A recuperação do PIB espanhol toma corpo com alta de 0,3% no fim de 2013
O Governo antecipa que o crescimento no último trimestre foi o maior desde o início da crise. Guindos considera “muito provável” a geração de empregos neste semestre
A recuperação econômica, tão esquiva nos últimos anos, começa a pisar em chão firme. A variação do produto interno bruto (PIB), o indicador mais usado para calibrar a atividade de um país, volta a emitir sinais positivos. Se o exíguo avanço de 0,1% no terceiro trimestre de 2013 já permitia que a economia espanhola escapasse à segunda recessão em cinco anos, o Governo agora avalia que nos meses finais do ano passado a cifra chegou a 0,3%. Uma melhora que leva o Executivo do Partido Popular a antecipar a verdadeira linha de saída da crise, a geração de emprego, para o primeiro semestre deste ano.
O Governo não previa fazer revisão alguma de seu prognóstico nestes dias, mas o ministro da Economia, Luis de Guindos, não deixou passar a oportunidade de amplificar a mensagem positiva que alguns indicadores setoriais e sobretudo os mercados financeiros emitem sobre a economia espanhola nas últimas semanas. A percepção da opinião pública, mais preocupada com o alto desemprego, a desvalorização salarial, os cortes nos serviços públicos e os aumentos tributários, é bem diferente, conforme refletem reiteradamente as pesquisas, mas o ministro tentou driblar isso invocando um futuro mais louvável: “2014 deve ser o ano em que a sociedade começa a sentir a recuperação”.
Guindos compareceu ontem, a pedido dele próprio, à Comissão de Economia da Câmara dos Deputados, onde finalizou sua participação salientando sua crença em uma “recuperação tangível e real”, pouco antes que começasse em Washington a reunião entre o presidente do Governo [primeiro-ministro] espanhol, Mariano Rajoy, e o presidente norte-americano, Barack Obama. E, dentro de pouco mais de uma semana, acontecerá em Davos (Suíça) a edição anual do influente Fórum Econômico Mundial, que reúne líderes políticos e empresariais – um evento em cujas últimas edições a Espanha teve um indesejado protagonismo pela intensidade e repercussão da sua crise econômica.
Nesta inesperada revisão do quadro macroeconômico, Guindos se agarrou a dois argumentos para mostrar um horizonte mais claro do que aquele que o próprio Executivo desenhou há quatro meses. Além da enxurrada de dados recentes que amparam a nova previsão do Governo (a melhora da produção industrial, do spread da dívida, das vendas internas de grandes empresas, dos pedidos comerciais e das expectativas empresariais), soma-se o fato de muitos analistas privados concordarem com o prognóstico.
Os serviços de estudos do BBVA e da Fundação de Caixas Econômicas também acreditam que o PIB pode ter crescido 0,3% nos meses finais de 2013. Caso isso se confirme, terá sido o maior avanço da economia espanhola desde o começo de 2008, uma etapa em que mal chegou a meia dúzia o número de trimestres com resultado positivo. Este dado, além disso, permitiria cumprir a previsão oficial para o conjunto de 2013 (uma queda de 1,3% em relação ao ano anterior), ou mesmo melhorá-la ligeiramente.
Se há quatro meses o Governo arriscava um mínimo resultado positivo na geração de empregos no segundo semestre de 2014 (mais postos de trabalho do que um ano antes), ele agora considera “muito provável” que esse aumento da ocupação, inédito desde o início da crise, aconteça já “na primeira metade do ano”. E, se antes as autoridades avaliavam que a taxa média de desemprego neste ano giraria em torno de 26%, a nova previsão deixa essa taxa, ainda “insuportável” nas palavras de Guindos, em 25%.
A criação de empregos ocorrerá com um crescimento econômico muito baixo. “É um fato inédito na história recente”, afirmou Guindos, que também ponderou o “ajuste ineludível e necessário” da economia espanhola em diversos aspectos, como o endividamento privado, o déficit exterior, os custos trabalhistas e as contas públicas.
Também ficaram de fora da análise do ministro vários aspectos igualmente relevantes, como o aumento da dívida pública nos últimos dois anos, de 70% para 93% do PIB, um elemento que tinge de incerteza o futuro mais próximo. Ou que essa inédita criação de emprego com tão baixo crescimento se encaminhe para ser inédita também pelo aumento da precariedade no trabalho e pela redução dos salários. Que para alcançar a meta de déficit (redução de 6,8% para 6,5% do PIB), ainda que suavizada por Bruxelas – cúmplice nos excessos da austeridade fiscal de 2012 –, o Governo tenha precisado aumentar mais os impostos no meio do processo. E que a melhora dos mercados financeiros se deve quase totalmente ao maior ativismo do Banco Central Europeu desde julho de 2012.
“O desemprego cai porque as pessoas emigram, ou porque, desalentadas, deixam de procurar trabalho, mas o que também é histórico é a diminuição da população ativa nos últimos trimestres”, redarguiu o porta-voz socialista, Valeriano Gómez. “Seu otimismo me deixa atordoado, estamos em uma situação de emergência social”, observou Alberto Garzón, da Esquerda Unida.
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