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O Real Madri dá um passeio

O gol de Jesé aos cinco minutos culmina em uma partida confortável para o time de branco contra um desnorteado Getafe

José Sámano
Modric comemora gol com Ramos, Jesé e Xabi Alonso.
Modric comemora gol com Ramos, Jesé e Xabi Alonso.Gonzalo Arroyo Moreno (Getty)

Não faz gols, faz golaços. Cada toque de Jesé, por mais preciso que seja, merece aparecer na capa. É muito mais que um jogador interessante para a novela. O canário parece um foguete e tem tanta pressa que permitiu que o Real Madrid apenas desse um passeio por Getafe. O prata da casa demorou cinco minutos para tirar a tampa do time de Luis García, que chegou muito irritado para uma partida em que não ofereceu resistência. Faz tempo que falta solidez para o Getafe, talvez porque não tem um plano muito claro. Ainda não especificou qual o seu papel em La Liga, por mais que esteja na elite há dez anos. Com arquibancadas melancólicas, o clube azul não cria raízes. Em campo, em queda livre, a equipe também parece esmorecer.

Sem o parênteses de Iker Casillas, precisamos rebobinar para outubro de 1994 para encontrarmos na fábrica madridista uma aparição tão deslumbrante como a de Jesé, de 20 anos de idade. Se Raúl marcou dez vezes na temporada de estreia (nove na Liga e um na Copa do Rei), aquele que parece ser seu melhor sucessor já contabiliza oito (cinco e três). São jogadores muito diferentes, mas há um cordão umbilical que os conecta: a imprudência, a classe e a infinita auto-confiança. São esses jogadores que invalidam os acadêmicos. O futebol está em sua natureza e eles não chegam à elite nas pontas dos pés, mas com um soco na mesa. Ancelotti, tão rodado como jogador e técnico, vai perder cabelos quando Cristiano Ronaldo voltar, se Bale não se machucar novamente.

Getafe 0 x 3 Real Madrid

Getafe: Moyá; Valera, Lisandro, Alexis, Vigarray; Borja (Lacen, min. 63), Juan Rodríguez; Pedro León (Sarabia, min. 71), Diego Castro, Gavilán; e Colunga (Lafita, min. 52). Não utilizados: Codina; Míchel, Fornies e Sammir.

Real Madrid: Diego López; Arbeloa, Pepe, Sergio Ramos, Marcelo; Modric (Illarramendi, min. 79), Xabi Alonso, Di María (Casemiro, min. 82); Bale, Benzema (Isco, min. 73) y Jesé. Não utilizados: Casillas; Coentrão, Varane e Nacho.

Gols: 0-1. min. 5. Jesé; 0-2. min. 27. Benzema; 0-3. min. 66. Modric.

Árbitro: Pérez Montero. Amarelos para Juan Rodríguez, Alexis, Valera, Bale, Modric e Benzema.

Cerca de 12.000 torcedores no Coliseum Alfonso Pérez.

Depois do gol, Jesé foi influenciado pela atrofia geral de um duelo agradável, mas o garoto é uma realidade. Seu gol comprova: dominou a bola com sutileza extraordinária antes de dar um golpe que a fez a pegar curva e escorregar junto à trave esquerda de Moyà, como se fosse uma folha de bananeira. Em um piscar de olhos, o Real Madrid reproduziu as cenas dos seus adversários, um dia antes. Valladolid e Rayo também sucumbiram rapidante diante de Atlético e Barça, respectivamente. Quando um rival enfrenta os grandes e chega tarde para a festa, é como se fosse uma viagem para a lua.

Se o Getafe já chegou cambaleando, o gol prematuro deixou-o anestesiado. Perdeu o fio do futebol, sem vestígios. Nos últimos tempos, nem compensa as carências com garra, não se vê alma. Contra o Madrid, foi um time dissecado. O grupo de Ancelotti precisou apenas de Pepe e Ramos na marcação para espantar qualquer tentativa dos anfitriões. Na verdade, foi apenas fumaça, como alguma investida de Colunga, isolado no ataque, que Pepe interviu como um colosso. O Getafe estava tão desnorteado que perdeu até seus melhores recursos. Foi sintomático ver Pedro León, um dos que tem o melhor chute no campeonato, mandar a bola para o céu.

Além da fraqueza do time azul, o Madrid se fortificou. O sistema defensivo parte do meio-campo, setor para o qual Ancelotti deu as chaves, com Alonso, Di María e Modric, tão versáteis que se aplicam e ao mesmo tempo lançam os ataques com a precisão de um cirurgião. O sistema equilibra o Madrid, que tem uma âncora, escoltas para a bola e muitos talentos na cavalaria. São 12 vitórias e um empate nas 13 partidas disputadas desde o Dia de Reis, nas quais foram marcados 30 gols e sofridos apenas três.

No Coliseu - grandioso apelido para arquibancadas com tanta estrutura de plástico -, o Madrid teve o trabalho apenas de se vestir. Sem perder a concentração, administrou a partida ao seu capricho. Dançou como quis. Primeiro, com o ritmo certo, depois acelerou e freou quando a vitória parecia certa. Se Jesé havia aberto a tampa do Getafe por conta própria, de um contra-ataque depois de uma falta a favor do time de Luis García, irrompeu o Real matador, que voa nos contra-ataques. Di María voltou às origens de ponta, ligou o turbo, ergueu as sobrancelhas e colocou a bola no peito de Benzema, aparafusado à marca do pênalti, com os zagueiros do time da casa totalmente perdidos. O francês teve tempo de acalmar a bola, dar uma olhada para Moyà e chutar. Só dava Real Madrid, que fez o terceiro de imediato em outra aceleração, na qual Benzema deixou Bale na sala de espera do gol. O galês, tão confiável diante das traves, perdeu um gol simples para alguém como ele. Não quis chutar de direita e calculou mal a geografia da meta, longe do seu disparo pífio com a distinta canhota. Mais do que um chute, foi um passe para a rede. Não foi o dia de Bale, com mais tentativas que de costume, mas poucos acertos. Nenhum trauma para os seus companheiros, que jamais se viram alarmados e nem encontraram espinhos pelo caminho.

Depois de um primeiro tempo de baixa intensidade, o segundo foi pouco importante. Serviu apenas para que Modric conseguisse uma dupleta: gol e um cartão amarelo que lhe deixa fora do jogo do próximo sábado contra o Elche e permite que chegue limpo para o dérbi contra o Atlético. O Madrid pode pensar nesses detalhes. Antes, o croata, que começa cada vez mais a ser importante para a equipe, deixou um gol muito característico. Um chute rasteiro, ajustado, desde a entrada da área.

Modric é muitos jogadores em um só. Isco, não. O malagueño, com alguns minutos no fim do jogo, tenta se encontrar. Precisa ajustar suas condições e encontrar um espaço em campo. Em Getafe, Ancelotti insistiu em testá-lo como substituto de Benzema, como nove de referência para o jogo, não exclusivamente para o gol. Nessa praça, Isco ainda precisa de quilômetros. Na abertura da temporada, houve cenas brilhantes, mas a equipe pouco a pouco foi melhorando, e no crescimento do coletivo, o ex-jogador do Málaga perdeu foco. Com Jesé foi o contrário, o bendito problema com o qual Ancelotti precisa lidar. A primeira pista, daqui a duas rodadas, no Vicente Calderón, com Cristiano Ronaldo de volta. Até aqui, e com uma semana de sossego pela frente pela primeira vez em muito tempo, com a condução de Jesé, o Madrid cozinhou o Getafe.

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