista saiu com imagem tão negativa do confronto quanto Alves e Neymar, substituído pelo jovem das Canárias após sua única ação meritória da noite, ao se desmarcar para receber um monumental passe de Messi, jogada na qual sofreu o pênalti cobrado pela “Pulga” para o 3 x 3, com a expulsão de Ramos.

Espremido desde o começo, Di María foi atrás de Alves e abusou do lateral brasileiro, a quem seu compatriota Neymar deixou ao deus-dará. Tão clamorosa foi a superioridade do “Macarrão” e tão minguante o papel de Alves que, depois de correr o campo todo para conseguir o 1 x 1, Di María acabou desfalecido. Recuperou o fôlego e em apenas três minutos voltou. Sobre os avanços de Di María, com o abnegado Pedro de espectador, o Real catalisou sua recuperação. Do resto se encarregou Benzema, que impôs sua categoria diante de Piqué e Mascherano. O caso de Benzema se aproximou do escárnio: duas no alvo e mais uma meia dúzia de ocasiões. Dois jogadores bastavam ao elenco de Ancelotti, o que evidência o ponto frágil deste Barça.

Messi chuta o pênalti. Diego López não alcança.
Messi chuta o pênalti. Diego López não alcança.GERARD JULIEN (AFP)

Quando tudo apontava para o declive azul-grená, de novo irrompeu Messi, teimoso frente à rendição. Colocou Neymar na frente de Diego López, mas o brasileiro se enrolou pela enésima vez. Dupla tarefa para Leo, que resolveu a trapalhada do seu companheiro, chegou em seu socorro e encaçapou. O primeiro ato se fechou, como não, com Benzema fazendo tremer todo o Barça com um arremate de cabeça que passou por um dedo. Empate entre os dois esgrimistas, Messi e Benzema.

Se a defesa havia angustiado o Barça, o Real tampouco encontrou melhor consolo no seu meio campo, onde se viu desvalido em muitas ocasiões. À espera de acelerar, Messi, Iniesta e os seus comandaram a partida. Até que o árbitro viu pênalti numa entrada de Alves em CR, a alguns centímetros da área. Ronaldo, que nem antes nem depois teve o foco que se vaticinava, não falhou. O Barça não se encolheu, ao passo que o Real recuou mais do que devia. Outra vez Messi pediu passagem, usou o telescópio para ligar com Neymar, que arrancou com o topete em posição de impedimento. Ramos passou na sua frente, o brasileiro caiu e Messi – agora só superado por Zarra como maior artilheiro da história da Liga – anotou seu primeiro pênalti. Ramos foi expulso, e o Real definitivamente se plantou na frente do seu gol, com CR solto à caça de uma contra-ataque que não chegou. Quem apareceu foi Iniesta, para quem nada é impossível, e por isso tentou abrir um buraco inimaginável entre Alonso e Carvajal, que o espremeram e derrubaram. Messi outra vez. Poucos melhores do que ele para dar o fecho a um confronto vertiginoso, intenso, com muitos colossos, com alternativas e algumas quantas polêmicas para debater sem que o sangue chegue ao rio. Há o Barça, há o Real, há o Atlético. Há a Liga. O futebol brinda por isso.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_