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Coluna
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Onde Dilma tropeçou?

Negar que Rousseff cometeu erros de cálculo político seria querer negar algumas cenas cruciais deste drama

Dilma no Palácio da Alvorada em 18 de agosto.
Dilma no Palácio da Alvorada em 18 de agosto.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)

A inesperada ressurreição da autoestima coletiva da sociedade brasileira foi impulsionada, paradoxalmente, por uma Olimpíada na qual ninguém acreditava, mas que acabou sendo aplaudida pelo mundo.

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Agora, esse milagre deveria se transformar em algo mais do que um sonho que se dissipa ao despertar. Deveria ser o ponto de apoio para se abordar a provável saída de Dilma. Deixando de lado a disputa política, não deixa de ser um momento relevante, doloroso e dramático para a democracia.

Seria necessário perguntar-se no que Dilma Rousseff acabou tropeçando politicamente, já que existe um consenso geral quanto a sua honestidade pessoal.

Negar que Rousseff cometeu erros de cálculo político seria, a essas alturas, querer negar algumas cenas cruciais deste drama.

A sociedade brasileira soube sempre enfrentar e resolver seus desafios históricos

Para além das lutas jurídicas, não resta dúvida de que Dilma teve em suas mãos várias opções para abordar sua defesa e buscar a melhor saída para ela e para a sociedade, evitando assim que tudo isso não acabasse por se tornar um drama nacional mais psicanalítico do que político. Poderia, quando ainda havia tempo, ter convocado novas eleições, deixando aos cidadãos a possibilidade de se expressar nas urnas. Tentou fazer isso agora, quando já não há tempo nem vontade no Congresso.

Várias instituições tinham lhe pedido isso, já que a renúncia, que alguns teriam preferido, seria muito mais dramática.

Mas Rousseff preferiu resistir a qualquer custo e agora paga o preço de ver-se presa em um beco sem saída aparente.

Talvez tenha lhe faltado lembrar que a política é a arte da negociação, sem a qual não existe democracia.

Preferiu, na maioria das vezes, o soco na mesa como gesto de resistência ao diálogo, por exemplo, com o Congresso e a oposição. Talvez também com a sociedade.

Não acredito no axioma de que as sociedades têm os governos que merecem. Pelo menos nem sempre é assim. Na verdade, quando se enganam costumam ter força para reagir.

Com todos os seus defeitos, a sociedade brasileira concretamente sempre soube enfrentar e resolver seus desafios históricos. O poeta José Salgado Maranhão escreve em sua conta do Facebook: “Não desfaço de nenhum povo, todos têm sua graça e suas virtudes, porém, em matéria de arte, de diversidade cultural, nós somos imbatíveis. Somos um povo que vem de uma longa estrada de lutas e adversidades, sobretudo a grande maioria da população, muitas vezes sugada por dirigentes desonestos. No entanto, é essa mesma população sofrida que é capaz de prodígios para revelar o extraordinário caleidoscópio de sua alma miscigenada. E, feito cana do moedor, tira mel da própria dor”.

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