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A Champions acorda Messi

Liderados pelo ‘Pulga’, os azuis-grenás superam o City, ainda inexperiente nos grandes torneios, em um duelo digno da Copa da Europa, sem nada a ver com a excursão campestre a Valladolid

Ramon Besa
Hart y Lescott vêem como Messi consegue o primeiro gol do partido.
Hart y Lescott vêem como Messi consegue o primeiro gol do partido.David Ramos (Getty Images)

A bandinha que se viu em Valladolid funcionou como uma orquestra no Camp Nou. A fanfarra da Champions desperta a melhor equipe, e também a Messi. O Barça precisa mais do que nunca do seu 10 para estabelecer a diferença em partidas complicadas, como a de ontem à noite contra o Manchester City. A canhota do argentino é como um taco de bilhar, pelos efeitos que dá na bola. O gol que marcou ontem em Hart foi precioso, tanto pela definição quanto pela determinação, manifesta no jogador desde que entrou em campo, tão participativo no sofrimento quanto na alegria, ponto final de um elenco muito solidário na defesa da sua continuidade no torneio continental.

BARCELONA, 2-CITY, 1

Barcelona: Valdés, Alves, Piqué, Mascherano, Jordi Alba; Xavi, Busquets, Cesc (Sergi Roberto, m. 86); Neymar (Alexis, m. 80), Messi y Iniesta. Não utilizados: Pinto; Bartra, Adriano, Song y Pedro.

Manchester City: Hart; Zabaleta, Kompany, Lescott, Kolarov; Fernandinho, Touré; Nasri (Navas, m. 74), Silva (Negredo, m. 72) , Milner; e Agüero (Dzeko, m. 46). Não utilizados: Pantalimon; Clichy, Boyata, Javi García.

Goles: 1-0. M. 67. Messi. 1-1. M. 89. Kompany. 2-1. M. 91. Alves.

Árbitro: Stéphane Lannoy (França). Expulsou a Zabaleta (m. 78) por dupla advertência. Mostrou cartulina amarela a Fernandinho, Kolarov, Cesc y Kompany.

Camp Nou. 85.957 espetadores.

Já passaram os tempos de exibição do Barcelona. Agora se trata de competir, de jogar com cabeça, de se levar a sério e confiar em Leo Messi. A melhor versão do argentino comandou uma partida de palavras grandiosas, futebolística e salpicada de grandes jogadas, digna das noites da Champions. Somente o empenho da arbitragem em cometer erros manchou uma jornada em que Neymar tornou a dividir a acalorada torcida presente no Camp Nou. Neymar continua no vácuo de Messi, que ontem ofereceu uma excelente atuação, para desespero do City, ainda inexperiente em torneios que exigem muitas derrotas para aprender a vencer as partidas mais complexas.

Pellegrini sempre esteve à mercê do Barça. Jogou a ida com um respeito reverencial, e confrontou a volta sem a figura de um 9 clássico para ganhar mobilidade e pressão na linha dos três quartos, disposto a fraturar os azuis-grenás com uma pressão muito alta. Não foi bem, mas se corrigiu no intervalo com Dzeko, melhor ontem do que Kun Agüero, embora também menos virtuoso e acertado que Messi. O 10 cumpriu o plano de Martino. O técnico fez politicagem com a formação, respeitoso com o status do elenco e com os contratos dos jogadores, sobretudo porque firmou Cesc e Neymar na equipe em troca de perder simetria e intensidade, sem Alexis e Pedro. Os referenciais dividiram o esforço, e o 10 resolveu.

Já não se trata de pressionar como sintoma de interesse, compromisso e protagonismo; o importante ontem era controlar a partida e a bola, evitar danos mais do que correr riscos, matar as jogadas para facilitar a recomposição e jogar como uma equipe – ou seja, nada a ver com a excursão campestre a Valladolid. Mesmo quando minguou na profundidade, aumentou a concentração defensiva e as chegadas seletivas. Messi sempre procurava Lescott, e em pouco mais de 15 minutos surgiram duas ocasiões que não acabaram em gol por decisão do árbitro, que não percebeu um pênalti numa queda do argentino e apitou um impedimento discutível de Alba, a quem Cesc dava condições de jogo.

Pellegrini jogou a ida com um respeito reverencial e a volta sem um nove clássico

A partida ficou muito interessante pela ambição do City e pela tensão competitiva do Barcelona. O esquema tático inglês era tão numeroso como bonito, e também estéril, enquanto os azuis-grenás não só disputavam as bolas divididas como também iam com ímpeto ao ataque, exigindo muito de Hart, decisivo em dois chutes à queima-roupa de Neymar e Xavi. Fazia tempo que não se via Messi correr tanto atrás da bola, chegar junto de atacantes e defensores, da mesma maneira que os azuis-grenás agradeciam a volta do excelente Iniesta. O empenho era às vezes tão notório que os locais perdiam a calma, não faziam uma pausa e se contagiavam com a pressa do City.

Neymar teve dificuldades para deixar de jogar colado e avançar no espaço para receber os passes de Messi pelo meio. Justamente quando soube interpretar o jogo, o brasileiro se destacou com dois arremates estupendos, o último salvo pela cabeça de Fernandinho. O City só chegou uma vez ao gol de Valdés. A jogada, entretanto, foi extraordinária pelo pique de Touré e pelo calcanhar de Silva, exímio no salto e na finalização, tão luminoso quanto foi obtuso Nasri no rebote, neutralizado por Valdés. Os rapazes de ambas as equipes ganharam o descanso após uma labuta estimável, incólumes ambos num exercício muito exigente. Os erros puniam, e ceder um gol poderia ter implicações definitivas.

A Neymar custou-lhe atacar o espaço para receber passe-os interiores do astro

O City estava convencido de que se ficasse à frente no placar teria a virada assegurada, da mesma maneira que se o Barça somasse um terceiro gol aos dois de vantagem da ida teria garantida a passagem às quartas-de-final da Champions. Com as coisas nesse pé, Pellegrini abriu mão de Agüero, machucado e pouco presente em campo, para a entrada de Dzeko, um aríete igualmente eficiente no arremate e na distribuição da bola, excelente para o jogo direto. A mudança ativou o City e desequilibrou o Barça. Kolarov penetrou repetidamente pela lateral mal defendida por Neymar e começou a fazer cruzamentos, um deles matemático, na cabeça de Dzeko. A genial pirueta de Valdés evitou o gol do City.

Muito recuados, os azuis-grenás perderam a bola e se entregaram a uma perigosa troca de golpes. A vertigem nunca foi uma boa aliada do Barça. Então Messi veio em socorro, e não parou até quebrar a cintura de Lescott. A disponibilidade do 10 ajudou a equipe a sair do seu campo e voltar a dominar a peleja, apesar da apatia de Neymar. Enfezado por um arremate repelido pela trave, o argentino alcançou uma bola filtrada por Cesc e rebatida por Lescott, e surpreendeu Hart com um arremate diabólico de canhota, quando a ação exigia um chute de direita. Um golaço do explosivo 10 para fechar uma disputada partida e uma rodada celebrada por todos os rivais.

O impacto da jogada transformou em detalhe o pênalti não apitado de Piqué em Dzeko, a expulsão de Zabaleta, o gol de honra de Kompany após cobrança de escanteio, a substituição de Neymar e o gol da vitória, de Alves, após estupenda jogada de Iniesta. Imprevisível no dia a dia da Liga, o Barça por enquanto não falha quando enfrenta rivais de mais renome, jornadas nas quais assume o privilégio de continuar sendo considerado um dos grandes da Europa há dez anos, na derrota e na vitória, como ontem contra o City.

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