Silêncio de Temer deixa “incólumes” evidências de corrupção, diz PF
Um juiz federal rejeita queixa-crime do presidente que queria processar Joesley por injúria
O presidente Michel Temer procurava um respiro para a crise política com uma viagem à Europa, mas nesta terça-feira amargou em Moscou as más notícias vindas do Brasil. Enquanto se encontrava com investidores russos e assistia a um show de dança com o presidente daquele país, Vladimir Putin, no famoso teatro Bolshoi, no Brasil era divulgado o relatório da Polícia Federal que acusa Temer de "práticas de corrupção passiva". Ao mesmo tempo, a estratégia do presidente de se defender na Justiça das acusações de Joesley Batista naufragava.
A PF assegura que tem evidências de que o presidente aceitou "promessa de vantagem indevida em razão de sua função" para o que teria se valido "da interposição" de Rodrigo Rocha Loures, o conhecido como "deputado da mala". Rocha Loures, já na cadeia, foi filmado pela policia na saída de uma pizzaria de São Paulo com um mala na que havia 500.000 reais entregues por um intermediário do dono da JBS, Joesley Batista. A PF assinala que, em eus depoimentos, um executivo da JBS e também delator, Ricardo Saud, "foi categórico ao afirmar" que esse dinheiro ia ser repassado ao presidente da República.
Além disso, a PF lembra que Temer se recusou responder as 82 perguntas por escrito que lhe enviou o procurador-geral, Rodrigo Janot, para tentar esclarecer a relação do presidente com Batista e com o ex-deputado Rocha Loures. A mesma reação teve também o próprio Rocha Loures, que não quis depor perante a polícia. "Diante do silêncio do mandatário maior da nação e de seu ex-assessor especial [Rocha Loures]", salienta o relatório policial, "resultam incólumes as evidências" da "prática de corrupção passiva".
Não foi, no entanto, a única notícia ruim que o presidente recebeu em Moscou. A tentativa de Temer de constranger Joesley Batista, depois de que o empresário o classificou de "chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil" em uma entrevista no fim de semana na revista Época, acabou em fracasso. O juiz federal de Brasília Marcos Vinicius Reis Bastos rejeitou a solicitação do presidente de processar ao empresário por essas declarações.Temer acusava a Batista de "calúnia, difamação e injuria". Mas o juiz argumenta que Joesley é um colaborador do Ministério Público Federal e que a sua intenção com a entrevista era somente "corroborar as declarações" já feitas anteriormente no acordo de delação premiada. Segundo o juiz, "não há como identificar" na conduta do empresário "vontade específica de macular a imagem de alguém". Joesley, na entrevista com a Época, "narrou fatos e forneceu o entendimento que tem sobre eles, ação que se mantém nos limites do seu direito constitucional de liberdade de expressão".
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