Por que o dólar não caiu com Temer?
O mercado financeiro opera sem clima de euforia após afastamento de Dilma Rousseff. O otimismo dos investidores com mudança de Governo já tinha sido absorvido
Desde as 11 horas o vice-presidente Michel Temer se tornou oficialmente o presidente interino do Brasil, depois que a presidenta Dilma Rousseff foi afastada por até 180 dias pelo Senado. Muita gente chegou a acreditar que a notícia da mudança de poder trouxesse uma forte queda do dólar. Em tom irônico no Twitter, por exemplo, a hashtag #R$ 1,00 se tornou um dos temas mais comentados, com usuários questionando por que o dólar não estava caindo após a decisão do Senado de afastar a presidente. No entanto, a verdade é que o mercado financeiro opera sem clima de euforia nesta quinta-feira. O dólar chegou a cair no começo do dia, mas inverteu a trajetória depois que o Banco Central (BC) interveio para segurar a desvalorização. Às 12h09, moeda norte-americana subia 1,41%, cotada a 3,4837 reais na venda.
Depois, o dólar continuou subindo sob influência da queda do preço do petróleo que reflete na depreciação das moedas de países emergentes, como o Brasil.
"Muitas pessoas pensavam que hoje teríamos um tombo no valor do dólar e uma forte alta na bolsa, mas o mercado já vinha antecipando, desde fevereiro, essa mudança de Governo. O otimismo dos investidores já tinha sido absorvido", explica a economista Camila Abdelmalack da Capital Markets. Só neste ano, a bolsa subiu 40% em dólares e o real foi a moeda que mais se apreciou (14,86%).
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, concorda. A grande questão na opinião do especialista é como será precificada a chegada do novo presidente interino Michel Temer. "Ainda não está totalmente claro como será a gestão Temer. O que fizeram até agora é colocar as palavras na boca dele. Só saberemos isso ao longo dos próximos dias". O nome de Henrique Meirelles, ex-presidente do BC dos dois Governos de Lula, para a pasta da Fazenda já foi confirmado para deleite do mercado. No entanto, além dos nomes fortes os agentes financeiros querem conhecer o novo plano econômico do país que deve ser anunciado nesta sexta-feira.
Perfeito acredita que, nas próximas semanas, a relação do mercado com o presidente interino será de lua de mel, o que pode gerar uma depreciação do dólar, mas que tudo dependerá das reais sinalizações de Temer. A agência de classificação de risco Moody"s também afirmou, nesta quinta-feira, que a votação no Senado que levou ao afastamento de Dilma Rousseff não irá erradicar a incerteza política no país.
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