Não chamei Temer de golpista, nem Dilma de inocente
Posso julgar, criticar ou aplaudir suas ações como homens públicos, nunca suas pessoas
Alguns leitores, entre eles o senador Cristovam Buarque, a quem considero uma das figuras de maior peso intelectual e ético do Congresso, estranharam que, na minha coluna intitulada “Como é possível que a maioria dos brasileiros prefira Temer a Dilma?”, eu tenha qualificado o primeiro de “golpista” e a segunda de “inocente”.
Escreve-me Buarque:
“Juan, sem entrar no mérito de sua análise, me pergunto como a Dilma, por duas vezes, foi para as ruas e televisão dizendo que o Temer era um companheiro progressista, honesto, etc... E que se algo acontecesse a ela, que já teve problemas de saúde como todos nós, o Brasil estaria em boas mãos. Ao ler seu artigo, chego à conclusão que ela merece ser cassada pelo crime de responsabilidade por ter escolhido por duas vezes um vice que você diz ser direitista e golpista.
Cristovam.”
Isso me obriga a fazer um esclarecimento, já que esses apelativos sobre Temer e Dilma, usados no artigo, eram só um exercício de ironia, para contextualizar o conteúdo do mesmo. Possivelmente deveria tê-los escrito entre aspas, algo sempre desaconselhado no jornalismo, e que neste caso considerava implícitas no contexto.
Em minha coluna me pergunto, à luz do resultado da última pesquisa do Datafolha, como é possível que os brasileiros em sua maioria preferissem Temer a Dilma, se tudo o que foi dito até agora dentro e fora do Brasil é que Dilma é a vítima inocente de um golpe político, e Temer, um golpista e traidor.
Minha conclusão era que “políticos e intelectuais não deveríamos esquecer que a voz da sociedade nem sempre se sintoniza com nossas análises e profecias”.
Minha análise observa que, se os brasileiros preferem Temer a Dilma, isso deve significar que a grande massa dos trabalhadores, “que têm pouco tempo para pensar e muito para sofrer”, os “sem privilégios, os que sabem pouco de sutilezas jurídicas e muito de como é preciso lutar a cada dia para sobreviver”, talvez comecem a ver, junto com os empresários, que “a cambaleante economia que Dilma deixou de herança, em uma das crises mais graves da história do país, começa a respirar positivamente”.
Outros leitores preferiram questionar a legitimidade da pesquisa do Datafolha, para negar que a maioria da sociedade prefira Temer a Dilma. E estão no seu direito. Outros atribuem o resultado da pesquisa ao fato de que quem assim opinou foram cidadãos “sem formação, semianalfabetos”. É outra opinião.
Nada mais sagrado na democracia do que poder opinar em absoluta liberdade. O que tal democracia não inclui é o direito de ferir ou insultar a reputação dos outros, algo que nunca me permitiria com Temer, com Dilma nem com ninguém.
Posso julgar, criticar ou aplaudir suas ações como homens públicos, nunca suas pessoas.
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