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Sarney, o terceiro exposto por Sérgio Machado em planos contra a Lava Jato

Ex-presidente demonstra receio de que ex-presidente da Transpetro feche delação, revela 'Folha'

Rodolfo Borges

O ex-presidente da República José Sarney deixou o posto de senador em dezembro de 2014, mas sua influência política parece permanecer. É o que sugerem os registros de conversa de Sarney com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, revelados pelo jornal Folha de S.Paulo. Além de buscar auxílio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e do senador e ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB) contra a Operação Lava Jato, Machado também pediu ajuda de Sarney para fugir do juiz Sérgio Moro. A exposição de conversas do trio Renan, Jucá e Sarney demonstra que Machado não hesitou em seu gravador contra seu círculo mais íntimo na cúpula do PMDB como trunfo para negociar sua colaboração com a Justiça.

Sarney com Temer na cerimônia de posse de Marcelo Calero no Ministério da Cultura, nesta terça-feira.
Sarney com Temer na cerimônia de posse de Marcelo Calero no Ministério da Cultura, nesta terça-feira. Eraldo Peres (AP)

Nos áudios de Sarney revelados por reportagem da Folha de S.Paulo, o ex-presidente diz que o presidente interino Michel Temer teve de negociar "certas condições" com a oposição para poder assumir. "Nem Michel eles queriam", diz Sarney. Durante as conversas travadas em março, o ex-presidente diz ainda que não existia possibilidade de uma "solução convencional" para a crise, que não havia mais saída para a presidenta afastada Dilma Rousseff e que "o Lula acabou, o Lula coitado deve estar em numa depressão".

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Sarney diz ainda que a "Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100" ao se referir a delações premiadas e menciona a presidenta licenciada Dilma Rousseff para dizer que "o único em que ela está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]". 

Além das análises políticas, o diálogo trata de estratégias para livrar Machado de Sérgio Moro. "Nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada", diz Sarney. Confirmando o receio do ex-presidente, Machado fechou um acordo de delação premiada nesta terça-feira com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Na conversa revelada nesta quarta-feira, Sarney destaca a necessidade de envolver poucos atores na tentativa de proteger Sérgio Machado e refuta a ideia de reuniões com mais de duas pessoas. O ex-presidente demonstra seu receio de que o caso de Machado fosse parar nas mãos de Moro. "O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]", diz o ex-presidente, que chegou a participar de reuniões com o ex-presidente Lula no ano passado na tentativa de fortalecer o Governo Dilma Rousseff.

Em nota à Folha de S.Paulo, Sarney disse ter uma relação de amizade com Sérgio Machado, construída na época em que ambos eram senadores. "As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, expressei sempre minha solidariedade na esperança de superar as acusações que enfrenta", diz o ex-presidente. Ele diz ainda que lamenta que "conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar".

O diálogo com Sarney é o menos revelador dos áudios de Machado divulgados até agora, mas estende o desconforto causado pelo caso ao Governo Michel Temer. Além de derrubar Romero Jucá do Planejamento, as gravações que estão em posse da PGR expuseram o receio da classe política com o dispositivo da delação premiada, base e grande motivo de sucesso da Operação Lava Jato. A má notícia para o Governo Temer, que não precisa de ainda mais distúrbios políticos, é que as gravações vazadas nesta semana seriam apenas um pequeno pedaço do material que Machado entregou à PGR em seu acordo de colaboração.

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