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Dilma propõe novas eleições a uma semana do desfecho do impeachment

Presidenta afastada quis deixar documento histórico e repetir o discurso de que é vítima de um golpe

Dilma Rousseff lê a carta.
Dilma Rousseff lê a carta. Roberto Stuckert Filho/ PR

A presidenta afastada Dilma Rousseff (PT) decidiu jogar suas últimas fichas para manter-se no cargo e evitar que o impeachment seja aprovado pelo Senado no final deste mês. Dilma convocou a imprensa nesta terça-feira para ler a carta escrita aos senadores, garantindo que defenderá um plebiscito para consultar a população sobre a possibilidade de realizar uma nova eleição presidencial. “Entendo que a solução para as crises política e econômica que enfrentamos passa pelo voto popular em eleições diretas”, disse a presidenta no pronunciamento que durou pouco mais de 13 minutos, sem direito a perguntas dos mais de 50 jornalistas que compareceram à coletiva, realizada no Palácio da Alvorada.

Os repórteres foram convocados nesta mesma terça, um timing complicado em meio à Olimpíada: marcado para começar às 15h, a coletiva teve início pouco antes das 16h, pois a mandatária teve de concorrer com a seleção feminina de futebol do Brasil, que ainda enfrentava a Suécia pela semifinal da Olimpíada do Rio.

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Antes de ler a carta, a petista distribuiu o documento aos 81 senadores. No documento, a petista repetiu assuntos dos quais têm tratado desde maio passado, quando foi afastada temporariamente do cargo. Afirmou, por exemplo, que é inocente e vítima de um processo ilegítimo iniciado por uma pessoa que é investigada por ter recebido propina e por ter contas ilegais no exterior. Não citou nomes, mas era novamente uma clara menção ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A presidenta e seus aliados consideram que o impeachment só começou porque Cunha não teria recebido o apoio do PT na representação por quebra de decoro parlamentar que ele respondia no Conselho de Ética da Câmara.

Sabendo que as chances de reverter o placar no Senado são reduzidíssimas, Rousseff tratou de escrever um ‘documento histórico’, segundo apurou o EL PAÍS. Seu objetivo era o de voltar a espalhar o discurso de que ela foi vítima de um golpe de Estado. “Se consumado o impeachment sem crime de responsabilidade, teríamos um golpe de estado. O colégio eleitoral de 110 milhões de eleitores seria substituído, sem a devida sustentação constitucional, por um colégio eleitoral de 81 senadores. Seria um inequívoco golpe seguido de eleição indireta”.

Atualmente, ela é ré pelo crime de responsabilidade. As acusações contra a presidenta são de que ela assinou irregularmente três decretos de suplementação orçamentária sem a aprovação do Congresso Nacional e de que praticou pedaladas fiscais. Ainda que as denúncias atinjam diretamente o seu partido e vários de seus antigos aliados – e que acabam respingando nela – Dilma defendeu a manutenção do combate à corrupção. Afirmou, contudo, que não podem afastá-la pelo conjunto da obra e também não apenas por possíveis crimes de responsabilidade. “Não é legítimo, como querem meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo ‘conjunto da obra’. Quem afasta o presidente pelo ‘conjunto da obra’ é o povo, e só o povo, nas eleições”, afirmou.

O movimento melancólico de Dilma é acompanhado de longe por seus companheiros de partido, que não se pronunciam diretamente sobre as intenções da presidenta. “A carta será o pensamento dela, o sentimento dela. O certo é que ela fará uma defesa da democracia. A presidente não vai perder o apoio do PT se defender a posição do plebiscito. Dissemos isso a ela”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE) há poucos dias. Já o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, avaliou que a proposta da presidenta se trata de um “brincadeira de criança”, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo. “Um plebiscito teria que passar por uma emenda e teria que ter sua constitucionalidade verificada pelo próprio Supremo”, lembrou ele nesta terça.

Dilma aproveitou a ocasião para voltar a defender a realização de uma ampla reforma política e eleitoral, algo que ela não conseguiu fazer nos quase cinco anos e meio em que esteve no poder. Ao fim de seu documento, a presidenta escreveu: a democracia há de vencer.

O pronunciamento da petista foi concorrido. Os ex-ministros da Jaques Wagner, Miguel Roseto, Ricardo Berzoini, Aloizio Mercadante e Eleronora Menicuci também estiveram no Alvorada, o local onde a presidenta se refugiou desde que perdeu o poder. O clima de que esse poderia ser o último ato público da presidenta antes de seu impedimento alimentou a curiosidade da imprensa, ainda que ninguém tenha tido direito a fazer qualquer questionamento.

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