Bale cumpre, Jesé encanta
O galés abre a vitória do Madri (4-2) ante o Villarreal e o canterano põe em pé ao Bernabéu no segundo tiemposegundo
O temível Villarreal visitou o Bernabéu num momento de incógnitas. A torcida foi ao estádio para descobrir como seria preenchido o vazio deixado por Cristiano, o jogador mais determinante da equipe nos últimos anos, punido com suspensão de três partidas. O que ela viu foi a reafirmação de Jesé Rodríguez, um jogador diferente, revelado nas categorias de base, que historicamente produziram heróis imprescindíveis para compreender a grandeza do clube. Bale fez um gol, e o público o agradeceu. Mas foi o jovem atacante das Canárias, protagonista de uma noite memorável, quem ocupou o lugar nos sentimentos de uma torcida necessitada de heróis locais com os quais se identificar.
Corria o quinto minuto, e a partida não tinha dono. As equipes adiantavam as linhas, posicionavam-se, reduziam e mediam os espaços. O Real apertava, e o Villarreal teimava em ter a posse de bola, tirando-a limpa a partir da zaga. Então Gareth Bale cumpriu a principal tarefa defensiva que o treinador lhe encarrega: pressionar o quarto zagueiro da equipe rival. Foi isso que o galês fez, indo para cima de Chechu Dorado. O zagueiro se agitou, vacilou, e Bale lhe roubou a bola para então percorrer os metros que o separavam de Asenjo. Chutou por cobertura na saída do goleiro e marcou um gol que pesou como uma rocha sobre o confronto.
Bale deu a impressão de ter superado suas apreensões. Agora parece fisicamente bem. Sobra-lhe potência, e suas qualidades técnicas abrangem a quase totalidade do manual do atacante. Controla bem, vai bem de cabeça, usa ambas as pernas, tem intuição para aparecer, e seu chute, sobretudo de canhota, é uma glória. Suas bolas viajam estáveis, traçando uma linha reta, bonita. Dá gosto. Quando intervém nas jogadas e lhe dão espaços, ou quando lhe dão a bola de presente, é perigosíssimo. A questão não é a sua qualidade. A questão é o uso que faz dela. A administração dos seus recursos. A escassa frequência da sua participação, a distância entre um desmarque e o seguinte, e uma forte tendência ao isolamento. Seus companheiros tentaram compensar isso o procurando sempre que podiam. Illarra, Modric, Pepe, Benzema, Di María e Carvajal levantavam a vista observando a lateral direita para lhe entregar a bola. Quem sofreu foi Jesé, que, pela esquerda, precisou trabalhar mais para ser notado. Não é fácil a situação dessa prata da casa. Recentemente marcou gols decisivos no Mestalla, em San Mamés e contra o Atlético, e no entanto a mensagem que Ancelotti transmitiu é clara: a faixa da direita é de Bale.
O gol aturdiu o Villarreal e conferiu serenidade ao Real Madrid. Nenhuma das duas equipes estabeleceu seu domínio de forma nítida, e ambas chegaram às áreas apenas de forma esporádica. A diferença esteve na contundência. Os visitantes tiveram a chance do gol num cruzamento de Giovani que Pereira não interceptou, bem vigiado que estava por Pepe e Ramos. O Real se impôs com um cruzamento de Bale que ricocheteou em Costa e acabou no pé de Benzema. O francês encaçapou com um toque.
O prêmio garantiu ao Real um controle que, pelo jogo, não teria merecido. Modric e Di María se destacaram nesta fase, protegidos por um prolixo Illarramendi. Pouco a pouco foram arrebatando a posse do Villarreal, que, sem a bola, se sentiu condenado, sem autoestima. A impressão de abatimento parecia tão evidente que sugeria uma partida resolvida. O real deve ter interpretado assim, porque se largou na poltrona. Na marca de meia hora, deu um passo atrás e cedeu a iniciativa. Mario a aproveitou irrompendo de trás e surpreendendo Coentrão e Ramos antes de fulminar Diego López com uma bomba que devolveu a emoção à noite.
A partida ganhou vida depois do intervalo, e o Villarreal começou a se desdobrar, ameaçador. Era necessária uma jogada decisiva, um gesto de grandeza, a aparição de um jogador que inclinasse a balança. O homem foi Jesé, que até então já havia deixado o público de sobreaviso com um par de conduções fulgurantes. Foi lançado por Di María e Benzema. O centroavante encarou os zagueiros, devolveu a tabela, e Di María tocou para o novato. Jesé fez uma arrancada eletrizante, direcionou a bola, superou Dorado e, quase sem ângulo para finalizar a jogada, arrematou suavemente com o lado de fora do pé. A bola rolou até cruzar a linha junto ao segundo pau. Chorando. A torcida se levantou dos seus assentos para celebrar uma obra que abrangia muito mais do que um gol. Era a assinatura de um jogador genial, autêntico.
O fantástico gol do Giovani, de falta, no ângulo, deu mais gás a um duelo que Jesé acabou impregnando com cada movimento. Oferecia-se com inteligência, tocava, incluía companheiros na tarefa, arrancava, freava e oferecia soluções surpreendentes. Coisas que entretinham ao público e preocupavam os rivais, incapazes de segurá-lo. Jesé pôs o ponto final na noite com uma assistência a Benzema, outro dos destaques, que acertou o tiro de fora da área com um golpe de classe.
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