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Um governo em busca de aplausos na área econômica

Temer ignora possíveis perdas políticas, comemora vitórias no Congresso e pede apoio a empresários

Meirelles e Temer durante encontro com empresários.
Meirelles e Temer durante encontro com empresários.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)

Dedicadíssimo à área econômica e nem tão preocupado assim nas demais. O Governo interino de Michel Temer (PMDB) tem se empenhado neste início de gestão a se debruçar sobre as finanças na espera de colher frutos futuros. Os gestos das últimas semanas deixam essa intenção cada vez mais clara, mesmo com um possível tsunami político esperado caso se confirme a prisão da cúpula de seu partido no Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, a gestão ainda comemora três vitórias no Legislativo: as aprovações do nome de Ilan Goldfajn para presidir o Banco Central na sabatina no Senado nesta terça, do projeto que amplia até 2023 o prazo para a Desvinculação das Receitas da União aprovado na Câmara nesta quarta, e da proposta de nova meta fiscal com déficit de 170,5 bilhões de reais há duas semanas.

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Em reunião nesta quarta-feira com um grupo de quase 200 empresários, Temer insistiu que está em busca de “aplausos” por suas decisões na esfera econômica. Os primeiros elogios esperados por ele viriam, na sua concepção, caso consiga retomar as contratações por parte das empresas. “O que as pessoas querem são resultados. Se os resultados forem positivos, todos aplaudem, se negativos, todos vaiam. Nós queremos aplausos logo ali na frente, por isso que nós estamos exatamente buscando resultados para o País”, disse o presidente interino no encontro com os empresários de diversos ramos, no Palácio do Planalto. Aproveitou, inclusive, para alfinetar o Governo da sua antecessora. "O primeiro direito social é o emprego e ele só virá se houver a atuação da iniciativa privada. Confesso que essa coisa de ideologia hoje está fora de moda, o que as pessoas querem hoje é resultado”, completou.

No primeiro trimestre de 2016, o Brasil registrou a sua maior taxa de desemprego dos últimos quatro anos. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística demonstram que 11,2% da população economicamente ativa estava desempregada em abril, o que representa cerca de 11,4 milhões de pessoas, estão sem trabalho. Enquanto agradecia o gesto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ao organizar o encontro com o empresariado, Temer dizia que esperava contar com a ajuda deles na retomada do crescimento econômico. Os presentes se mostraram abertos ao pedido do mandatário interino. “Acreditamos que assegurando o crescimento, dando condição das indústrias continuarem trazendo suas fábricas ao Brasil, temos que dar suporte ao Governo, seja ele de qual partido for”, afirmou um dos empresários presentes no evento, o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde, Aurimar Pinto.

O Governo admitiu uma batalha perdida para a economia este ano, mas desenhou uma perspectiva mais otimista para o ano que vem. No mesmo encontro com o empresariado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o ano de 2016 deve terminar com o pior registro de Produto Interno Bruto (PIB) desde que ele passou a ser medido, em 1948. “Estamos vivendo a crise mais intensa da história. Vamos aguardar, mas não será surpresa se a contração deste ano for a mais intensa desde que o PIB começou a ser medido no início do século XX. Até maior do que os anos 30. É uma crise que gerou 11 milhões de desempregados [1,5 milhão perderam postos de trabalho em 12 meses encerrados no mês de abril, e outros 3,4 milhões passaram a procurar emprego para reforçar orçamento familiar] . Então, temos que reverter esse processo”, afirmou. “Quando medidas forem aprovadas, não tenho dúvidas que chegaremos nos próximos trimestres a retomar um crescimento do Brasil de uma forma e ritmo que podem surpreender”, completou o titular da Fazenda.

Mesmo abalado com a perda de dois ministros (Romero Jucá, do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência), com a quase queda de outros dois auxiliares (Henrique Alves, do Turismo, e Fábio Osório, da Advocacia-Geral) e com os pedidos de prisão contra a cúpula peemedebista (Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Jucá e o ex-presidente José Sarney), o Governo Temer diz que não será abalado. “Hoje temos o mesmo apoio que tínhamos na época da votação do impeachment. Mais de dois terços do Congresso votam com o Governo”, disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo ele, as denúncias contra seus aliados demonstram apenas que o país está com todas as instituições em pleno funcionamento, entre elas o Ministério Público Federal, que coordena as investigações.

A confiança de Temer em sua equipe é tamanha, que ele disse que, caso não esteja mais no comando do Governo, mas os seus atuais auxiliares, sim, o Brasil retomará o crescimento. “Até vou fazer uma brincadeira: se um dia eu não estiver mais, mas o governo mantiver essa equipe econômica e essa equipe governamental, o Brasil está salvo. Não tenho a menor dúvida disso”.

Na próxima semana, a gestão peemedebista será posta à prova em duas ocasiões no Congresso, na votação da proposta de emenda constitucional que limita os gastos públicos e na votação do pedido de cassação do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara. Esse segundo teste, os auxiliares de Temer dizem que não vão interferir. Mas os gestos vão em outro sentido.

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