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Argentina tenta frear as subidas de preços depois da desvalorização

O Governo condena a atitude "especulativa" e "antipatriótica" de alguns empresários e impõe 31 multas a comércios de eletrônica e de eletrodomésticos por remarcar em 20% o valor dos produtos

Francisco Peregil

A Argentina está vivendo, nestes dias, uma corrida, onde cada movimento tem um efeito imediato sobre a vida de milhões de pessoas. O Governo permitiu na semana passada uma desvalorização do peso de 15%, a maior desde a crise de 2002. O dólar oficial abria na segunda-feira custando 6,85 pesos e terminou valendo 8. Mas os donos das principais redes de varejo de eletrodomésticos, dependentes por completo da importação, correram mais que a desvalorização e se apressaram em retirar, durante o fim de semana, os preços das vitrines, suspenderam os serviços de suas páginas na Internet, e quando recolocaram os preços, os mesmos televisores, microondas, e máquinas de lavar de sempre já custavam até 20% mais caros que quatro dias antes. Os lojistas alegaram que esse era o preço que ia lhes custar para repor a mercadoria. E não foram os únicos a elevar os preços.

 O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, assegurou na terça-feira pela manhã que o Governo detectou aumentos “injustificados” nos setores de cimento, concreto, aço, e asfalto. As concessionárias de automóveis também fixaram altas, entre 15% e 20%. Ele anunciou que a secretaria de Comércio impôs 31 multas, em sua maioria contra comércios de eletrônico e eletrodomésticos”. E advertiu que o Governo prevê combater as “manobras especulativas” mediante “multas, clausura, importações e retiro de benefícios de políticas públicas”. Ele assegurou que os abusos de preços não sairão grátis.

Capitanich costuma utilizar uma linguagem muito comedida em suas coletivas de imprensa, mas na terça-feira decidiu elevar o tom: “A conduta especulativa de muitos empresários e comerciantes na Argentina, a verdade é que dá… vergonha. Pela atitude antipatriótica que demonstram”, afirmou. “Quando aumenta o câmbio oficial, na dúvida, aumentam [o preço]. Se observam que há uma cotação oficial (em alusão ao dólar blue, ou do mercado negro), na dúvida, aumentam; quando aumentam os salários, na dúvida, aumentam; quando chove, porque chove, na dúvida, aumentam. Nunca se observará uma conduta que tenha a ver com a redução de preços quando se dão condições diferentes”.

As reuniões mantidas, nos últimos dias, entre Capitanich e o ministro de Economia, Axel Kicillof, com dezenas de empresários, finalmente deram frutos. Depois das cinco da tarde desta quarta, ambos ofereceram uma coletiva de imprensa, na qual Kicillof anunciou que várias empresas se  comprometeram a “retroceder” nos aumentos de preços, para os prévios à terça 21 de janeiro, ou seja, o dia em que começou a desvalorização, à qual Kicillof chamou “deslizameento cambial”. Enquanto isso, nas empresas de eletrodomésticos, que dependen quase por completo das importações, o aumento máximo permitido será de 7,5%.

Por su vez, o Banco Central vendeu 160 milhões de dólares nesta semana para fixar o valor do dólar oficial em torno dos 8 pesos. Na terça-feira, houve uma ligeira subida e o dólar situou-se a 8,04 centavos. Mas o que parece se descontrolar de novo é o dólar blue - que opera no mercado negro -, apesar de que mal se realizam operações nestes dias nesse mercado informal. Às três da tarde da terça-feira o dólar blue subia 35 centavos, em relação ao dia anterior e situava-se em 12,85 pesos por dólar. A subida resultava um tanto estranha, já que o Governo abriu na segunda-feira a venda oficial de dólares. E em dois dias concretizaram-se 22.000 operações de venda por um valor de 12,7 milhões de dólares.

Jorge Capitanich ressaltou que o dólar blue está associado “ao narcotráfico, à lavagem de dinheiro e à evasão fiscal”. E sua escalada obedece a uma “pressão psicológica” propiciada por alguns meios de comunicação para alterar o comportamento dos mercados.

 

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