_
_
_
_

O drible de Neymar desmistifica o Celtic

O Barça vence e convence, e o atacante brasileiro, reconciliado com o gol, marca três ● Piqué abre a goleada diante de um rival dominado; Pedro e Tello também marca

Ramon Besa
Neymar dribla o goleiro do Celtic.
Neymar dribla o goleiro do Celtic.Vicens Gimenez

O drible de Neymar acabou com a lenda defensiva do Celtic no Camp Nou. Os zagueiros escoceses se dobraram como peças de dominó cada vez que o 11 do Barça se aproximava da área de Forster. Não há situação futebolística mais efetiva para vencer as zagas obstinadas do que a finta, recurso habitual dos atacantes brasileiros, e claro que também de Neymar. Enquanto viver, Ambrose sonhará com o requebrar do atacante azul-grená, estupendo desde que Piqué derrubou a parede erguida por Lennon, o mesmo que em Glasgow denunciou Neymar por exagerar o pontapé que provocou a expulsão de Brown. Os barcelonistas quase não fizeram cruzamentos, como previam os escoceses, mas por outro lado contaram meia dúzia de gols, a metade deles assinada por Neymar.

Barcelona, 6 - Celtic, 1

Barcelona: Pinto; Montoya, Mascherano, Piqué, Adriano; Sergi Roberto, Busquets (Song, min 73), Xavi; Alexis (Tello, min 63), Neymar (Dongou, min 80) e Pedro. Não utilizados: Oier; Puyol, Iniesta e Jordi Alba.

Celtic: Forster; Lustig, Ambrose, Van Dijk, Matthews (Stokes, min 82); Brown, Biton (Commons, min 69), Ledley, Boerrigher; Samaras e Pukki (Mulgrew, min 46). Não utilizados: Zaluska; Baldé, Atajic e Fisher.

Gols: 1 x 0, min 7. Piqué; 2 x 0, min 40, Pedro; 3 x 0, min 44, Neymar; 4 x 0, min 48, Neymar; 5 x 0, min 58, Neymar; 6-0, min 72, Tello; 6 x 1, min 88, Samaras.

Árbitro: S. Karasev. Advertiu Brown, Sergi Roberto e Matthews.

54.342 espectadores no Camp Nou.

O Celtic sempre foi uma equipe difícil e desagradável na etapa de bonança do Barcelona. Assim como o Rubin de Kazan. Os rivais mais simples jogavam como os piores inimigos no Camp Nou. As coisas mudaram desde que o Barça perdeu singularidade e ganhou convencionalismo, momento, portanto, para a normalidade. Os garotos de Martino despacharam sem pestanejar a rapaziada de Lennon. A partida foi um presente em plena transição futebolística do Barça, tempo para discutir sobre escalações, salários, lesões, denúncias e o futuro Camp Nou. A carga do ambiente perdeu qualquer importância diante da atuação completa do Barça e sobretudo do magistral Neymar, aclamado pela torcida do Campo Nou.

Não é fácil explicar o mistério do Celtic. Quase não ganha jogos, dificilmente marca gols, é o último do torneio em número de passes e, no entanto, mantém sua credencial de inimigo ruim, supostamente por impedir os rivais de jogarem. Acostumados a atuarem sem bola, os escoceses fazem de tudo para defender sua meta e se conformam em forçar escanteios, admiráveis que são no jogo direto e de estratégia. Ontem, no entanto, se deixaram vencer muito rapidamente, justamente após uma cobrança de escanteio rebatida por Piqué, atualmente artilheiro, porta-voz, líder e rei da cocada preta. Piqué é o senhor, Alexis faz o papel de agitador, e o artista naturalmente é Neymar, felizmente reencontrado com o gol, e finalmente brilhando na ausência de Messi.

Os barcelonistas governaram o confronto a partir da recuperação de bola e da pressão, expressas na agressividade de Alexis e Pedro, para depois se exibir com o desequilíbrio de Neymar. O fio condutor do jogo continua sendo Busquets. A partir do meia, o Barça controlou muito bem a partida e edificou um triunfo incontestável, só manchado no final pelo gol de honra de Samaras, que só não se repetiu graças à intervenção de Piqué, que tanto defendia quanto atacava, presente nas duas áreas, convencido da sua boa estrela. A onipresença do meia e de Neymar disfarçaram a comportada atuação dos volantes, Xavi e Sergi Roberto, imperceptíveis pelo ruído dos gols, e ao mesmo tempo decisivos pela sutileza com a qual interpretaram a partida.

A recuperação de bola e a pressão foram expressas na agressividade de Alexis e Pedro

O Barça soube dosar bem, seu jogo teve continuidade do princípio ao fim, e resolveu algumas perguntas que a noite lhe apresentava: a equipe ganhou e convenceu, e Neymar goleou. O brasileiro demorou a aparecer em campo, sem foco e sem força cada vez que se desprendia para receber a bola, ofuscado por seu interesse em se afirmar como goleador, confuso porque não se sabia se ele jogava como falso 9 ou como 11. Pareceu inclusive fora de forma, enquanto Piqué mandava. Mas, assim que avançou sua posição, se apresentou diante de Ambrose e Van Dijk e varreu o comando de ataque, Neymar deu um salto no seu futebol. Fez a assistência para Pedro no 2 x 0; marcou o terceiro com o gol livre, após jogada de Montoya; meteu o quarto de canhota, numa ação iniciada por Xavi; e anotou o quinto, obra-prima da noite pela variedade de recursos técnicos; o sexto da equipe saiu num rebote aproveitado por Tello.

Surpreso, debilitado pela reserva de Commons, alma e artilheiro de equipe, com 12 gols, o Celtic não encontrou antídoto para Neymar, excelente no drible, na mudança de ritmo, nas pedaladas, nas fintas por baixo das pernas, nos toques de calcanhar e também no arremate. O 11 não só soube ganhar os espaços com seu drible como também funcionou como artilheiro. O dinamismo de Neymar confundiu os escoceses, que haviam se preparado para vedar os cruzamentos, negar os passes pelo meio e combater o esquema tático, dispostos a jogar uma partida de 90 minutos em 30 metros, o futebol natural do Barça. Mudam os azuis-grenás, ontem mais naturais, normais se preferir, e em troca mais resolutivos.

Os gols ajudam a combater a nostalgia e a melancolia em tempos de espera e transição, neutralizam o papo furado e também a discussão fora de campo, e vêm a calhar para preparar confrontos mais difíceis, como o de sábado, contra o Villareal. Ontem, por enquanto, o Barça encontrou Neymar, em vez de Neymar encontrar o Barça.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_