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“Olá, meu nome é James, pode me passar o rímel?”

Um jovem é o novo rosto de uma empresa de maquiagem Por acaso ficar bonito não é coisa de homem?

Não é nenhuma novidade que os garotos se maquiem. David Bowie fez isso há mais de 40 anos, criando uma tendência que se resolveu chamar de glam rock. A novidade é que o rosto da campanha de uma empresa de produtos de maquiagem − que, ainda por cima, chama-se CoverGirl (“garota da capa”) − pertença a alguém que responde pelo nome de James Charles. E quem é James Charles? Ele se apresenta assim no Instagram: “Artista de maquiagem de 17 anos, cantor ocasional e covergirl”. James é um garoto.

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Além da isca comercial, a campanha traz uma questão mais significativa: a ideia de que o interesse pela beleza não é de uso exclusivo de um gênero. A marca defende que tanto homens como mulheres podem usar rouge, sombra e rímel. Esta ruptura das construções sociais de gênero é algo cada vez menos minoritário, embora ainda continuem chamando a atenção notícias como a de um menino querendo usar uma roupa considerada feminina, como o disfarce de princesa do filho de Charlize Theron. Cada vez mais empresas deixam de lado a diferenciação por gênero em suas criações, como fazem Givenchy, Prada, JW Anderson e Hedi Slimane com seus objetos unissex.

Ainda é necessário esclarecer que gênero, sexo e orientação sexual não têm relação. A escolha de uma ou outra roupa não significa uma determinada orientação. Aqueles que praticam o crossdressing (literalmente, “vestir-se ao contrário”) são, para o professor Brett Genny Beemyn, da Universidade de Massachusetts-Amherst (EUA), “indivíduos que assumem aparência e conduta que são consideradas por certa cultura como sendo de outro gênero, mas não pertencem a ninguém”. Segundo uma pesquisa feita em 1999, citada no livro Today’s Transgender Realities: Crossdressing in Context (2008), 48,8% dos crossdressers se definem como heterossexuais.

O tabu do rímel

Muitos homens usam maquiagem diariamente: atores, apresentadores de televisão, roqueiros... e sempre com intenção de parecer mais bonitos. Em outras culturas − dos nativos americanos a muitas tribos africanas −, os homens pintam o rosto com diversos significados. Em nosso ambiente cotidiano, entretanto, isso não é comum. Um estudo realizado em 2014 por pesquisadores de várias universidades britânicas concluiu que os homens estão cada vez mais interessados em sua imagem, mas na hora de enfrentar a maquiagem “ainda se regem por uma versão convencional da masculinidade”.

Lamentavelmente, essa imposição de gênero faz com que a maioria daqueles que usam maquiagem prefira que não se saiba disso. Em uma pesquisa realizada em 2010 no Reino Unido, perguntaram a 1.800 homens se eles usavam maquiagem em segredo, e 11% responderam que sim. Destes, 71% recorriam ao corretor, 64% ao gloss de lábios e 49% ao delineador.

Também era impensável até pouco tempo atrás que os homens usassem perfumes de aromas florais e exóticos. Hoje, no entanto − após insistentes e atraentes campanhas publicitárias −, tais perfumes impregnam o pescoço de milhões de homens no mundo inteiro. Será que a CoverGirl conseguirá, finalmente, quebrar o tabu da maquiagem?

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