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Pessimismo recua na economia com expectativa de impeachment e exterior

Empresários acreditam que a confirmação do afastamento de Dilma deve destravar investimentos

Descontos nas vendas de imóveis diminuíram, segundo a Secovi-SP.
Descontos nas vendas de imóveis diminuíram, segundo a Secovi-SP.Fotos Públicas

A sensação de que a economia brasileira estava na UTI desde que a crise política se aprofundou no ano passado começa a ficar para trás, segundo a percepção de diversos agentes econômicos. Ainda que seja certo que a recessão neste ano será de um PIB negativo, um sentimento de que o Brasil já encarou o fundo do poço e começa a puxar a cordinha para sair dele vem se espalhando. Se não, vejamos:

– Levantamento mensal da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial cresceu pelo terceiro mês consecutivo e atingiu 47,3 pontos em julho. O número ainda está abaixo dos 50 pontos que indicam empresários "otimistas", mas revela, pelo menos, que a confiança, condição fundamental para tomar decisões de investimento, parou de cair.

– No comércio, o índice que mede a intenção de novas contratações de empregados subiu entre junho e julho, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

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– Em junho, na sondagem da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, a pesquisa que mede a intenção de investimento dos empresários do setor apresentou a primeira alta em três meses. Passou de 23,2 pontos em maio para 26,9 pontos em junho, embora ainda esteja longe dos 50 pontos que indicaria crescimento.

Nada a ponto de celebrar vitória de final de campeonato, mas são indícios de que o pessimismo começa a recuar. “Não sentimos otimismo, mas sim menos pessimismo. Ninguém investe se não tem confiança no futuro. Agora que a política e a economia do país começam a se normalizar, as pessoas voltam a pensar em investir”, explica José Carlos presidente da CBIC, para quem o país já bateu no fundo do poço.

Para além da expectativa, há dados concretos que demonstram uma tímida recuperação apesar de todas as notícias negativas, que vão de desemprego em alta, inflação resistente até a possibilidade de aumento de impostos. É o caso das importações brasileiras, que aumentaram com a valorização do real nas últimas semanas. A média diária de importação, que vinha caindo sucessivamente desde 2014, subiu quase 10% em junho e julho. Entre janeiro e maio, o país importava 530 milhões de dólares por dia. No mês passado, a média subiu para 580 milhões e vem se mantendo assim em julho.

Este avanço mostra que a atividade interna melhorou e fez crescer as compras do exterior, segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. O real valorizado também ajudou a estimular as importações. "Houve uma mudança de ambiente, está mais light, as pessoas querem pensar de forma positiva e isso faz com que o cenário fique melhor", explica. Para Castro, a tendência é que, após a conclusão do impeachment em agosto, caso seja confirmada a saída da presidenta Dilma Rousseff, a atividade econômica comece a desenhar um quadro ainda mais favorável com o Governo legítimo de Michel Temer. “Com o impeachment confirmando, as pessoas param de viver de expectativas e passam a tomar decisões, o que melhora o ambiente”, explica.

Diversos agentes ancoram suas expectativas otimistas na confirmação do impeachment. “A saída definitiva de Dilma possibilitará decisões econômicas importantes da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, refletindo já a médio prazo no setor imobiliário”, avalia Flavio Amaury, presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). “Estamos chegando no momento da virada. Há um aumento de visitas nos plantões de venda e uma retomada dos lançamentos de imóveis. Percebemos também que diminuiu a quantidade de descontos aplicados por empresas no início do ano”, relata Amaury.

"Não sentimos otimismo, mas sim menos pessimismo".

Sinais positivos também são vistos no aumento das cotações em bolsa. No ano, o Ibovespa acumula ganho de 30,79%. Ainda que grande parte dessa alta venha de ventos favoráveis do exterior, o ambiente interno também tem contribuído. Um relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, prevê o aumento de fluxos de investimento estrangeiro para o Brasil ainda neste ano e também no próximo. Segundo o documento, as medidas de ajuste apresentadas pela equipe econômica de Michel Temer tem sido essencial para a redução do medo dos investidores estrangeiros. Ainda segundo o IIF, há finalmente uma luz na escuridão da crise brasileira.

Revisão do crescimento do país

Na semana passada, acompanhando a mudança de humor dos empresários e consumidores, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atenuou também a projeção de queda da economia brasileira neste ano. A recessão será um pouco menos severa, passou de -3,8% para -3,3%. Para o ano que vem, o fundo estima um pequeno avanço de 0,5%. A revisão do resultado para o Brasil leva em conta uma melhora no cenário das matérias-primas e o mercado de energia.

“Essa revisão do FMI é muito emblemática do que estamos sentindo. É claro que um recuo de 3,3 é um tombo grande, mas é menos pior que 3,8”, afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC.

As incertezas com a crise político-econômica brasileira fez com que investidores se retraíssem na hora de fechar negócios no país, o movimento, no entanto, tem revertido segundo Piero Minardi, vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e Sócio-Diretor da WarburgPincus. "Com a mudança de Governo, os negócios estão começando a ir para os finalmentes, a se concretizar. As atividades e negociações, mesmo na crise, não caíram, mas a decisões finais sim", explica. Segundo Minardi, alguns investidores estratégicos chegaram a comprar empresas no Brasil, porque estavam mais baratos. Neste momento, ele acredita que a tendência é uma maior concretização de negócios para os diferentes investidores.

Apesar da onda de menos pessimismo de setores específicos, algum economistas avaliam que é melhor adotar a cautela antes de comemorar. Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), ainda é cedo para falar em retomada da economia. Na avaliação dos economistas do Ibre, o processo de recuperação será bem mais lento do que a grande parte dos analistas está prevendo. O instituto pondera que uma das causas do ceticismo quanto a retomada é entender, por exemplo, o quão sustentável é a melhora dos indicadores de confiança empresarial, um dado bastante subjetivo. " Não se pode destacar a hipótese de que as expectativas estejam sendo mais influenciadas pelos anúncios de substanciais reformas e mudanças na política econômica do que por resultados efetivamente obtidos no campo do tão necessário reequilíbrio das contas públicas", explica informe do instituto publicado nesta semana.

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