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Obama alerta Rajoy que seu “grande desafio” é reduzir o desemprego

O presidente dos EUA elogia os avanços econômicos e a “grande liderança” do espanhol Ambos admitem a necessidade da consolidação fiscal. Rajoy rejeita que a Catalunha se torne independente

MIGUEL GONZÁLEZ (Enviado especial)
Rajoy estreita a mão de Obama durante sua reuni?n.
Rajoy estreita a mão de Obama durante sua reuni?n.JACQUELYN MARTIN (AP)

Ao fim de uma reunião que durou uma hora, e com breves declarações no Salão Oval, o presidente dos EUA, Barack Obama, cumprimentou o chefe do governo espanhol pelos “grandes avanços” obtidos pela Espanha em matéria de estabilidade econômica, consolidação fiscal e retorno aos mercados financeiros. Mas o advertiu de que tem pela frente “grandes desafios”, principalmente o de reduzir o desemprego e aumentar o crescimento. Obama reconheceu que Rajoy chegou ao poder em “uma época extremamente difícil” e, por isso, elogiou os avanços conseguidos “graças à sua grande liderança”.

Rajoy, por sua vez, garantiu que o objetivo de sua política econômica sempre foi o de resolver o problema do desemprego, mas primeiro teria de lidar com o saneamento do sistema financeiro e a consolidação fiscal. Além disso, ele saudou o fato de que no final de 2013 havia menos desempregados do que um ano antes, o que constitui o melhor dado dos últimos cinco anos. Obama considerou boas as medidas de ajuste fiscal aplicadas até agora pela UE, mas insistiu que “nesta etapa, o mais importante é estimular o crescimento e combater o desemprego”. Ele também se queixou de que alguns países com superávits, numa alusão à Alemanha, “poderiam fazer mais para incrementar a demanda”.

O primeiro-ministro espanhol saiu visivelmente satisfeito da Casa Branca, onde recebeu um aval a suas reformas econômicas e um voto de confiança na estabilidade política da Espanha. O encontro foi o corolário de dois anos de empenho para marcar essa reunião; um objetivo para o qual, segundo fontes diplomáticas, não cooperou – e provavelmente fez o contrário – o ex-embaixador norte-americano em Madrid Alan Solomont, convencido de que Rajoy não sobreviveria à crise econômica e aos escândalos de corrupção. Obviamente se enganou, talvez porque não valorizou a força que uma maioria absoluta possui no sistema político espanhol.

A delegação espanhola evitou tocar em assuntos espinhosos, como a espionagem massiva da Agência Nacional de Segurança (NSA), cujas revelações deixou ambos os governos em mãos dos serviços secretos; ou a falta de colaboração do Pentágono no processo aberto na Audiência Nacional pela morte do cinegrafista José Couso, durante a invasão do Iraque.

A jornada do primeiro-ministro em Washington se iniciou com uma visita ao cemitério nacional de Arlington, um impressionante campo-santo de 252 hectares onde estão sepultados mais de 250.000 soldados mortos em combate e veteranos de todos os conflitos nos quais os EUA se envolveram: desde a Guerra de Secessão até as do Iraque e Afeganistão. Em uma manhã fria e com sol, Rajoy foi recebido com saudações militares por uma companhia de honra e depois de escutar os hinos de ambos os países, depositou uma coroa de flores no monumento ao soldado desconhecido. Um gesto de respeito protocolar que, no entanto, Zapatero não recebeu quando visitou Washington em outubro de 2009.

Depois do encontro com Obama, Rajoy se reuniu com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, que na semana passada deu uma força ao Governo espanhol ao declarar que a Espanha e a Itália “quase voltaram à situação anterior à crise”.

Os EUA são o principal parceiro comercial da Espanha fora da UE. As exportações de mercadorias espanholas alcançaram em 2012 a cifra recorde de pouco mais de 9,01 bilhões de euros, com um incremento de 14%, enquanto as importações somaram cerca de 9,7 bilhões, com redução de 7,5%, o que reflete a retomada do consumo norte-americano, perante o estancamento do espanhol. “Vamos exportar carros Ford aos EUA”, afirma o embaixador Gil-Casares, transbordando de otimismo.

Além do mais, os EUA são o segundo investidor estrangeiro na Espanha, depois da Itália, com um estoque acumulado de 43 bilhões, enquanto que os EUA são o terceiro destino dos investimentos espanhóis, depois do Reino Unido e o Brasil, com 48 bilhões. Uma relação tão intensa não está isenta de problemas: investimentos norte-americanos levaram a Espanha a órgãos internacionais de arbitragem pelo corte retroativo de subsídios às energias renováveis. Outro litígio histórico, a falta de proteção à propriedade intelectual, parece pacificado, ao menos temporariamente, depois que o Departamento de Comércio deixou a Espanha fora da “lista 301” dos países que não atacam a pirataria.

Desejoso de enfatizar o papel da Espanha na pujante Aliança do Pacífico, que agrupa as economias mais dinâmicas da América Latina (Chile, Peru, Colômbia e México), Rajoy deu de presente a Obama uma biografia de Vasco Núñez de Balboa, um fac-símile de um mapa múndi da época e da carta que ele dirigiu ao rei Fernando, o Católico, anunciando o descobrimento do Pacífico, há 500 anos.

Lagarde: “Vai por bom caminho”

Tanto Obama como Rajoy asseguraram que a cooperação entre Espanha e EUA em matéria de segurança e defesa “nunca foi tão forte”. O primeiro agradeceu que Espanha aceite acolher na base de Morón (Sevilha) uma força de 500 marines cuja principal missão é proteger as embaixadas norte-americanas no Magreb e Oriente Próximo; e o segundo comprometeu-se a trabalhar para aprofundá-las ainda mais. Rajoy transladou a Obama seu apoio entusiasta ao tratado de livre comércio que negocia a UE com Washington e pôs em valor a influência de Espanha em Iberoamérica, um continente onde a democracia, o respeito aos direitos humanos e o progresso “se abrem caminho”.

Depois de sua cita na Casa Branca, Rajoy reuniu-se durante meia hora com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Segundo fontes de Moncloa, Lagarde felicitou ao presidente espanhol por suas reformas estruturais, especialmente em matéria trabalhista e de pensões, cujos resultados/resultos “já se vêem”; e mostrou-se convencida de que a consolidação fiscal “vai por bom caminho”. Todo um capotazo da máxima responsável por um dos organismos que integram a troika que se encarregou de supervisionar o resgate à banca espanhola.

Já pela tarde tinha previsto impor a Grande Cruz da Ordem de Isabel a Católica ao senador democrata Bob Menéndez, ex presidente do USA Spain Council e presidente da Comissão de Assuntos Exteriores do Senado, na residência do embaixador espanhol em Washington.

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