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Uma goleada e todos felizes

A França, com a melhor versão de Pogba, domina no primeiro tempo uma Islândia que lutou até o final. Franceses pegam a Alemanha

Griezmann supera Halldorsson no quarto gol da França.
Griezmann supera Halldorsson no quarto gol da França.Mike Hewitt (Getty)
José Sámano

Pés no chão. A Islândia caiu do céu de uma vez, com cinco estocadas da França de aço dos nossos tempos. Da França de Platini e depois Zidane à de Pogba, seu pôster. Uma seleção menos com seda que com uma safra de jogadores de físico privilegiado, uma equipe atlética, esculpida à maneira grega de Olímpia. Como demonstra o segundo gol, um escanteio batido por Griezmann que despertou a fera, este prodígio físico que é Pogba. Chegou para cabecear como se fosse uma manada. Bödvarsson, que estava por lá, foi atropelado pelo sétimo regimento da cavalaria.

Eram passados só 20 minutos, mas a Islândia já jogava mais na arquibancada que no campo. Giroud já tinha lhe dado um choque de realidade. E não apenas nos nórdicos. Também nos ingleses, que em casa, esfregavam os olhos pelo que é a Islândia e pelo que é sua Inglaterra. Pesadelo para os ingleses, conto de fadas para os islandeses. Jogadores e público não vão esquecer nunca esta Eurocopa, que vai passar de boca em boca por gerações. O futebol também não os tirará da memória.

Não houve jogo em Paris. Desde o início os rapazes de Hallgrimsson e Lagerbäck não conseguiram nem desafiar os franceses. A França não demorou para cumprir seu dever. Matuidi lançou de longe para Giroud, que se livrou dos zagueiros, ficou de frente para o goleiro e marcou por entre suas pernas. Fora ou não de jogo, os defensores islandeses protegeram Reikjavik. Os galos sentiram que o dia prometia. Seus rivais, que a despedida era questão de mais uns 80 minutos. Tão admirável é esta seleção que nunca, apesar das chicotadas que se aproximavam, baixou a guarda nem se retrancou. Pouca coisa purifica mais que um perdedor coberto de honra.

Sem Kanté e Rami, suspensos, Deschamps optou por Sissoko para servir de pivô e Umtiti como zagueiro. Boa notícia para os fãs do Barça, que não tinham muitas pistas sobre seu novo contratado. O garoto, de 22 anos, passa alguns dias em sua Disneylândia particular. Contratação azul-grená e estreia internacional numa grande competição, o que um francês não fazia desde 50 anos antes, De Michele no Mundial de 1966. Umtiti tomou cartão por chegar tarde a um cruzamento e ficou mal na foto do primeiro gol nórdico. De resto, a partida seguiu sem grandes surpresas. Não era o dia para sua prova final, nem mesmo bimestral.

Pogba marca de cabeça o segundo gol da França.
Pogba marca de cabeça o segundo gol da França.Petr David Josek (AP)

O técnico francês manteve Griezmann onde ele gosta, como âncora entre Giroud e os dois volantes. Com visão panorâmica, aproveita. E também a França, que é outra, uma segunda versão. Na de Pogba há alguma coisa do velho formato alemão, em que cada jogador tinha superpoderes. Não é pouca coisa, claro. Não há ninguém por perto com seu assombroso esplendor físico, e sim alguns muito mais acertados. É jovem, e se tivesse a cabeça no lugar poderia estar no topo de nossa época.

À estupenda cabeceada de Pogba se seguiu um terceiro gol que fez a Islândia se questionar. Como no passe de Matuidi no primeiro gol, a muitos metros de distância do destinatário, dessa vez foi o próprio Pogba que fez a ligação com Giroud. E ele deixou a bola para Griezmann, que ficou de frente para Halldorson sem ser detectado por nenhum radar islandês. 4-0 e confronto mais que liquidado antes do intervalo.

Aventura idílica

O segundo ato serviu para engrandecer ainda mais o orgulho islandês. Seus jogadores procuraram Lloris, nada de se encolher. Buscaram com todo o empenho diminuir a goleada, apesar disso deixá-los mais expostos. E conseguiram seus dois gols, para poder dizer que, pelo menos, o segundo tempo foi vencido por eles. Outro motivo para comemorar, como comemoraram o fim de sua aventura idílica, todos juntos, nas fotos até, com seus incansáveis fãs, que fazem cansar só de ouvi-los. Também para a despedida de Gudjohnsen, aquele que antes de fazer carreira no Chelsea e no Barça estreou na seleção substituindo seu pai. Nunca sonhou que encerraria assim sua carreira. Uma goleada, e todos felizes.

Enquanto brinda, e brindam os islandeses, a França vai rumo a Marselha, onde na quinta-feira a espera a Alemanha. Quase nada.

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