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A febre pela camisa da Marta será medida depois da Olimpíada

Se o frisson por uma camisa da estrela da seleção ultrapassar os jogos do Rio, o futebol feminino finalmente estará em um novo patamar

Marina Rossi

Nos últimos dias, uma febre tomou conta da torcida brasileira de futebol: a busca, sem sucesso, pela camisa da seleção brasileira com o nome de Marta, a estrela da equipe feminina. Uma procura em lojas especializadas, e a camisa com o nome de Neymar, que assim como Marta usa o número 10, pode ser encontrada facilmente. A de Marta, ou de qualquer outra jogadora da seleção feminina, não.

Marta, na partida contra a África do Sul nesta terça.
Marta, na partida contra a África do Sul nesta terça.RAPHAEL ALVES (AFP)
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A ausência do uniforme com o nome de Marta estampado causou frisson nas redes sociais. Um abaixo-assinado chegou a ser feito, pedindo que a Nike, responsável oficial pela confecção dos uniformes da seleção, fizesse as camisas com o nome da jogadora. Por meio do Twitter, a empresa se justificou dizendo que não comercializa nenhuma camisa com nomes, e que esses podem ser estampados nas lojas que comercializam os uniformes. As lojas, por sua vez, se dividem entre o silêncio – caso da rede Centauro, que até o fechamento desta reportagem não havia informado se tinha ou não camisas da jogadora à venda – e o senso de oportunidade: na tarde de quarta-feira, a Netshoes vendia pelo site as camisas de Marta e de outras jogadoras da seleção feminina.

Essa febre pelas mulheres do futebol brasileiro parte de dois princípios. O primeiro, é mérito da própria seleção feminina, que vem apresentando um brilhante desempenho desde o início dos jogos. Nesta Olimpíada, a atacante Cristiane se tornou a maior artilheira das olimpíadas, com a marca de 14 gols. Nenhum homem chegou lá até agora. A segunda razão pela qual a seleção feminina se transformou nas meninas dos olhos dos brasileiros é pelo vácuo que a seleção masculina vinha deixando, desde o amargo e inesquecível 7 a 1 daquela terça-feira gélida de 2014.

Na noite desta quarta, pela primeira vez Neymar e companhia tiveram uma chance de se redimir, ao vencer a Dinamarca por 4 a 0. Mas a mácula do 7 a 1 deve perseguir o time por muito tempo.

Enquanto isso o futebol feminino ganha espaço, e público nas arquibancadas. Mas, diferentemente da seleção masculina, a torcida feminina só cresce nas competições grandiosas, como as olimpíadas ou os jogos Pan-americanos. Na Rio 2016, em especial, seu bom desempenho ganha ainda mais destaque diante do futebol frio que os rapazes apresentaram contra a África do Sul e o Iraque. Ambos terminaram no zero a zero. Já as mulheres estrearam na competição com um 3 a 0 contra a China, seguido por um 5 a 1 contra a Suécia. A última partida, contra a África do Sul, ficou no zero a zero, mas a seleção já estava classificada para as quartas de final.

Mas o que acontece entre um grande evento esportivo, como as olimpíadas, e outro, mais se parece com um imenso vácuo, em que ninguém fala ou assiste aos jogos das mulheres. É como se, fora dos grandes campeonatos, a seleção feminina voltasse para o banco de reserva, e a masculina, apesar dos deslizes por vezes vexatórios, seguisse como titular.

Não é à toa, portanto, que nenhuma loja exiba nas suas vitrines a camiseta da Marta. A demanda simplesmente não existia até agora. O difícil é saber se falta investimento para o futebol feminino, ou se o futebol feminino é pouco prestigiado e por isso não tem investimento. À pergunta do ovo e da galinha é difícil de se encontrar uma resposta. Trata-se de um pouco dos dois. A torcida dos estádios, majoritariamente masculina, não deve migrar para as arquibancadas dos gramados femininos. Ou seja, é preciso que um novo público para o futebol seja criado. Para isso, é preciso investimento. O vôlei conseguiu fazer isso, e hoje, tanto o time das mulheres quanto o dos homens é prestigiado de maneira parecida. Se o futebol será capaz de repetir essa fórmula, só o futuro dirá.

A seleção masculina, de qualquer forma, teve trégua nesta quarta ao vencer a Dinamarca. A torcida, que até então chamava pela Marta quando Neymar pegava na bola, ficou mais mansa. Ao menos até a próxima partida. Já a seleção feminina, ficou no zero a zero na última partida, jogada na segunda-feira. As mulheres entraram em campo já classificadas para as quartas de final, então apenas seguraram o empate. Fora dos gramados, se a camisa da Marta continuar nas vitrines mesmo depois da Olimpíada, aí então o futebol feminino estará, finalmente, em um novo patamar.

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