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Uma petroleira que explora seu futuro

Pemex registra o seu maior prejuízo em 10 anos, enquanto espera uma transformação com a reforma energética

Sonia Corona
Um técnico opera um robô na plataforma de águas profundas Centenario.
Um técnico opera um robô na plataforma de águas profundas Centenario.S. RUIZ

A Petróleos Mexicanos (Pemex) tem desde 2006 quatro plataformas que procuram gás e petróleo em águas profundas do Golfo do México, uma área pouco explorada, se for considerado que a empresa estatal de petróleo tem centenas de estruturas que exploram hidrocarbonetos em águas rasas ao longo da costa de Campeche. A Pemex espera sua próxima transformação com uma reforma do setor de energia que permitirá o investimento privado em uma área dominada apenas pela petroleira mexicana, em meio a dificuldades financeiras registradas em seu último relatório de resultados.

A empresa teve um prejuízo líquido de 12,9 bilhões de dólares (30,3 bilhões de reais) em 2013, concentrado principalmente em sua divisão Pemex Exploração e Produção (PEP), a mais produtiva da petroleira. O diretor de Finanças da Pemex, Mario Alberto Beauregard, explicou que os números negativos se devem “à queda nos preços internacionais de referência do petróleo e seus derivados, bem como volumes menores comercializados”. As vendas de petróleo mexicano caíram 2,4% no último ano.

Na PEP, a Pemex concentra a maior parte de suas atividades de petróleo e gás, principalmente nas águas do Golfo do México. Esta divisão sofreu, de acordo com o relatório, perdas de 3,1 bilhões de dólares (7,3 bilhões de reais) em 2013. A produção de petróleo – em queda continuada desde 2004 – foi de 2,522 milhões de barris de petróleo por dia, em comparação com 2,548 milhões de barris diários em 2012. A petroleira indicou que três fatores prejudicaram a empresa financeiramente: os baixos preços do petróleo durante 2013 – um barril de petróleo bruto mexicano de exportação custou entre 95 e 100 dólares (220-235 reais) – a queda da produção do óleo e um aumento nos custos internos de produção.

Além dos números negativos da estatal, o diretor da divisão PEP, Carlos Morales Gil, renunciou ao cargo em fevereiro. Ele liderou durante nove anos esta área vital da petroleira e desenvolveu durante 30 anos sua carreira a bordo da Pemex. A empresa se limitou a anunciar a saída de Morales sem explicar as razões pelas quais deixou a companhia a alguns meses de sua histórica transformação.

A petroleira registrou em 2013 um prejuízo líquido de 3,1 bilhões de dólares em sua divisão Pemex Exploração e Produção (PEP)

A Pemex anunciou que investirá em 2014 o maior montante de sua história: cerca de 28 bilhões de dólares (66 bilhões de reais), e 85% irão para a PEP. A cifra ainda está muito longe dos 60 bilhões de dólares (141 bilhões de reais) que a petroleira mexicana precisa para dar início ao seu ambicioso projeto em águas profundas, conforme insistiu o diretor da Pemex, Emilio Lozoya. A diretoria terá a tarefa de transformar a companhia estatal em uma empresa produtiva do Estado, como manda a reforma energética aprovada em dezembro. Lozoya afirmou que com a reforma, a Pemex conseguirá ter autonomia de orçamento e gestão, assim como uma reorganização de sua estrutura. O Ministério da Fazenda anunciou que vai mudar o regime fiscal da petroleira para evitar que a empresa continue entregando 67% de seus lucros ao fisco.

Apesar dos números vermelhos, a Pemex anunciou que no fim de 2014 poderá começar a comercializar o petróleo encontrado no campo Lakash, em águas profundas do Golfo do México. Desde 2006, a petroleira estatal realizou apenas missões unicamente de exploração e construção de poços nessa região. A 50 quilômetros da costa de Alvarado (Estado de Veracruz, no leste do México) opera neste campo a plataforma Centenario, uma estrutura fixa de um quilômetro quadrado que também é um barco que, com ajuda de dispositivos de geolocalização e motores, flutua com estabilidade sobre o poço. Desde outubro, a plataforma trabalha no poço Lakash 2, uma reserva de gás natural de aproximadamente 25 milhões de pés cúbicos.

Cerca de 180 pessoas atuam na estrutura, entre trabalhadores da Pemex e funcionários de empresas contratadas. Diferentemente de plataformas localizadas em frente à costa de Campeche, a Centenario permanece sozinha no mar. Vinda da Coreia do Sul, a plataforma tem capacidade para construir poços de 3.000 metros até o leito marinho e perfura o solo até 11.000 metros de profundidade. Este é o tipo de ferramentas pelas quais o governo mexicano promoveu a reforma energética, já que cada uma dessas plataformas exige nove vezes mais o investimento que normalmente é feito em uma estrutura convencional para águas rasas.

A Pemex anunciou em janeiro a descoberta de óleo leve no poço Exploratus 1, no norte do Golfo do México, a uma profundidade total de 6.000 metros

Os trabalhadores da plataforma Centenario estão otimistas sobre a capacidade que a Pemex tem no manejo de novas tecnologias para a exploração e uso de jazidas de petróleo. Embora a empresa tenha se concentrado na produção de hidrocarbonetos em águas rasas, parte da experiência dos petroleiros é aproveitada nos novos projetos. “Eu teria gostado que houvesse tudo isso quando eu era jovem, talvez teria menos rugas”, brinca Raúl Ortiz, superintendente da plataforma que trabalhou 30 anos para a Pemex. Tanto seu pai como ele, dois petroleiros, viveram o boom do petróleo no México durante os anos 1980 e Ortiz garante que agora começa a notar uma mudança mais ambiciosa na direção da Pemex.

A Pemex deve medir sua capacidade de explorar campos de águas profundas já em 20 de março, data em que é obrigada a apresentar à Secretaria de Energia sua proposta sobre os campos de hidrocarboneto com quais trabalhará, a fim de destinar o resto para o investimento privado e estrangeiro. No fim de janeiro, a petroleira mexicana anunciou ter descoberto óleo leve no poço Exploratus 1, no norte do Golfo do México, a uma profundidade total de 6.000 metros, uma descoberta que mantém o entusiasmo dentro Pemex para estimular os projetos com maior grau de dificuldade e também um maior investimento. Nos próximos dias, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, tornará público seu projeto de leis secundárias para a reforma energética, que será a base para a celebração de contratos com o setor privado.

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