Cúpula dos LÍDERES Da AMÉRICA Do NORTE

Obama se interessa pelas reformas econômicas e de segurança no México

“Quero felicitar o presidente Peña Nieto pelos grandes esforços que têm feito neste ano", diz o governante dos EUA

Obama, Peña Nieto y Harper, na cimeira de Toluca (méxico) nesta quarta-feira.REUTERS

Na última vez em que Barack Obama visitou o México, em maio passado, Enrique Peña Nieto já havia obtido a aprovação de uma importante reforma, a educacional, e seu Governo tinha detido a líder sindical Elba Esther Gordillo. O presidente mexicano estava em ascensão, falava-se no mundo sobre o Mexican Moment, e isso que ainda não havia acontecido o mais importante: a abertura do setor energético, ocorrida em dezembro. Agora, de volta ao solo asteca, o mandatário norte-americano quer saber como serão postas em prática essas importantes mudanças legislativas e, também, como se avançará na segurança da nação latino-americana.

“Quero felicitar o presidente Peña Nieto pelos grandes esforços empreendidos neste ano em prol das reformas realizadas, que são muito promissoras para que o México seja mais competitivo e haja mais oportunidades para o seu povo”, disse Obama no final da manhã desta quarta-feira, assim que chegou ao palácio de governo do Estado do México, região vizinha à capital mexicana, na qual acontece a VII Cúpula de Líderes da América do Norte.

“Estou muito interessado em ouvir do presidente Peña Nieto a respeito das suas estratégias para a aplicação das reformas, da sua implementação, em matéria de justiça penal, em matéria de segurança. São reformas que são urgentes, e temos uma excelente cooperação nesses campos”, acrescentou o norte-americano, que manteve uma reunião bilateral com Peña Nieto e tem ainda um encontro programado com Stephen Harper, primeiro-ministro do Canadá, o outro protagonista da reunião de Toluca.

Obama falou de segurança antes das questões de competitividade, a outra esfera em torno da qual se concentra esta cúpula. De fato, na reunião bilateral, de escassos 15 minutos, o presidente norte-americano somente esteve acompanhado de Susan Rice, assessora de Segurança Nacional. Peña Nieto foi acompanhado a essa reunião pelo secretário de Relações Exteriores, José Antonio Meade Kuribreña. Logo depois, aos presidentes se uniram suas respectivas delegações. Foi notável a presença de funcionários do setor de segurança dos Estados Unidos, encabeçados pelo secretário de Segurança Interior, Jeh Johnson.

Entre os temas definidos para discussão nesta cúpula, as delegações trabalhavam em acordos para enfrentar “riscos endógenos e transnacionais, a partir dos princípios de responsabilidade compartilhada e confiança mútua”, conforme apurou este jornal. As delegações procuravam “expressar que só mediante a coordenação de esforço nacionais em segurança, é possível fazer frente a organizações criminais transnacionais”.

Na declaração oficial da cúpula, que será divulgada na noite desta quarta-feira, se saberá qual o alcance de novos acordos em matéria de segurança, assim como nas questões de energia, comércio e transporte, outros grandes eixos dessa reunião.

“(Quero falar com Peña Nieto) sobre o que estivemos fazendo para nos certificar de que a América do Norte seja a região mais competitiva do mundo, que sigamos integrando nossas economias de maneira mais eficaz, para poder assim criar empregos nos Estados Unidos, México e Canadá; e desse modo poder projetar do México, Estados Unidos e Canadá nossos bens e serviços a outras regiões do mundo”, declarou Obama.

Na agenda dos presidentes se destaca o projeto de um plano de trabalho para a competitividade, que inclui um plano de transporte, ou acordo de mobilidade, entre as nações. Vinte anos depois da entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, que se cumpriram em janeiro, o comércio trilateral aumentou 3,7 vezes e alcança 1 trilhão de dólares anuais. Em contraste, os mecanismos para facilitar o traslado dos constantes viajantes entre essas nações não só não cresceram paralelamente a esse intercâmbio, mas nesse período o Canadá se tornou até mais restritivo com os mexicanos. Os países, conforme transcendeu, discutirão a ampliação de programas para agilizar a passagem por suas fronteiras, como os já existentes Global Entry e Nexus, bem como outros a serem definidos este ano.

O projeto de agenda dos países previa no tema da competitividade a criação de sinergias com outros países e blocos, prioritariamente a União Europeia e os países membros do Acordo de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês).

“Em temas comerciais, como o do Acordo de Associação Transpacífico, são uma oportunidade de abrir nossos mercados e nos abrir a novos mercados na região da Ásia-Pacífico, que é uma das regiões de maior crescimento e mais promissoras do mundo”, disse Obama em sua mensagem inicial desta jornada de atividades da cúpula, que começou sem fazer jus ao nome coloquial pelo qual é conhecida: The three amigos summit.

A Cúpula de Líderes da América do Norte ocorre pela sétima vez, mas nesta ocasião tensões bilaterais entre os participantes tinham esfriado tanto o ânimo da reunião como as expectativas sobre os seus resultados.

O México recebe Obama com a reclamação velada de que de nada lhe serviu que durante mais de um ano a diplomacia asteca guardasse silêncio em temas espinhosos da relação -- o escândalo pelas escutas da NSA, que espiou não só o ex-presidente Felipe Calderón, mas também a Peña Nieto, assim como violações de direitos humanos de mexicanos na fronteira e em prisões do EUA. Essa diplomacia de baixo perfil foi adotada ara não entorpecer a prometida reforma migratória nos Estados Unidos, que cada vez se está mais longe, ou até impossível.

Washington, por sua vez, teme que depois da chegada de Peña Nieto ao poder, em dezembro de 2012, termine a excessiva indulgência que havia com Caldeirão em matéria de cooperação em segurança – leia-se livre atuação – em solo mexicano de agências dos EUA, como a Agência Central de Inteligência (CIA), o Escritório Federal de Investigação (FBI) e, é obvio, a Agência Antidrogas (DEA).

Harper, de sua parte, chegou antes ao México e na terça-feira recebeu pessoalmente e em público a reclamação de Peña Nieto porque Ottawa não cancelou a obrigação de que os mexicanos solicitem visto para viajar ao Canadá. O primeiro-ministro canadense em troca não terá a melhor das reuniões com Obama, cujo governo mantém parado o ambicioso projeto do oleoduto Keystone XL, sem aprovação há dois anos e mediante o qual se pretende levar combustíveis desde Alberta, no Canadá, até as costas do Golfo do México nos Estados de Lousiana e Texas.

Com tudo isso de pano de fundo, parecia muito difícil que a cúpula fizesse jus ao mote da reunião de Los Three Amigos. De qualquer maneira, o governo decidiu que a reunião ocorreria em Toluca, capital do Estado do México e berço político do presidente mexicano. Com esse propósito, a cidade, que não é um dos destinos favoritos quando se pensa em fazer turismo neste país, foi revigorada, e em meio de severas medidas de segurança que a transformaram em uma fortaleza intransponível, a reunião teve início ao meio dia, depois da chegada do presidente Obama.

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