Copa América finca raízes do futebol nos Estados Unidos
Copa de 1994 lançou uma semente que hoje dá frutos com uma jovem geração de torcedores Seleção norte-americana estreia nesta sexta no torneio contra a Colômbia, de James Rodrigues
“Neste verão as maiores superestrelas do mundo vêm aos Estados Unidos para a Copa América.” Quem diz é nada menos que Kobe Bryant em um anúncio na Fox Sports sobre o campeonato que começa na sexta-feira. “Vêm Messi, Suárez, Rodríguez, Chicharito, Sánchez...”, afirma Bryant na propaganda. Há apenas alguns anos, ninguém saberia do que a lenda da NBA estava falando.
A edição Centenário da Copa América de futebol é o campeonato futebolístico mais importante que os Estados Unidos sediam desde o Mundial de 1994. O torneio internacional mais antigo completa um século no país americano no qual certamente o futebol desperta menos interesse. Ou não? A realidade é que muitas coisas mudaram no futebol dos Estados Unidos desde aquele campeonato. Em um país onde há quatro esportes hegemônicos –futebol americano, basquete, beisebol e hóquei–, o futebol já estabeleceu as bases para ser o quinto. Naquela equipe de 1994, que chegou às oitavas de final, havia um zagueiro que se tornou conhecido por ousar com chutes de bicicleta. Marcelo Balboa lembra que os jogadores de futebol tinham que explicar a que se dedicavam. “Havia muita gente que não sabia quem éramos”, conta Balboa por telefone, de Denver, onde é comentarista esportivo. “Não acho que as pessoas tenham se dado conta até 2002”, quando a equipe nacional chegou às quartas de final na Copa da Coreia do Sul e Japão.
“A geração que nos viu jogar naquele Mundial agora tem filhos. São pessoas que já se educaram vendo futebol. Isso é fantástico”, diz Balboa. Pela primeira vez, explica o ex-jogador, há uma geração de torcedores que não só conhece futebol, como também praticou o jogo na escola, ao lado dos esportes dominantes. A cultura de futebol é mais profunda. E isso só pode crescer. “Há agora mais crianças praticando soccer que em toda a história”, diz Balboa. Pela primeira vez, de modo maciço, o futebol é algo que se vive em família.”
Os Estados Unidos são o segundo país onde mais gente joga futebol: 24,5 milhões de pessoas, segundo a FIFA, somente atrás da China (26,1 milhões) e à frente da Índia (20,5), Alemanha (16,3) e Brasil (13,2). São o segundo país com mais jogadores federados, 4,2 milhões, só ficando atrás da Alemanha (6,3). Na Copa da África do Sul, em 2010, a final foi vista por 24,3 milhões de espectadores. Na final do Brasil, em 2014, eram 26,5 milhões de espectadores nos EUA – foi a partida de futebol mais vista da história nesse país. Todos esses dados indicam um mercado em expansão para o futebol, talvez o único que resta, ao lado da China.
A consolidação do 'soccer'
Os Estados Unidos são o segundo país onde mais pessoas jogam futebol: 24,5 milhões, segundo a FIFA, só perdendo para a China (26,1) e à frente da Índia (20,5), Alemanha (16,3) e Brasil (13,2). Além disso, são o segundo país com mais jogadores federados, 4,2 milhões, só atrás da Alemanha (6,3).
A final do Brasil 2014 foi acompanhada por 26,5 milhões de espectadores – a partida de futebol mais vista da história desse país–, um crescimento exponencial em comparação com os 24,3 milhões de norte-americanos que viram a final da África do Sul 2010.
A televisão norte-americana é a que oferece mais horas de futebol ao vivo do mundo, segundo um relatório publicado pela The Economist.
Em algumas pesquisas o futebol já aparece como o quarto esporte mais popular na televisão, à frente do hóquei, das corridas de carros, do tênis e do golfe.
Em um tradicional churrasco do Memorial Day, no mês passado, a final da Champions League do sábado entre o Real Madrid e o Atlético podia fazer parte da conversa tanto como as possibilidades do Golden State Warriors de chegar à final da NBA. A partida foi transmitida ao vivo pela Fox, com grande repercussão antes e depois. Não havia bar de esportes sem Champions nas telas. Todo torcedor de esporte nos EUA sabia que se jogava algo muito importante. “A final da Copa do Rei foi transmitida ao vivo pela ESPN”, explica Andy Markovits, cientista político da Universidade de Michigan e estudioso do esporte. “Há cinco anos, nenhum de meus alunos saberia o que era.” Da mesma forma, “há cinco anos ninguém saberia quem é Mourinho” e agora a notícia de sua contratação pelo Manchester United é uma entre tantas nos programas esportivos.
A equipe feminina
Alfonso Mondelo, diretor esportivo da Major League Soccer (MLS), calcula que entre 10 e 15 milhões de crianças no país praticam o futebol. São, além disso, filhos de “pais jovens que também jogaram futebol”. “Hoje, de 40 anos para baixo todo mundo jogou futebol neste país”, afirma Mondelo. A liga norte-americana tem também duas décadas e está entrando em sua segunda geração de torcedores. Os Estados Unidos estão construindo sua própria tradição de ver futebol em família. Os fundamentos já estão assentados.
Além do mais, há a seleção. Os norte-americanos podem viver a torcida coletiva pelo esporte de uma forma que o futebol americano e o beisebol não permitem. Por isso é fundamental para a arrancada definitiva do apego ao futebol em grande escala não só fazer um bom papel nesta Copa América, como também a classificação do país para o Mundial da Rússia em 2018. E também que os homens comecem a despertar tanto como a equipe feminina, que se transformou nestas duas décadas na melhor do mundo, com vitórias na Copa e nos Jogos Olímpicos.
Como acontecimento, a Copa América (de 3 a 26 de junho) tem o problema de coincidir com a Eurocopa (de 10 de junho a 10 de julho), na França. A luta pela audiência norte-americana está armada. Alfonso Mondelo afirma que a Copa América vai ser o evento esportivo mais importante do próximo verão nos Estados Unidos, à frente das corridas da Nascar, a temporada de beisebol e o US Open. Em algumas pesquisas o futebol aparece já como o quarto esporte mais popular na televisão, ultrapassando o hóquei, as corridas de carros, o tênis e o golfe.
“O 'soccer' mudou de verdade nos Estados Unidos”, afirma o professor Markovits. “Tudo isto não teria acontecido se não fosse aquela Copa e sem o sucesso das mulheres. Isto levou décadas e agora está decolando. Não acredito que seja na minha vida, mas em algum momento os Estados Unidos ganharão uma Copa.” A seleção norte-americana estreia nesta sexta-feira contra a Colômbia.
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