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“Não se discute romper com Governo que nem existe mais”, diz líder do PMDB no Senado

Frase de senador Eunício Oliveira às vésperas de convenção do partido reflete escalada da crise

Dilma durante entrevista nesta sexta, em Brasília.
Dilma durante entrevista nesta sexta, em Brasília.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

O casamento acabou, mas uma das partes ainda não percebeu e ainda luta por uma última chance de reconciliação. Essa pode ser a síntese do atual momento do Governo Dilma Rousseff (PT) com sua base no Congresso Nacional. Uma das senhas para o fim da relação foi dada nesta sexta-feira pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, até então fiel aliado de Rousseff. “Não temos de discutir rompimento com um Governo que nem existe mais. Temos de discutir como ajudar o Brasil a sair da crise”, respondeu Oliveira ao EL PAÍS ao ser questionado se seu partido, nominalmente o maior aliado do Governo, debateria na convenção nacional deste sábado um desembarque da gestão federal.

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Filiado à mesma legenda há 40 anos, o senador diz que o PMDB, uma sigla dividida e com alas de oposição a Rousseff, não poderia abandonar de vez o Planalto neste momento para não parecer golpista, mas que não tem constrangimento em dizer que não vê a presidenta concluindo seu mandato em 2018. “O Brasil está derretendo em nossas mãos. Corremos o risco de perder todos os avanços das últimas décadas, mas nós, do PMDB, não podemos deixar o Governo para não parecer golpistas. Não é a hora de fazermos movimentos bruscos, mesmo que eu ache difícil esse Governo se arrastar por mais três anos”, analisou Oliveira.

Na última semana não foi apenas o PMDB que discutiu o abandono da base governista. O PP, o PSD e o PR, que ainda possuem relevantes cargos na gestão petista, têm se reunido com representantes da oposição, como o PSDB e o DEM, exatamente para buscar fórmulas para retirar a presidenta de sua função. Caso se concretize esse desembarque, o clima de fim de festa no Palácio do Planalto só tende a aumentar. Era com os mais moderados, os cabeças brancas do Senado que Rousseff contava para barrar o impeachment, caso ele seja aceito pela Câmara dos Deputados.

O convite para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir um ministério tinha a função de evitar essa debandada. Agora, porém, membros governistas admitem que o momento de o líder petista ter um assento na Esplanada dos Ministérios não é dos mais favoráveis. O Ministério Público de São Paulo pediu, na última quinta-feira, a prisão do ex-presidente por ocultação de patrimônio. Por mais que os argumentos da Promotoria sejam frágeis, o próprio Lula não quer passar o recibo de culpa por estar assumindo um cargo em que tenha o foro privilegiado de só ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

O Brasil está derretendo em nossas mãos. Corremos o risco de perder todos os avanços das últimas décadas, mas nós, do PMDB, não podemos deixar o Governo para não parecer golpistas. Não é a hora de fazermos movimentos bruscos

Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado

A presidenta contudo, despistou se seu antecessor fará parte de seu primeiro escalão: “teria um grande orgulho de ter ele no meu governo. Agora, não vou discutir aqui com vocês se o presidente vai ser ou não vai ser, como é que vai ser, como é que não vai ser”.

Enquanto seus aliados se movimentam nos bastidores na véspera de uma série de protestos contra o PT pelo país no domingo, Rousseff minimiza a falta de apoio e trata de responder a parte da oposição que pede sua renúncia, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) derrotado por ela na eleição de 2014. Nesta sexta-feira, no Palácio do Planalto, ela concedeu uma rápida entrevista coletiva, na qual demonstrou tranquilidade e firmeza nas respostas, e reafirmou que não pretende deixar a presidência da República. “A renúncia é um ato voluntário. Aqueles que querem a renúncia estão, ao propô-la, reconhecendo que não há uma base real para pedir a minha saída desse cargo.”

Chamando alguns dos jornalistas pelo nome, outros de “meu querido” ou “minha filha”, a presidenta só demonstrou certa irritação quando questionada se estava resignada de que seu mandato poderia não chegar ao fim. “Vocês acham que eu tenho cara de estar resignada? Que eu tenho gênio de estar resignada?”, perguntou antes de completar: “Não tenho, não tenho essa atitude diante da vida e acredito que é por isso que eu represento o povo brasileiro, que também não é um povo resignado”. Quando encerrou sua entrevista coletiva, Rousseff voltou a dizer que não abandonaria o cargo. “Pelo menos testemunhem que eu não tenho cara de quem vai renunciar”.

Ficando ou não no cargo, outros sinais indicam a fragilidade dos acordos da presidenta no Legislativo. A bancada do PMDB ligada ao até então governista Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Senado, declarou apoio a uma proposta de emenda constitucional do oposicionista Aloysio Nunes (PSDB-SP) que muda o regime de Governo do país de presidencialismo para parlamentarismo. “Quer sinal mais claro do que esse? Se até o Renan está dizendo que do jeito que está não dá, quem vai dizer o contrário?”, questionou o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) um dos parlamentares da ala rebelde do partido que insiste no rompimento com o PT.

Por mais que não consiga, ou não queira, enxergar os sinais de que a relação vai de mal a pior, a gestão Rousseff decidiu monitorar todos os movimentos políticos desse fim de semana. No sábado, o grupo de peemedebistas que ainda a apoia ficou responsável por passar informes frequentes sobre a convenção do partido que pode resultar na declaração de independência do PMDB em relação ao Governo. No domingo, ministros e seus assessores serão os responsáveis por avaliar em diferentes Estados o impacto das manifestações que pedem o impeachment. Aos manifestantes, Rousseff dirigiu algumas palavras: “Faço um grande apelo às pessoas para que sejam capazes de manifestar de forma pacífica”.

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