As manobras militares dos EUA e Seul aumentam a tensão na península coreana
Os exercícios ameaçam as reuniões de famílias do Norte e do Sul, previstas para este mês O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, começa uma gira asiática na quinta-feira, em Seul
A Coreia do Sul e os Estados Unidos realizarão conjuntamente suas manobras militares anuais entre 24 de fevereiro e 18 de abril, conforme anunciou o Comando de Forças Combinadas (CFC, siglas em inglês) nesta segunda-feira. As datas se sobrepõem às previstas para a retomada das reuniões das famílias do Norte e do Sul (20 a 25 de fevereiro). Os membros foram separados pela guerra da Coreia (1950-1953). A previsão é de que o encontro seja realizado no Monte Kumgang, um centro turístico na costa norte-oriental da Coreia do Norte.
12.700 soldados norte-americanos participarão dos exercícios militares Key Resolve e Foal Eagle, considerados ensaios de invasão por Pyongyang. A Coreia do Norte, que foi informada sobre as manobras, pediu que os exercícios fossem cancelados novamente este ano e, caso sigam adiante, ameaçou realizar um “holocausto imaginável”. O comando conjunto assegurou que os exercícios são de natureza “não provocativa” e, segundo os responsáveis pela Defesa dos Estados Unidos, nesta ocasião serão de menor envergadura e não incluirão porta-aviões, numa tentativa de diminuir as tensões.
As práticas armadas põem em perigo as reuniões de famílias separadas durante décadas. Os encontros foram definidos na quarta-feira da semana passada, embora Pyongyang ameaçou cancelar no dia seguinte devido, segundo disse, a um voo de um bombardeiro B-52 e informações “difamatórias” publicadas na imprensa do Sul.
A presidenta sul-coreana, Park Geun-hye, pediu ao Governo de Kim Jong-un que respeite o acordo pelo bem dos membros das famílias, muitos dos quais são idosos e temem morrer sem chegar a ver seus parentes. O Norte cancelou reuniões similares em setembro, quatro dias antes da celebração, pela “hostilidade” do Sul. A preocupação é que o faça novamente nesta ocasião.
A tensão na península coreana será um dos pontos principais da gira asiática do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que se inicia na quinta-feira em Seul e que lhe levará também à China e Indonésia.
Key Resolve dura 11 dias e consiste em exercícios simulados por computador. Foal Eagle, no entanto, dura oito semanas e inclui práticas aéreas, terrestres e navais. No ano passado, as manobras conjuntas unidas às multas da ONU pela prova atômica realizada por Pyongyang em fevereiro, provocaram uma dura resposta do Norte, como a ameaça de ataques atômicos e de mísseis contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Washington respondeu com um voo de bombardeiros nucleares sobre a península coreana.
O anúncio dos exercícios foi feito depois que a Coreia do Norte anulasse a visita de Robert King, um enviado especial dos EUA para os direitos humanos que faria as negociações com o país asiático neste final de semana. King tinha previsto viajar a Pyongyang para discutir sobre a liberação de Kenneth Bae, um norte-americano de origem coreano, preso no Norte há 15 meses.
O Governo norte-coreano não explicou o motivo da suspensão da viagem, mas o Departamento de Estado norte-americano se mostrou decepcionado no domingo e insistiu que Pyongyang havia prometido no ano passado que não utilizaria Bae como “moeda de troca política”.
Bae, um operador turístico de 45 anos, foi definido por um tribunal norte-coreano como um cristão evangelista militante e preso em novembro de 2012. Posteriormente, sentenciado a 15 anos de trabalhos forçados por tentar derrocar o Governo.
Washington afirmou na sexta-feira que Bae foi transladado do hospital onde estava a um campo de trabalho em 20 de janeiro. Em agosto do ano passado, o Norte também cancelou uma visita de King ao país para falar sobre a situação do missionário.
A Coreia do Sul advertiu que o Norte poderia estar planejando alguma ação que coincida com as manobras militares. Imagens de satélite recentes sugerem que Pyongyang está com a ampliação de sua principal plataforma de lançamento de satélites quase terminada, o que poderia permitir o lançamento de um foguete de longo alcance no mês que vem. Em dezembro de 2012 lançou um satélite, o que provocou a ira da comunidade internacional. Ainda assim, Pyongyang assegurou que se tratava de uma teste disfarçado de míssil balístico. O Ministério da Defesa sul-coreano afirmou nesta segunda-feira que o campo de provas nucleares mais importante da Coreia do Norte se encontra em condições operativas, embora não haja indícios de um ensaio iminente. O terceiro e maior realizado pelo país asiático aconteceu em fevereiro do ano passado.